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Indicadores da Indústria e da Construção: O pior ficou para trás?

A CNI – Confederação Nacional da Indústria – divulga mensalmente o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI). Referente ao mês de junho de 2020, os números apontavam crescimento em 29 dos 30 setores pesquisados. O setor que apresentou queda foi o de produtos de limpeza, perfumaria e higiene, que apresentaram 43,9 pontos, contra 45,1 pontos em maio (em junho de 2019 eram 60,1 pontos). Lembrando que o índice varia de 0 a 100 pontos; que acima de 50 pontos representa confiança e, quando próximo dos 100, maior a confiança, e quando fica abaixo de 50 pontos, representa a falta de confiança; quanto mais baixo, maior a falta de confiança.

Os setores que apresentaram maior pontuação – confiança – em junho foram os seguintes:

  1. Produtos farmoquímicos e farmacêuticos, com 55,1 pontos, contra 41,5 pontos em maio.
  2. Indústria extrativa, com 50,8 pontos.
  3. Biocombustíveis, com 46,8 pontos.
  4. Produtos de madeira (escrevemos sobre Eucatex e Duratex, as análises estão na área de membros do site), com 48,2 pontos.
  5. Outros equipamentos de transporte, com 47,9 pontos.

Já os setores na ponta de baixo da lista, que apresentaram menor confiança, foram:

  1. Couros e artefatos de couro, com 31,7 pontos.
  2. Confecção de artigos do vestuário e acessórios, com 34,4 pontos.
  3. Calçados e suas partes, com 35,5 pontos.
  4. Impressão e reprodução de gravações, com 37,5 pontos.
  5. Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e outros, com 39,2 pontos.

Em relação ao índice por segmento industrial, em maio era de 34,7 pontos e em junho esse número subiu para 41,2 pontos; em junho de 2019 o índice era de 56,9 pontos. Em junho de 2020 os números apresentados foram os seguintes:

  1. Indústria da Construção, com 42,6 pontos, contra 37,6 em maio e 57,6 em junho de 2019.
  • Construção de edifícios, 37,3 pontos, contra 34,8 pontos em maio de 2020.
  • Obras de infraestrutura, 39 pontos, contra 34,9 pontos em maio de 2020.
  • Serviços especializados para a construção, 36,5 pontos, contra 33,1 pontos em maio de 2020.

Fonte: relatório da sondagem da indústria de construção de junho/2020 – Disponível no site da CNI

Ainda falando sobre construção, o relatório de junho traz dados em relação a compras de matéria-prima e de número de empregados. Ambos cresceram em relação a maio: 44,2 pontos na compra de matéria-prima, contra 35,3 pontos em maio, e no número de empregados, 43,7 pontos, contra 38 pontos em maio de 2020.

Já as expectativas do setor referente às condições atuais em relação aos seis meses passados, quanto às expectativas para o próximo semestre, a CNI divulgou os seguintes números:

Fonte: relatório da sondagem da indústria de construção de junho/2020 – Disponível no site da CNI

  1. Indústria Extrativa, com 41,2 pontos, contra 39 em maio e 54,5 em junho de 2019.
  • Extração de minerais não metálicos, com índice de 49,8 pontos, contra 42,3 pontos em maio de 2020.
  1. Indústria de Transformação, 41,5 pontos, contra 36,5 em maio e 54,3 em junho de 2019.
  • Na indústria de transformação, destaque para os produtos alimentícios, com 47,3 pontos, contra 41,3 pontos em maio, mas ainda abaixo dos 50 pontos que indicaria confiança.

E em julho a CNI divulgou que o Índice de Confiança do Empresário Industrial subiu dos 41,2 pontos em junho para 47,6 pontos em julho, sendo a terceira alta seguida após a pior pontuação, que foi no mês de abril, lembrando que em julho de 2019 a pontuação foi de 57,1 pontos.

