A análise de hoje é sobre a BR Distribuidora. Uma empresa criada em 1971 para exercer atividades de distribuição e comercialização de derivados de petróleo e álcool carburante para a Petrobras.
A BR Distribuidora teve um papel importante no serviço de apoio logístico e administrativo para Petrobras, facilitando a competitividade frente às demais distribuidoras em funcionamento no Brasil. Quando foi criada, a rede de postos contava com 840 unidades.
Alguns fatos da sua história…
- 1992: inaugurou o primeiro posto de venda de Gás Natural Veicular (GNV) no Rio de Janeiro
- 2004: aquisição da Liquigás, aumentando a participação no mercado de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP)
- 2005: teve início as vendas de biodiesel em todo território nacional
- 2007: a Petrobras adquire, junto com o Grupo Ultra e Brasken, os ativos de distribuição da Ipiranga nas regiões Norte, Nordeste e Centro–Oeste do país, e cria a empresa Alvo para gerir esses ativos.
A partir de 2011 a empresa aposta no seu crescimento e avança para se firmar como líder do mercado. Neste período, inaugurou novas sedes com conceito e design mais modernos, desenvolveu diversas linhas de produtos diferenciados, abriu seu capital na bolsa de valores e, finalmente, se tornou uma empresa privada.
Presente em todas as regiões do país, é responsável por uma grande e complexa estrutura, servindo 7.857 postos bandeira “BR” e aproximadamente 18,5 mil clientes dos segmentos grandes consumidores e produtos de aviação. Para atender esta demanda, conta com 95 bases de armazenamento, depósitos e pontos de apoio logístico espalhados pelo Brasil em pontos estratégicos, além de uma frota de mais de 8 mil veículos, atendendo qualquer demanda em qualquer local do país. Com isso, a empresa consegue ser líder no mercado de combustíveis e lubrificantes em volume de vendas no Brasil.
Os dados divulgados no 3T20 colocam a BR Distribuidora como a maior distribuidora de combustíveis e lubrificantes do Brasil, com 26,6% do market share nacional. Possui 23,9% de market share em rede de postos, 37,3% em mercado consumidor e 63,3% em aviação.
Segmentos Operacionais:
- Rede de Postos: comercialização de combustíveis derivados de petróleo, lubrificantes, gás natural veicular, biocombustível e produtos de conveniência da companhia;
- B2B: comercialização de combustíveis, derivados de petróleo, lubrificantes e prestação de serviços associados em todos os segmentos de atuação no mercado de grandes consumidores da companhia;
- Aviação: comercialização de produtos e serviços de aviação em aeroportos do país para as companhias aéreas nacionais e estrangeiras;
- Corporativo: segmento onde estão alocados os itens que não podem ser atribuídos às demais áreas; são aqueles vinculados à gestão financeira corporativa, o overhead relativo à Administração Central e outras despesas, inclusive as atuariais referentes aos planos de pensão e de saúde destinados aos aposentados e pensionistas.
Mercado de distribuição:
Afinal, como anda o mercado?
O ano de 2019 foi bastante importante para a retomada do mercado de distribuição de combustíveis, que vinha de um período de recessão desde 2014.
Tivemos uma ligeira retomada da atividade econômica e do consumo das famílias, aliados à estabilidade dos preços e um aumento de veículos leves licenciados.
(dados retirados do ITR da empresa)
O crescimento do consumo de combustíveis em 2019 foi de 3,3% em relação ao ano anterior, com destaque para o aumento de consumo do etanol e uma pequena queda no consumo de gasolina.
A alta forte do etanol já demonstra uma mudança na participação do produto na matriz energética do mercado global. Essa e outras mudanças estão rondando o mercado de combustível; o biodiesel tem sido usado em maiores proporções e cada vez mais se fala na inclusão dos carros elétricos no mercado.
As mudanças não são repentinas e a BR Distribuidora parece estar atenta a isso. Além de compor o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), recentemente passou a integrar o FTSE4Good, índice da Bolsa de Londres que avalia as práticas ambientais.
Abertura de capital:
Foi em 2017 que a BR Distribuidora – BRDT3 fez seu 1º IPO, se lançando na BM&F Bovespa com uma oferta pública inicial de 28,75% das suas ações, para depois, em 2019, concluir a 2ª oferta de ações (follow-on), que determinou sua entrada efetiva no mercado aberto da B3.
Listada no Novo Mercado, a BRDT3, possui 1,165 bilhão de ações do tipo ON, com free float de 62,5% e tag along de 100%.
Composição acionária:
(informações contidas no site da empresa)
No momento, a Petrobras detém 37,5% do controle da companhia, mas em 26 de agosto de 2020 a BR Distribuidora emitiu um Fato Relevante informando que a Petrobras aprovou a venda da sua participação acionária através de uma oferta secundária de ações, disponibilizando a integralidade de sua participação ao mercado, dando, assim, sequência à sua política de desvinculação de alguns ativos.
