O senhor mercado e sua postura de anfitrião.
O Senhor Mercado é um anfitrião e tanto, ele guia o investidor na jornada do mercado financeiro, acompanhe a lógica:
- Otimismo: entre a casa é sua, pode usar tudo que quiser
- Confiança: você se sente em casa, e usa sem moderação
- Êxtase: eu quero me mudar para cá, aqui é lindo, nada de mal acontece no país das maravilhas.
- Atenção, uma correção: tudo bem se eu não puder abrir a geladeira quando quiser, eu aguento isso, ainda me sinto em casa
- Apreensão, correção mais forte: preciso mesmo contribuir com o dinheiro para o café e o pão francês? Tudo bem, afinal é minha casa eles disseram.
- Desespero, a correção continua pelo terceiro dia: pagar o jantar também? Meu e dos outros convidados? Tá bom, eu consigo afinal estou em casa.
- Socorro, acabou o dinheiro e continua caindo: como assim? Preciso pagar o almoço? Não era grátis?
- Nunca mais renda variável, vou vender tudo: não quero mais morar aqui, não é minha casa.
E aqui é o Sr. Mercado te lembrando: sinta-se em casa, aproveite, use e aprecie o potencial de geração de riqueza, mas não esqueça que a casa é minha, e aqui quem manda sou eu, não as suas vontades e impaciências de investidor.
Parece ser o fim, mas então a notícia no jornal aparece depois de algum tempo e esse mesmo investidor ressurge das cinzas. Ele vê o mercado recuperando o índice subindo, e com sua infinita certeza diz que dessa vez será diferente.
Resolve então visitar novamente o senhor mercado:
- Acho que exagerei, mas aprendi a lição: voltei para o mercado e estou me sentindo em casa novamente, já chego pagando o café e o jantar.
- Eu cometi um engano vendendo tudo: vou pagar o café, jantar e o almoço, definitivamente a casa é minha.
- O que foi que eu fiz? Senhor mercado, como assim a casa não é minha, o almoço teve seu preço reajustado? Minha perda dessa vez é maior?
- Chega, eu vou embora dessa casa, dessa vez para sempre, chega de pagar almoços cada vez mais caros
E mais uma vez o mercado lembra o investidor impaciente que acha bobagem estudar os negócios antes de investir, que a casa não é dele e que esquecer disso geralmente resulta em prejuízos.
Mas o Senhor mercado é muito charmoso, ele é relatado nos momentos de otimismo como um grande negócio para qualquer um disposto a comprar uma ação, qualquer ação, afinal a notícia é sempre a pontuação do índice, essa mesma lógica vale para aqueles momentos de desespero absoluto do S.r. mercado no curto prazo, ele então se transforma em um bicho papão, deixa de ser charmoso e atraente.
Mas o investidor tem uma coisa que demora para morrer, a esperança.
Ele acredita que pode ser um dos donos da casa, se enfrentar o senhor mercado. E então:
- Olá Senhor Mercado, como vai? Posso entrar na sua casa?
- Tudo bem, eu pago o café, mas dessa vez não vou esquecer que sou visita.
- Pensando bem, acho que eu gostaria de morar aqui novamente, e nesse momento o investidor coloca o pé na mesa e se sente em casa de novo, alguns inclusive tiram o sapato e pedem uma cerveja.
E mais uma vez, quando estão confortáveis e acreditando que estão em casa e dominando tudo o Senhor mercado chega e cobra o almoço, o café, jantar, a diária, o serviço de quarto, a gorjeta e o estacionamento.
E então o investidor impaciente que não havia entendido até então que a renda variável não funciona como ele deseja, que ele pode comprar uma ação e a cotação cair em seguida, e isso não significa “azar”, percebe que ele pode e deve visitar sempre o mercado e seu anfitrião, o Senhor Mercado, ele pode se sentir em casa, mas nunca deve esquecer que não está.
E relembrando: O preço/cotação de um ativo é instável, oscila pelas operações entre vendedores e compradores, um querendo vender o mais “caro” possível e o outro tentando comprar o mais “barato” possível. Ou seja, oscila com base no comportamento da massa, a operação só ocorre quando um dos dois está disposto, por motivos diferentes, a ceder.