Sua carteira estava diversificada?
As incertezas contribuem para a volatilidade do mercado, e nesse cenário precisamos considerar pontos essenciais de cada setor, suas maiores forças e fraquezas, assim estaremos mais conscientes dos impactos em cada um deles. Por isso é importante entendermos as empresas nas quais investimos, saber se elas têm uma situação financeira equilibrada, geração de caixa, dívida sob controle e quem consome os produtos delas, assim saberemos como proceder nos momentos onde muitos perdem a cabeça e vendem com prejuízo bons negócios, como ocorreu nessa crise provocada pela COVID-19.
As principais perguntas feitas nesses últimos meses foram:
- As quedas de geração de valor já estão no preço do ativo?
- O negócio mostrou que sabe gerir em crises, em momentos onde é necessário mais do que o rotineiro para apurar lucro?
- O negócio se adaptou às mudanças de consumo nesse período?
- Tem projetos para continuar as expansões?
- A empresa conseguiu auferir lucro nesse ciclo (semestre)?
- Ela tem caixa ou precisou ir a mercado (captações)? Essas captações têm prazo e custos que podem ser cumpridos? Estamos falando de captações para custeio da operação?
- Em relação à demanda, ela opera por contratos? Ou existe risco de quedas mais prolongadas de receita e dificuldade em manutenção de preço?
O que vimos em grande parte dos resultados foi a queda das receitas, afinal, tivemos restrição de circulação e nem todas as empresas têm grande representatividade no e-commerce, tampouco todos os negócios funcionam como varejo. Estamos falando de demanda e oferta, e não apenas por aqui, mas correndo ao redor do mundo, mas é fato que tivemos impactos distintos de acordo com cada setor. E lembrem-se da importância da demanda: é ela que define o faturamento do negócio (juntamente com preço, que por sua vez está ligado às condições de mercado nas quais esse negócio está exposto).
E muito se tem falado sobre quais são esses novos desafios que estão enfrentando o varejo e a própria indústria que fornece o estoque para o varejo, ou aquela que fornece a matéria-prima ou os insumos para a cadeia produtiva. A gestão da cadeia de suprimentos será um grande diferencial nessa retomada, e se você lê releases e ITRs das indústrias, percebeu que a expressão “focamos na gestão dos estoques” foi comum em grande parte das divulgações. Vimos empresas antecipando abastecimento, vimos indústrias aumentando a venda para distribuidores, vimos alguns negócios com dificuldades devido aos gargalos na cadeia, substituição de insumos/produtos, outros com estratégias de custo de oportunidade em estoques, visto que parte das projeções de venda já não se cumprirão, pelo menos ao longo do ano. Pudemos ver também colocação de estoque a preços menores para suprir caixa, e como não citar os ajustes de PMP e PMR que afetaram o capital de giro – veja os cases da TGMA3 – Tegma Logística e da DTEX3 – Duratex.
Explicando melhor: um dos principais objetivos da estratégia logística é a capacidade de reduzir custos, e no setor de produção os custos do retrabalho e das perdas por falhas nos programas de produção podem ser muito significativos, e isso faz com que a margem fique pressionada. A informação da capacidade instalada x projetada, qual o custo dessa ociosidade (veja o exemplo da PTBL3 – Portobello), o capex é de manutenção ou de ampliação (aumentar produção), quais os programas de qualidade implantados nos processos, todas essas questões são importantes, afinal, isso reduz as perdas e aumenta a produtividade.
E agora vamos falar o óbvio, pois ele sempre é importante para evitar dúvidas: empresas que estejam desequilibradas financeiramente têm mais dificuldades em crise, e também os negócios que não sabem alocar de forma eficiente os escassos recursos, as que têm maior liquidez, maior mercado, conseguem atravessar essas turbulências com estratégias de reduzir os custos e planos de adaptação à nova realidade de demanda – veja o case da Paranapanema.
