Continuamos no fim da fila
A CNI divulgou um estudo sobre a competitividade no nosso país. O relatório destaca individualmente os itens e demonstra onde ainda somos fracos diante dos outros países que são usados para comparação. Os países são: África do Sul, Argentina, Austrália, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coreia do Sul, Espanha, Índia, Indonésia, México, Peru, Polônia, Rússia, Tailândia e Turquia.
Os itens comparados são:
- Ambiente macroeconômico;
- Ambiente de negócios;
- Educação;
- Estrutura produtiva, escala e concorrência;
- Financiamento;
- Infraestrutura e Logística;
- Tecnologia e Inovação;
- Trabalho e Tributação.
E sinto informar que nosso país não figura nas primeiras 6 colocações em nenhum dos itens citados acima.
Já falamos aqui sobre a importância da análise de custo de capital, sobre estrutura de capital nos negócios analisados e como isso reflete no retorno do investimento dos acionistas, da necessidade de um retorno maior do que o exigido pelo capital de terceiros, visto que ele depende, no retorno do capital próprio, da operação do negócio. Logo, o passivo oneroso criado pela origem dos recursos (financiamento) afeta o equilíbrio financeiro do negócio alavancado. Ele precisa gerar caixa suficiente para que os fluxos de saída não comprometam a liquidez do negócio e afetem, por consequência, o lucro e também o retorno do acionista.
Até aqui nenhuma novidade, e alguns podem estar perguntando: Patrícia, qual a relação disso com a competitividade do Brasil em comparação com os demais países citados acima?
A relação é devido a um dado exposto no relatório da CNI, que não é uma novidade para quem trabalha diretamente com isso nos negócios. A pesquisa mostra que o Brasil é o país com o pior desempenho no fator financiamentos: a nota foi 2,22 (sendo 10 o máximo). Em primeiro lugar no ranking está o Canadá, com a nota 7,65; na segunda colocação a China, com 7,16. Nosso ponto fraco é justamente o custo do capital, que é mais alto que nos outros países que fazem parte da base comparativa. Porém, o relatório aponta que nossa performance melhora quando os requisitos avaliados são a disponibilidade de capital e o desempenho do sistema financeiro.
Segundo consta na apresentação do relatório, a CNI destaca que no ano de 2018 a taxa de juros real de curto prazo era a maior dos países comparativos, de 8,8%, e spread da taxa de juros também, o mais alto: 32,2% Em segundo lugar (países) estava a Rússia, com taxa de juros real de curto prazo de 5,2%, e o Peru em segundo lugar no ranking de maior spread da taxa de juros, com 11,9% (bem abaixo do nosso).
Se você acompanha os nossos materiais, vais lembrar que já falamos sobre a questão do spread nos nossos bancos e de como a diferença dele entre as diferentes carteiras ajuda a analisar os riscos de cada instituição. Lembrando que outra variável importante quando se fala nesse assunto é considerar que o custo do crédito recuou por aqui nos últimos anos e isso está relacionado ao fator macroeconômico, à concorrência e ao fator segurança (das garantias nos empréstimos), e sabemos que essa sempre foi uma das justificativas das instituições para um spread tão alto.
Segundo o Banco Central, esse custo (que teve ápice recente em 2017) recuou por medidas referentes ao consignado, pela alienação fiduciária para o financiamento de automóveis e imóveis, patrimônio de afetação para o financiamento à construção civil e a lei de falência, que diminuiu as incertezas na execução das garantias.
Outro fator apontado pelos bancos como um “problema” na redução dessa diferença são os impostos indiretos no custo do crédito – PIS/COFINS e o IOF. Então, para resumir, e já havíamos falado sobre isso antes da Selic a 2%: não é somente a queda da Selic que vai fazer com que o spread recue, afinal, do que o banco recebe pelo empréstimo, são descontados, além da remuneração do dinheiro emprestado, os impostos, custo com inadimplência, os compulsórios e as despesas administrativas do processo.
OBS: aqui há quem defenda uma mudança estrutural nos depósitos compulsórios, pois acreditam que os mesmos são exagerados e que isso faz com que o ICC (Indicador do Custo do Crédito, medido pelo Banco Central) seja mais alto que o necessário, e há os que dizem que isso diz respeito à segurança do sistema.
E ainda falando sobre custos consideráveis, temos o item Infraestrutura e Logística: estamos na última parte da lista, em todos os modais. Em infraestrutura de energia, a pesquisa aponta que nosso país apresenta o maior custo de energia elétrica para a indústria, de US$ 0,17 por Kwh, além de estarmos em penúltimo lugar quando o assunto é qualidade no serviço prestado – segundo o relatório, uma perda de 16,1% da energia gerada. Esses são alguns dos itens que fizeram o mundo corporativo comemorar o marco do gás: a possibilidade de reduzir esses custos, além de iniciativas como a BR do Mar (cabotagem), para melhoria do modal e, por consequência, dos custos dos que utilizam.
E nossos problemas não acabam por aqui. No item Tributação, nosso país fica com a última colocação no ranking quando a medida é a qualidade do sistema tributário, e em penúltimo lugar da lista quando o item medido é o peso da carga tributária, em 17ª lugar, à frente apenas da nossa vizinha e com problemas econômicos, a Argentina. Para contextualizar o tamanho disso nos números do país, veja o trecho abaixo retirado do site da CNI:
“em 2017, a carga tributária no Brasil representou quase um terço do PIB (32,3%), sendo inferior apenas à observada na Espanha (33,7%) e na Polônia (33,9%), países cuja renda per capita é cerca de duas vezes superior à brasileira, segundo dados de 2018.”
Aqui precisamos abrir um parêntese para falar sobre as enormes subvenções fiscais que alguns setores conseguem e que tornam os resultados de lucro fiscal e contábil variáveis importantes a se considerar para a precificação dos ativos, visto que apesar de melhorarem os resultados, não podem ser consideradas como perpétuas, tampouco como ponto forte na geração de valor do negócio.
Para quem gosta do tema, recomendo a leitura do relatório do FMI sobre responsabilidade fiscal no Brasil, afinal, grande parte dessas subvenções é de ICMS (estados) – BRAZIL – TECHNICAL ASSISTANCE REPORT— STRENGTHENING.
Em relação ao fator custo de mão de obra, somos o 9º colocado quando o item medido diz respeito à disponibilidade, porém, devido à baixa produtividade, o custo aumenta e nos joga para a 17ª posição nesse item produtividade.
No final da checagem, a pesquisa nos coloca em penúltimo. Pelo menos estamos à frente da Argentina, mas ainda estamos atrás do Peru. Mas nem todas as notícias são ruins, ou ao menos tão ruins, visto que a média das notas nos nove fatores subiu de 4,26 para 4,4, ou seja, apresentaram uma evolução, uma melhora discreta, o que ainda é melhor que piorar.
Acompanhe abaixo a imagem com as classificações, retirada do relatório em questão:
Para acessar o relatório completo acesse: COMPETITIVIDADE BRASIL 2019-2020.
Daniel Nigri com apoio de Patrícia Rossari Especialista em Gestão de Negócios-Logístic
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