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Já é crise?

Já é crise?

Na minha opinião, sim. No entanto, ainda não estamos em recessão. Explico.

O surto do novo coronavírus já é mundial. A Europa é o novo epicentro, tendo a Itália como principal foco. A situação por lá é bastante grave e medidas extremamente restritivas foram postas em prática. No resto do mundo, grandes eventos esportivos, como a NBA, e culturais, como shows, foram cancelados. Rotas domésticas e internacionais tiveram o mesmo fim.

Enquanto isso, o Petróleo segue sofrendo com as disputas entre Rússia e Arábia Saudita. Inclusive, a reunião agendada para a semana do dia 16 de março foi cancelada.

A Bolsa de Valores

A queda nas bolsas de valores mundo afora, ocasionada pelo avanço do coronavírus, tornou-se tão contagiosa quanto o próprio vírus. Basta uma notícia positiva ou negativa em qualquer lugar do mundo para que os investidores de todo o mundo decidam comprar ou vender com força.

Devido a esse fato, já tivemos cinco circuit breakers em uma semana. O primeiro aconteceu no dia 09 de março, o segundo no dia 11 de março, o terceiro e o quarto no dia 12 de março, e o quinto no dia 16 de março.

Excepcionalmente, no dia 12, quase tivemos o terceiro circuit breaker do dia quando a bolsa atingiu uma queda de quase 20%. Isso só não aconteceu porque a bolsa se utilizou de outros mecanismos para acalmar o ânimo dos investidores.

A mínima registrada neste dia é, ainda, a mínima até agora desta crise, quando a bolsa chegou aos 68.488 pontos.

Outro efeito dessa crise é o dólar atingindo e fechando, pela primeira vez, acima de R$ 5, mesmo com os leilões feitos pelo Banco Central.

O setor mais prejudicado até então é o de turismo, especialmente aviação, que sofre tanto pela redução de demanda e até cancelamento de diversos trechos, quanto pela alta do dólar, que impacta diretamente seu resultado. Mesmo a queda no preço do petróleo, que é benéfico para este setor, não foi suficiente para impedir quedas de mais de 60% no valor de mercado destas companhias. Nos Estados Unidos, as companhias aéreas já solicitaram ao governo um pacote de recuperação de mais de 50 bilhões de dólares.

A atual crise já é muito mais agressiva e rápida que a enfrentada em 2008. Eu fiz um pequeno estudo utilizando a cotação do Ibovespa. Na crise do subprime, em 2008, a nossa bolsa caiu 60,18% em 154 dias úteis, o que representa uma queda média de 0,39% ao dia. Já no cenário atual, acumulamos até então uma queda de 42,73% em somente 38 dias úteis, representando uma queda média de 1,12% ao dia.

Repare que a média atual é cerca de 3x maior que a média de 2008, e que a queda atual já representa mais de 70% da queda daquele ano.

No entanto, é evidente que não podemos continuar caindo neste mesmo ritmo. Se assim fosse, precisaríamos de somente 89 dias úteis, pouco mais de 4 meses corridos, para que a bolsa chegasse em zero pontos, o que não vai acontecer.

Cenários

Sendo assim, temos dois cenários possíveis. O primeiro é que estamos próximos de interromper a queda e de voltar a crescer. Se este é o caso, poderemos experimentar o que alguns chamam de movimento em V, em que o mercado se recupera na mesma velocidade que caiu.

O segundo cenário é que ainda estamos distantes do fim da crise, mas passaremos por um longo período de lateralização ou até de queda com uma velocidade menor.

Qual cenário acontecerá de fato, não sabemos, mas creio que tudo vá depender da velocidade com que resolveremos o coronavírus. Se conseguirmos vencer rapidamente esta guerra, os efeitos econômicos se limitarão ao que já estamos passando. Se demorarmos mais, os efeitos serão mais danosos.

E aí entra a tese da recessão. Quantos meses as empresas aguentam um cenário de baixa geração de receita, queimando caixa em muitos casos? Como já falei, temos o setor aéreo que já está sentindo na pele o efeito dessa crise. Mas não somente ele. Qualquer setor que dependa diretamente de uma demanda presencial está sofrendo e vai sofrer mais quanto mais durar o que estamos passando.

Somado a isso, temos a queda forjada nos preços do barril de petróleo que podem tornar inviável a operação dos ‘pequenos’ produtores desta matéria-prima. Será que empresas como a Enauta (ENAT3) e a PetroRio (PRIO3) aguentam o barril chegando a 20 ou 15 dólares?

Como você pode notar nesta argumentação, a longa exposição ao cenário atual altamente restritivo pode, sim, ocasionar em uma recessão econômica. Talvez tenhamos até a falência de muitas empresas, não só no Brasil como no restante do mundo.

O futuro não sabemos. O que nos resta é ter calma para avaliar os cenários e agir com racionalidade. Não deixe de comprar ações das empresas que você julga boas. Estamos vivendo uma excelente oportunidade de multiplicar o patrimônio e acelerar o processo de independência financeira.

E você, também considera um cenário de recessão? Conte-nos aqui nos comentários.

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Lucas Mauricio

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