Falando do setor de varejo, a queda na receita já era esperada, afinal, as lojas físicas foram fechadas, os negócios que possuíam um e-commerce desenvolvido viram os percentuais dessa unidade de negócio crescerem em relação às que não têm, e essas que não têm (maioria) aproveitara para agilizar a aplicação dos projetos digitais (o que nem de longe é a forma correta de se conduzir uma estratégia, mas quando a onda vem, a gente aprende a nadar) – veja o case da HGTX3 – Hering
Porém existem varejos de produtos essenciais e não essenciais, e aqui entra a questão da renda, do desemprego, ou seja, a demanda, apesar de ser regular em muitos negócios, possui essencialidades distintas, e cada público reage de uma forma, estamos falando de demanda elástica e inelástica. Ou seja, natural que o segmento de alimentos vendesse mais (MDIA3), não apenas em relação ao maior abastecimento devido ao medo do início da pandemia (lembram-se da corrida para comprar álcool gel e papel higiênico?), mas também pelo fator óbvio de que as pessoas não param de comer, elas migram para marcas mais baratas, mas continuam comendo, não gastam mais, mas não param de gastar. O mesmo pensamento se aplica a empresas de água/saneamento e de energia.
É natural que em épocas de mudanças drásticas de comportamento exista também alteração de hábitos de consumo.
Nos bancos, o fator mais evidente é a alta de PDD. Logo, o lucro é impactado, além da medida de distribuição de apenas 25% do lucro líquido para preservação de liquidez. O que vimos foi um setor preservando a si próprio, o que para o acionista não é algo ruim, mas para a economia já é outra história.
Nas indústrias que fornecem para a cadeia automotiva houve queda significativa na demanda do mercado externo devido à paralização de plantas das montadoras, e aqui no mercado doméstico é importante dizer que esse setor é responsável por cerca de 20% do PIB industrial (automotivo), e nesse segmento, as empresas de transporte logístico também foram impactadas. Com a retomada da cadeia obviamente os estoques serão normalizados e a produção voltará, mas não à plena capacidade, visto que isso depende do aquecimento da economia e da retomada da demanda – veja os cases da LEVE3 e da MYPK3 – Maxxion.
No setor de energia, o menor impacto pela previsibilidade de receita foi nas empresas que operam transmissão. As distribuidoras são impactadas pelas quedas de demanda e inadimplência, além do que, dependendo do tipo de estratégia de descontratação de energia, podem sofrer algumas perdas.
O setor de agronegócio é um dos setores que está superando todas as projeções. A safra de soja apresentou números recordes: a de milho, com quebra na região Sul, mas mantida projeção para demais estados, a demanda na China crescendo, além de maior demanda por proteína nos mercados americanos e também da Ásia, o que fez o preço dessas commodities alcançar valores recordes, e com a desvalorização do real frente ao dólar, o resultado dos negócios foi impactado. Aqui, use os cases de produção agro e também os de logística (transporte), como RUMO3.
Vimos também muitos não recorrentes fiscais que fizeram lucro aumentar em percentuais elevados, e em alguns casos, subvenções que impactaram o lucro líquido. Ou seja, cuidado ao avaliar apenas a linha final, preste atenção à geração de valor do negócio, à geração de caixa, à capacidade de investimentos, ao gerenciamento da dívida, etc.
A ação que você compra através do home broker não á apenas uma combinação de letras e número, são negócios reais que são afetados por variáveis micro e macro, e as cotações refletem os resultados desses negócios, mas também refletem o pânico, a aversão ao risco e o otimismo de que “tudo é oportunidade” ou “tudo é turnaround”. É preciso filtro e fazer as perguntas certas, mais do que buscar as “certezas” de preço no fundo e venda no topo. É preciso análise de negócios, dos processos que geram valor e das estratégias logísticas para o gerenciamento da cadeia. Não existe o famoso “tudo errado” ou “tudo certo, impecável e inabalável”, o que existem são negócios feitos por pessoas para pessoas, que estão ligados ao fator capital de um lado, renda do outro, e a gestão desses recursos vai definir o sucesso das operações.
Daniel Nigri
Apoio: Patrícia Rossari
O analista Daniel Nigri CNPI1810 é o responsável pelas informações perante a ICVM 598
As informações não constituem recomendação de compra ou venda de qualquer ativo
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