Lojas Renner – Encantamento e Superação
Análise de Varejo – Parte III
Lojas Renner – Continuando nossa jornada sobre análise de varejo em empresas listadas na bolsa de valores, nosso ativo de hoje é uma marca que já viveu diferentes cenários macros econômicos e soube se reinventar. É a maior varejista de moda do Brasil. Uma empresa que pode ser considerada exemplo de gestão participativa e colaborativa, entende que precisa se adaptar as mudanças de gerações consumidoras e focar em produtividade para alcançar resultados. A primeira corporação brasileira com 100% das ações negociadas em bolsa, ou seja, com capital pulverizado onde não existe um controlador majoritário.
Mesbla e Mappin
Os mais “vividos” devem lembrar-se da Mesbla e do Mappin, duas grandes marcas que foram durante anos a representação de varejo nos grandes centros urbanos, e devem também se lembrar do que ocorreu com elas. A inflação deteriorou a relação que já era frágil com os fornecedores, desvalorização da moeda, taxa de juros. Novas empresas como Ponto Frio e Casas Bahia inovaram. Os antigos Acessos centrais que eram o grande diferencial foram aos poucos substituídos pelos shoppings e hipermercados. Vale lembrar que a marca de ambos continua viva, ou seja, mais uma prova de que a ingerência e falhas em acompanhar as mudanças de mercado destroem qualquer negócio.
A Renner foi fundada em 1965 pelo empresário gaúcho Antonio Jacob Renner. Neste período, ela era, assim como a Mesbla e o Mappin, uma loja de departamento que vendia de perfumes a móveis e eletrodomésticos, um mix de produtos que agradava o consumidor na década de 70, mas que afundou na década de 80. Na época, a empresa já estava listada na bolsa, mas era marca dominante apenas no Rio Grande do Sul.
Investimento em Modernização
No final da década de 90, a empresa foi vendida para o grupo americano JCPenney, aqui o detalhe mais importante a ser destacado, além obviamente do dinheiro que foi aplicado para a modernização e alcance além dos estados do sul, o plano de crescimento nacional, foi a permanência daquele que é até hoje um dos grandes responsáveis pelo sucesso desse negócio, José Galló CEO da empresa.
Esse plano de crescimento foi uma estratégia inovadora na época e considerada por muitos um “tiro no pé” afinal as lojas de rua estavam falidas e a informalidade atrapalhava os negócios nos grandes centros, mas a Renner já entendia na época que não basta apenas estar seguro para manter um negócio vivo, pelo contrário, eles entenderam que ficar apenas no sul seria a decadência e que é preciso estar preparado para enfrentar todos os tipos de cenário. Isso só é possível com uma estrutura que permita o crescimento constante e robusto.
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Para analisar varejo de moda é preciso prestar atenção a essas estratégias, isso porque em momentos onde a economia desaquece as pessoas não deixam de comprar comida, mas compram menos roupas. Ou seja, empresas que tem maior participação de mercado e continuam aumentando esse alcance seja no mesmo público ou públicos diferentes, estarão mais preparadas para as inevitáveis crises econômicas.
E o mais interessante nessa estratégia de crescimento é que ocorreu através da absorção dos pontos que antes eram da Mesbla e do Mappin, as massas falidas, e hoje a empresa possui mais ponto no sudeste do que no sul.
A Empresa Hoje
Hoje a empresa atua em todas as regiões do país com as Lojas Renner, loja de departamentos; da Camicado, que foi adquirida em 2011, segundo CEO para atender um público que adquiria mercadoria de casa e decoração nas lojas Renner antigamente, e é a maior varejista nacional no segmento; da Youcom, especializada em moda jovem, e da Realize CFI, que apoia o negócio de toda a rede, através da oferta e gestão de produtos financeiros.
Depois dessa introdução ficam mais claros os motivos que fazem as ações do ativo estarem evoluindo desde os anos 90, mas não é apenas uma gestão mercadológica adequada a responsável pelo sucesso dessa rede de varejo, é preciso destacar a importância dos investimentos contínuos e estratégicos em logística e operação.
E quando falamos em logística de varejo é preciso entender a importância dessa operação na composição das margens do negócio, seja em relação ao posicionamento dos centros de distribuição para um atendimento mais eficiente e eficaz das lojas, ou ao próprio modelo de reposição inteligente que organiza a distribuição com base nos produtos que são mais vendidos e não um mix pré pronto que era distribuído antigamente em araras padrão para todas as lojas, sem levar em consideração o padrão do consumidor de cada loja em cada região específica. O método push pull.
Isso é importante por quê?
Por inúmeros fatores, sendo os principais:
- Aumento das margens (aquelas que calculamos nas contas de resultado, lá na DRE)
- Evita que a loja perca rentabilidade ao deixar de vender produtos, pois a mercadoria mais procurada vende mais rápido, e como tudo era recebido padronizado, recebiam produtos que não eram vendidos ocupando espaço na distribuição e na loja, encalhando peças que posteriormente seriam postas em promoções para que sejam finalmente vendidas.
- Público gosta de ver o que quer comprar, então adequar o mix ao público da loja em questão aumenta a venda.