Fonte: relatório do índice de confiança do empresário industrial da CNI – Disponível no site da CNI

Porém, o índice que mede a confiança das condições atuais (situação correntes), apesar de ter aumentado de 27,7 pontos em junho para 34,5 pontos em julho, ainda está bem abaixo dos 50 pontos que indicam retomada da confiança. Mas a confederação também mostra que o índice das expectativas dos empresários do setor para o próximo semestre é mais otimista, foi de 54,1 pontos, o que indicaria otimismo (acima dos 50 pontos), um crescimento em relação ao mês anterior, onde a pesquisa apontou 47,9 pontos.

Outro dado importante que a pesquisa traz são as expectativas para o próximo semestre com relação à economia brasileira: em julho de 2020 essa expectativa é de 48,5 pontos, contra 42,2 pontos em junho e de 59,9 pontos em julho de 2019, e esse número é bem diferente do índice apurado quando é relacionado com as condições atuais em comparação com o último semestre, onde a pontuação apurada foi de 27,9 pontos em julho, 21 em junho e 47 pontos em julho de 2019.

Obs.: para os dados do mês de julho, a CNI informa que o período de coleta foi de 1º a 7 de julho de 2020; já para os dados de junho e maio, o mês completo.

Eu já falei muitas vezes sobre a necessidade de analisar a informação sobre utilização da capacidade instalada nos cases de indústria. É essencial conhecer esse número e saber o que ele representa. Segundo a CNI, a utilização da capacidade instalada em março de 2020 foi de 58%; em abril, de 49%; e em maio de 55%. Obviamente que isso é apenas um resultado com base na pesquisa da entidade, mas ainda assim é importante para perceber o cenário, entender melhor como está a realidade e então basear as expectativas em cenários racionais.

Para relembrar, negócios e suas capacidades não são calculados com base em achismos, eles são baseados em projeções, e essas devem estar de acordo com as políticas de estoque; essas, por sua vez, estão intimamente ligadas a dois fatores essenciais: consumo (que está ligado à renda/concorrência/tipo de demanda/nível de necessidade) e questões geográficas (que envolvem infra estrutura/preço do frete/disponibilidade, ou seja, distribuição), que determinam o ponto de estoque e que estão relacionadas com a malha logística e eficiência do negócio, ou seja, uma cadeia integrada que precisa de demanda para ser acionada, ou então acaba gerando custos elevados.

Quando o negócio está com capacidade ociosa acima da média histórica e a demanda volta, ainda que lentamente, a empresa começa a receber mais pedidos e, com isso, aumenta o volume produzido ou diminui o estoque (que aumenta o faturamento) e ativando a produção para repor os pontos de estoque, o que afeta o custo e o capital de giro e, consequentemente, com esse movimento, diminui a capacidade ociosa. Porém, estamos falando de repor as perdas com o que parou durante a pandemia, e não em novos investimentos e/ou grandes evoluções na produção. Outro fator importante é que, todas as previsões de demanda, que até então estavam dando o tom de programação de produção (logo da política de compras da indústria), quanto o gerenciamento dos estoques do varejo e do seu giro, já não são mais realistas no pós-pandemia. Logo, o processo de voltar a abastecer os estoques, seja de matéria-prima e insumos ou de produtos acabados, não terá mais o histórico de curto prazo como parâmetro, afetando o ponto de estoque em um primeiro momento, e com isso a retomada da cadeia fica mais demorada.

Questões como: temos produtos substitutos para a produção, ou no caso do varejo, fornecedores diferentes suficientes para repor, caso a demanda aumente em uma velocidade maior que a produção de alguns bens, evitando assim escassez de oferta que gera inúmeros problemas? O estoque ficará desorganizado em relação às novas projeções de demanda e os custos serão ainda maiores após a pandemia? Existe possibilidade de repasse de preços?

Essas e inúmeras outras questões ainda continuam dando o tom no pós-pandemia, e os índices de confiança melhoram a partir do momento que existe maior clareza da regularização da demanda. E lembre-se ao analisar esse fator que o tamanho não é o que define equilíbrio, mas como a empresa faz a gestão da estrutura que existe, seja ela gigante ou mediana.

Daniel Nigri com apoio de Patricia Rossari

O analista Daniel Nigri CNPI1810 é o responsável pelas informações perante a ICVM 598

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