Imaginem a seguinte situação:
Você decide comprar um ativo sem estudar o negócio, o mercado está otimista devido a uma alta substancial na cotação dos últimos meses.
Então o resultado do negócio é divulgado.
No release o discurso é focado na parte boa, que tudo será resolvido, embora a análise dos números indique que existem muitas dificuldades pela frente.
Mas se está escrito que a gestão acredita, que a concorrência não é problema, que o negócio não será afetado, que a empresa é “diferente” de tudo que existe ou já existiu você fica tranquilo, logo decide acreditar.
A ilusão da renda variável como um negócio fácil e sem risco foi administrado com sucesso, e um alívio toma conta do investidor. Afinal existe esperança de que o negócio irá melhorar, a ilusão de que o sucesso é a única possibilidade, logo nada mais “lógico” que usar todo seu dinheiro para mudar de vida e ficar milionário com esse negócio absolutamente fora dos parâmetros de tão fantástico.
E mesmo com os números indicando deterioração, você opta pela compra.
Mais um resultado é divulgado e os números continuam mostrando recuo do volume/preço/receita/margem, concorrência aumenta, regulamentação muda fragilizando as barreiras, mas o release continua com um discurso promissor: tudo vai dar certo!
E a ilusão continua sendo utilizada.
E você sabe o que ocorre quando existe exagero nessa estratégia de acreditar sem checar os números?
A carteira de investimentos sofre com a realidade, seu patrimônio oscila, existe uma forte tendência a perder o controle e aumentar os prejuízos.
E então mais um resultado é divulgado, mas nesse ponto o Mercado cansa de “acreditar” nas projeções e promessas de turnaround e decide então que a precificação daquele ativo foi exagerada, que não irá se realizar da maneira otimista ou pelo menos não da forma utópica e perfeita que o mercado idealizou anteriormente.
Nesse momento existe queda na cotação, afinal até o mercado tem limites quando se trata de negócios promessa.
Caso você trabalhe ou tem uma empresa, sabe que no longo prazo a maioria dos negócios só prospera e continua existindo se houver lucro.
E agora?
Você lê o release e o discurso ainda é bonito, mas os números continuam deteriorando e as estratégias de recuperação não estão surtindo efeito, o mercado está mudando e a demanda exigindo novos produtos e serviços.
Decide então que é exagero do mercado, e toma mais uma dose de ilusão, na verdade decide que é importante tomar uma a cada R$ 1,00 de queda na cotação do ativo, vamos fazer preço médio, tentar “tirar o prejuízo”.
E a carteira fica cada vez mais ilusória, parecendo um romance de conto de fadas. Lindo na teoria, mas inacessível na prática.
Mais um resultado é divulgado e você percebe que a pílula da ilusão está perdendo o efeito. Nesse momento o cenário é o seguinte:
A carteira de investimentos está concentrada em poucos ativos que te deixariam milionário com o magnifico turnaround, peso desproporcional nos ativos em questão. Isso desequilibrou a carteira e está gerando um sintoma típico da perda de ilusão: estresse por perceber que existe uma grande possibilidade de perder dinheiro.
E nenhuma ilusão funciona nessa fase, pois aqui entra em cena o desespero, e este costuma ser mais forte que a ilusão.
Importante lembrar que todos erramos em renda variável, a diferença é que alguns reconhecem a tempo e limitam a perda, outros preferem continuar na ilusão de que dessa vez será diferente.
“Perder uma ilusão torna-nos mais sábios do que encontrar uma verdade”
Veja as possibilidades de planos