Você percebeu isso na ponta final?
A CNI divulgou a sondagem referente ao mercado de insumos e matérias-primas referente a outubro de 2020. No relatório, a confederação aponta destaques sobre os estoques e como a cadeia pode ficar comprometida, inclusive lembro vocês que há alguns meses, quando a pandemia ainda estava no auge, eu escrevi aqui no site o seguinte:
Pois bem, mas e depois?
Quando as atividades voltarem à normalidade (aos poucos, obviamente), e não somente pela questão lógica e necessária em relação à saúde dos indivíduos, mas também considerando que não se faz a roda girar só com um assopro. Não é como nos livros – na prática as coisas são bem mais complicadas. Não basta chamar as pessoas de volta do home office, não basta apenas produzir sem parar, pois, todos irão comprar; não é apenas uma questão de abrir as portas da loja e acreditar que o restante permanece da mesma forma que estava quando ela foi fechada. A gestão da cadeia de suprimentos será um grande diferencial nessa retomada, mais do que nunca, seja contornando os gargalos, seja em estratégias de custo de oportunidade em estoques que já não se adequarão mais à nova realidade de consumo (pelo menos ao longo do ano), seja em colocação de estoque a preços menores para suprir caixa, seja substituição de insumos ao longo da cadeia.
Tanto para varejo como para a indústria, todas as previsões de demanda, que até então estavam dando o tom de programação de produção (logo, da política de compras da indústria) assim como o gerenciamento dos estoques do varejo e do seu giro, já não são mais realistas. Logo, o processo de voltar a abastecer os estoques, seja de matéria-prima e insumos ou de produtos acabados, não terá mais o histórico de curto prazo como parâmetro. O ponto de estoque vai ficar mais longo no primeiro momento e, com isso, a retomada da cadeia fica mais demorada.
O e-commerce fica distorcido nesses momentos, pois a tendência é que produtos de uso para sobrevivência sejam o maior em volume (e certamente pouquíssimas empresas estavam preparadas para isso, mas as que não estavam conseguiram redirecionar a produção em um tempo relativamente curto, principalmente as grandes corporações), uma prova de que é possível termos uma indústria muito mais eficiente do que vemos regularmente. E com esse pico na demanda de alguns produtos, existe a tendência de algumas empresas acabarem com muito estoque e tendo que alterar a produção, reduzindo o faturamento.
A grande questão é que as empresas irão precisar desconsiderar esses pontos de desvio, ou melhor, desconsiderar o que foi consumo de pânico e o que pode ser usado como parâmetro para projeção de demanda (que vai dar o start na compra da MP, na programação da produção, na quantidade de mão de obra, o quanto de reposição será necessária para antecipar a demanda no varejo e, com isso, não perder vendas devido à falta de estoques em um item, enquanto sobra do outro. E acredite, isso vai acontecer, pois a cadeia não é suprida ao mesmo tempo em todas as bases, e estamos falando de suprimentos em nível mundial, e estamos falando de produção e de distribuição.
No relatório, a CNI destaca que a recuperação do consumo, com a volta da circulação, está criando uma falha nos tempos de oferta e demanda de insumos, ou seja, as produções (plantas/fábricas) estavam paradas ou com produção reduzida. Logo, é natural que os fornecedores pensassem primordialmente em manter a liquidez. Portanto, os estoques estavam em níveis mais baixos que o normal. Quando a circulação volta, o consumo retoma gradualmente e mais veloz em alguns setores, aparecem então essas dificuldades que são tanto de escassez quanto de um aumento nos preços de alguns insumos e aqui entra a variável câmbio, tanto dos produtos que são importados como daqueles que são produzidos aqui mas têm parte da matéria-prima e dos insumos cotados na moeda estrangeira.
Veja abaixo os dados da pesquisa:
Fonte: Relatório de Sondagem Especial CNI – Mercado de Insumos e MP – outubro/2020
Resumo dos dados da sondagem:
- 44% com dificuldades para atender todos os clientes. Com isso, existe a retirada do pedido ou então demora excessiva.
- A principal dificuldade para 47% delas são os estoques (baixos ou inexistentes), sentida por 47% das empresas.
- Em 41% a dificuldade é que a demanda está acima da capacidade de produção.
- E em 38% das empresas, a justificativa é que não conseguem aumentar a produção, sendo que destas, 76% pelo fato de que não conseguem adquirir a matéria-prima e/ou insumos.
OBS: destas 76% que estão com dificuldade de obter a MP e os insumos, 68% estão com problemas no mercado interno, ou seja, fornecedores daqui, enquanto 56% estão com dificuldades na importação dos itens.
- Outro dado importante é que 82% dos negócios já detectaram alta nos preços de insumos, e destes, 31% já sinalizam com um preço acima de todas as expectativas, sendo que oito em cada dez empresas perceberam aumento dos preços de insumos e/ou matérias-primas no 3T2020, principalmente nos setores de produtos de material plástico (95%), máquinas e equipamentos (93%) e móveis (92%).
OBS: lembrando que quando a demanda permanece estável, mas os custos de produção não (juros, moeda – câmbio, renda-salários, ou, trocando em miúdos: tudo aquilo que interfere no custo do negócio, aumenta). Temos uma operação mais cara e pode-se ter menos produtos disponíveis, e com a demanda mantida ou aumentando em alguns picos isolados, o preço aumenta, o que se define na teoria como movimento induzido, e foi visto durante a pandemia.
A pesquisa também aborda a impressão dos setores em relação a quando pode ocorrer a normalização do ciclo, e segundo a maior parte da indústria que faz parte da pesquisa (55%), as projeções são de regularização apenas ao longo de 2021. Quando o assunto é insumos especificamente, o número aumenta para 73%. O índice de evolução da produção chegou a 59,1 pontos em setembro, lembrando que acima de 50 pontos significa um crescimento mais expressivo no setor; assim como o índice que mede o número de empregados, que chegou a 55,3 pontos no período, sendo que este é o maior número da série histórica mensal que iniciou em 2011.
Você pode acessar a sondagem completa AQUI.
Finalizo esclarecendo que, como havíamos citado há alguns meses, isso significa dizer que em alguns pontos da cadeia pode existir falta de matéria-prima, insumos e, na outra ponta, sobras de estoque. E isso causa o que nas empresas?
- Provisões são difíceis de estimar, pois os dados são comprometidos e, com isso, o planejamento de produção fica deficitário.
- O custo de armazenagem em alguns casos pode aumentar bastante, inclusive de movimentação devido à realocação de materiais.
- Capacidade ociosa tende a aumentar, e com ela o custo que afeta a margem.
- Caso não sejam feitos ajustes e exista a necessidade de utilizar mais a capacidade, não existindo planejamento, a tendência é a empresa produzir mais, mas ser menos eficiente, como por exemplo na distribuição. (Todos têm pressa e a empresa não tem planejamento = mais custos)
E isso tudo vamos verificar nos resultados de alguns negócios, lembrando que é fundamental considerar as particularidades de cada case.
Patrícia Rossari
Especialista em Gestão e Logística
Daniel Nigri
Analista CNPI
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