Neste caso, é interessante notar que a empresa ficará com sua composição acionária bastante pulverizada, já que não existe, no momento, nenhum outro acionista com composição majoritária relevante (a partir de 5%, por lei).
Resultados 3T20:
O 3T20 foi marcado principalmente pela gradual recuperação dos volumes de vendas, assim como dos preços dos derivados de petróleo ocorridos em julho e agosto deste ano.
O lucro bruto do 3T20 foi de R$ 1.386 milhões, um acréscimo de 132,6% em relação ao 2T20 e praticamente estável na comparação do 3T19.
O volume total de vendas do 3T20 foi 20,8% superior na comparação com o 2T20, com destaque para o crescimento de 154% da comercialização de produtos de aviação na comparação com 2T20, por conta do movimento de retomada dos voos, principalmente domésticos. No entanto, o volume vendido ainda é cerca de 58% inferior ao comercializado no 3T19.
(dados retirados do ITR da empresa)
Foram excluídos das despesas operacionais ajustadas os efeitos do Hedge de commodities no valor de R$ 49 milhões no 3T20, de R$ 48 milhões no 3T19 e R$ 327 milhões no 2T20. Ajuste de R$ 16 milhões referentes aos créditos de PIS/COFINS no 3T20 e R$ 376 milhões no 2T20 e ajuste de R$ 111 milhões referente à aquisição de CBIOS no 3T20.
Vale lembrar que a BR Distribuidora ganhou recentemente (outubro/20) uma ação judicial para exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/COFINS, que irá gerar um valor de R$ 1.426 milhões para o ano de 2020. Nos 2º e 3º trimestres, parte deste valor foi registrado (R$ 551 milhões) e o restante, de R$ 875 milhões, irá constar nas demonstrações financeiras do 4T20.
Gosto de explorar o setor de vendas, pois é uma forma de identificar quais foram os produtos que realmente geraram mais valor dentro da companhia. Observe nos quadros abaixo a comparação do consolidado nos 9M20 x 9M19.
(material retirado do Ri da empresa com cálculo de margem analisado pela equipe dicadehoje7)
Rede de postos:
O setor Rede de Postos apresentou uma queda de 15,2% na receita de vendas dos 9M20 x 9M19, com uma perda de 1pp na margem bruta do período. Por outro lado, a redução nas despesas de vendas, gerais e administrativas foram bastante significativas para a recuperação da margem Ebitda, alcançando 3% nos 9M20, contra 3,2% nos 9M19.
Se analisarmos a evolução do 3T20, tivemos um aumento no volume de vendas de 26,7% em comparação ao 2T20, receita líquida 48,4% maior que 2T20 e lucro bruto ajustado 163,8% superior ao 2T20.
Neste 3T20, a BR Distribuidora ainda abriu 31 novos postos, totalizando 114 postos abertos no ano de 2020. Os investimentos nesse trimestre foram de R$ 175 milhões para embandeiramento e manutenção da rede.
B2B:
No setor B2B tivemos uma queda de 16,9% na receita de vendas em 9M20 x 9M19, com margem bruta se mantendo equilibrada nos períodos. O setor apresentou reduções nas despesas operacionais, alcançando uma margem Ebitda de 5% nos 9M20, contra 4,7% nos 9M19.
Se analisarmos a evolução do 3T20, tivemos um aumento no volume de vendas de 6,5% em comparação ao 2T20, receita líquida 23,1% maior que 2T20 e lucro bruto ajustado 50,1% superior ao 2T20.
A recuperação no volume de vendas de Diesel e Coque, comparados 3T20 x 3T19, foi o destaque do setor.
Mercado de aviação:
O setor Aviação apresentou queda de 50,5% na receita de vendas dos 9M20 x 9M19, com um ganho de 1pp de margem bruta no período. Com uma queda expressiva da receita, o ganho de margem bruta não foi suficiente para trazer uma margem Ebitda equilibrada, já que as despesas operacionais acabam impactando muito o resultado final. A margem Ebitda dos 9M20 foi de 1,2%, contra 4,1% nos 9M19.
Se analisarmos a evolução do 3T20, tivemos um aumento no volume de vendas de 154,4% em comparação ao 2T20, receita líquida 173,8% maior que no 2T20 e lucro bruto ajustado 264,3% superior ao 2T20.
Com certeza esse foi o setor mais impactado pela pandemia, porém vem se recuperando aos poucos, com o aumento de voos comerciais e de carga.
Daniel Nigri – analista CNPI
Em parceria com Daphne Kuschnir.
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