- Tem uma rede de importação com operações ágeis que permitem uma organização em menor tempo e menor custo
- Desenvolve uma relação com os fornecedores nacionais, que é muito importante em épocas onde a moeda apresenta significativa diferença nas importações. Mantém um conselho de fornecedores (mais relevantes) e de executivos da rede para aprimorar o relacionamento, além do IDGF, que é o índice de Desenvolvimento Global dos Fornecedores, que monitora as operações logísticas, comercial, qualidade, financeira e de responsabilidade social.
A Malha Logística
Ela investe constantemente em reconfiguração da malha logística para obter maior agilidade em atender todas as lojas, para isso, inaugurou um CD cross docking em São Paulo, essencial para essa atividade e centralizou as operações logísticas da Youcom no Cd de Santa Catarina (isso é impactante em custos de acordo com a localização das lojas, além da possibilidade de compartilhamento da carga com a distribuição efetuada para as lojas Renner, o que reduz substancialmente custos, também existe a questão de benefícios fiscais, novamente: aparece nas contas de resultado na DRE).
A empresa possui um escritório na china há mais de cinco anos, prática comum em todas as redes, porém vale lembrar que antigamente as empresas de lã e de couro nacionais eram responsáveis por suprir esse mercado interno, hoje essa mercadoria vem de fora porque a maioria dessas empresas nacionais que também exportavam perdeu mercado devido à concorrência acirrada e falta de incentivos. Hoje metade do mix de produtos que a empresa importa é de roupas de inverno.
Lojas Renner e Seus Resultados
Em 2017 ocorreu à inauguração das primeiras lojas fora do Brasil (três), no Uruguai, e aqui os resultados continuam em ascensão:
- Receita Líquida de Mercadorias: R$ 6,6 bilhões. Um crescimento de 15,4% e as vendas nas mesmas lojas com um crescimento de 9,2%
- Margem bruta da operação de varejo 55,7%
- Ebitda Total: 22,4%
- Lucro Líquido: R$ 732,7 milhões, crescimento de 17,2%
Ainda no ano de 2017 a LREN3 negociaram o volume médio de R$ 87,1 milhões, ficando entre os ativos mais líquidos listados na Bovespa, com uma valorização de 70,5% no ano contra 26,9% do índice, e 3.413,9% desde 2005, quando teve 100% de suas ações negociadas no mercado. Em dezembro de 2017 o valor de mercado da companhia encerrou em R$ 25,3 bilhões, hoje devido a oscilação da cotação esse valor esta em R$ 20 Bilhões.
Em 2017 foram inauguradas 38 lojas Renner, 15 Camicado e 25 Youcom. São 512 lojas em operação ao final de 2017, sendo: 330 Renner, 98 Camicado, e 84 Youcom.
Em 2018 as projeções de investimento são na ordem de R$ 620 milhões, destinados principalmente a abertura de novas lojas além do contínuo aperfeiçoamento das operações. A previsão é de 25 a 30 lojas Renner (sendo que destas, duas no Uruguai), 10 a 15 lojas da Camicado, e 20 a 25 lojas da Youcom. Até agora, agosto de 2018, 22 já foram inauguradas (9 da Renner, 3 da Camicado e 10 da Youcom).
Desempenho Segundo Trimestre de 2018
O lucro líquido foi de R$ 274,7 milhões no segundo trimestre, 41,9% superior ao resultado do mesmo período de 2017, receita líquida das vendas de mercadorias subiu 9,2%, R$ 1,780 bilhão, um ebitda ajustado total de R$ 434,2 milhões, uma alta de 13,4% em 12 meses.
Os múltiplos do negócio de Lojas Renner são atrativos considerando as expectativas de continuação do crescimento, com um P/L de 24, um P/VPA de 6, com ROE de 24% e ROIC de 39%.
Sem sustos, ela continua mostrando que é possível sobreviver a mercados adversos com estratégia e operações eficientes, é indiscutivelmente um caso de sucesso no varejo brasileiro.
Concluindo
A competitividade do mercado tem criado necessidade de flexibilização por parte das empresas, assim uma corporação deve conhecer profundamente seus processos internos e entender como e onde incorrem seus gastos a fim de eliminar perdas e atividades as quais não agregam valor ao cliente.
E você investidor precisa aprender e aperfeiçoar as decisões de comprar ou vender um ativo, para fazê-lo com segurança e consciente dos riscos, essa é uma das primeiras tarefas que qualquer investidor deve cumprir, e isso é possível a partir do momento em que seus conhecimentos sobre o assunto são suficientes para interpretar os relatórios dos analistas.
Se ainda assim tiver alguma dúvida lembre sempre que o dinheiro investido é o seu, e que um relatório pode ter várias hipóteses, mas só uma delas vai ocorrer, ou seja, se unirmos seu conhecimento técnico ao relatório do analista podemos multiplicar a chance de optarmos pela hipótese que será a realidade do ativo.
Informação é dinheiro.
Confira o case de Lojas Americanas para complementar esse artigo, e caso queira dar o próximo passo nos investimentos, torne-se Membro Gold. (TODAS as carteiras batendo o Ibovespa!)
Um abraço
Daniel Nigri
Apoio: Patrícia Rossari
O analista Daniel Nigri CNPI1810 é o responsável pelas informações perante a ICVM 598
As informações não constituem recomendação de compra ou venda de qualquer ativo