O mapa-múndi da transição energética
Fonte: Istoé
Quando se fala na transição para uma economia de baixo carbono, a dúvida é até que ponto os compromissos dos líderes globais estão migrando do discurso para a prática, especialmente na substituição de combustíveis fósseis por renováveis. Dados da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena) mostram que o caminho está sendo pavimentado, mas é preciso acelerar. De acordo com a agência, em 2021 os recursos alocados em projetos de transição energética somaram US$ 755 bilhões, 27% mais do que em 2020. China e Estados Unidos, os maiores consumidores de energia fóssil do mundo, lideram os top 10 que mais investem na transformação, com US$ 266 bilhões e US$ 114 bilhões, respectivamente. Em que pese ser um dos maiores poluidores do planeta, é também no país de Xi Jinping que são produzidos cerca de 70% dos painéis fotovoltaicos do mundo. Já o consumo de energia solar dos EUA cresceu em média 42% por ano na última década. O Brasil, que ocupa o 9º lugar no ranking dos países que mais consomem energia, também é o 9º que mais investe em transição energética, com US$ 12 bilhões. O descompasso entre consumo e investimento em países como Índia, Rússia e Coreia do Sul, que estão entre os dez maiores consumidores, no entanto, lembra que ainda há muito a ser feito.
Crescimento da Energia Solar
A Agência Internacional de Energia (IEA) acaba de divulgar que o uso de energia solar poderá chegar a 30% em 2022 no mundo, levando em conta países com a maior capacidade instalada de geração, como a China, Alemanha, Japão e Estados Unidos. E este fator deve ocorrer porque a distribuição global de sistemas de energia solar tem crescido muito nos últimos anos.
Além desses países, a agência indica que, no ano passado, o Brasil entrou para o grupo de 20 países líderes em capacidade instalada de energia solar no mundo, com uma produção de aproximadamente seis mil megawatts. Apesar do crescimento, a fonte solar ainda representa menos de 2% da matriz energética brasileira, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Mercado de trabalho
Com a democratização da geração independente de energia elétrica a partir de painéis solares, o mercado de trabalho também se movimenta e fomenta a criação de oportunidades. A prestação de serviços de instalação ou manutenção de sistema solar subiu ao mesmo tempo em que a crise hídrica e o esvaziamento dos reservatórios das hidrelétricas deixou a conta de energia elétrica mais cara no Brasil, devido à instituição da nova bandeira tarifária de escassez.
Com a perspectiva de forte crescimento do mercado solar, a adoção da energia solar e a redução do custo dos painéis fotovoltaicos tendem a continuar aumentando também. É esperado durante os próximos anos que a legislação vá sendo modificada para favorecer os investimentos nesta área, melhorando o ambiente financeiro e estimulando investimento estrangeiro em projetos de energias renováveis, como parques solares, ampliando as opções de financiamento aos consumidores e empresários interessados.
Os parques solares podem fornecer energia para áreas remotas e fora da rede, permitindo que os agricultores se beneficiem de eletricidade limpa com preços previsíveis, maximizando o aproveitamento da área e permitindo o uso de energia solar fotovoltaica para melhorar as condições de cultivo.
Guerra traz oportunidades
A invasão da Ucrânia pelas tropas russas lançou a humanidade em um novo período de crise e incertezas.
Além da tragédia humanitária, com todo o sofrimento que um conflito armado dessa magnitude é capaz de gerar, são inevitáveis as consequências econômicas, sociais e ambientais.
Logo após o aguardado cessar-fogo, teremos muitas lições a aprender e obstáculos adicionais a superar para a possibilidade de um futuro melhor.
A guerra também tem gerado discussões na perspectiva das energias limpas e renováveis e das mudanças climáticas.
A influência do abastecimento de petróleo e gás russos, especialmente na Europa, traz desdobramentos globais do ponto de vista econômico.
O aumento no preço da gasolina, independentemente de o combustível ser de origem russa ou não, reflete no valor de todos os produtos transportados pelas rodovias.
Esse efeito cascata provocado principalmente pela variação do preço dos combustíveis fósseis tem sido visto frequentemente aqui no Brasil, sem qualquer relação com a guerra.
Entretanto, o momento que vivemos leva mais pessoas e tomadores de decisão de muitas nações a repensarem e buscarem alternativas energéticas renováveis e mais limpas, o que certamente traria impactos positivos para o planeta, diminuindo a emissão de gases de efeito estufa (GEE).
Transição energética
Fortemente dependente do petróleo e do gás russos, a União Europeia apresentou recentemente um plano para acelerar a transição energética, com o compromisso de ampliar o uso de fontes renováveis.
A medida é muito positiva e vai na direção correta, pois o setor energético é responsável por cerca de 35% das emissões de GEE no mundo.
No entanto, os sinais dessa mudança ainda são contraditórios.
Para diminuir a dependência do gás da Rússia, os europeus terão de aumentar a queima de carvão, fonte que ainda representa mais de 16% da matriz energética do continente e causa maior impacto ambiental por liberar dióxido de carbono na atmosfera e produzir efluentes tóxicos no seu processo de queima.
Se a situação é crítica na Europa, na Ásia o cenário não é muito diferente.
A China, maior emissora de gases do planeta, também precisa encontrar alternativas para suprir a demanda por mais energia para sustentar a expansão de 5,5% de sua economia prevista para este ano.
Aumentar o uso do carvão é a principal alternativa por lá.
A Rússia pode aprofundar o alinhamento com a OPEP para, com Irã, Venezuela e países árabes, tentar manter o controle da oferta de petróleo. Mas, reforçar a escolha de depender das commodities, tomada originalmente quando o sonho de competir com os EUA se dissolveu no crepúsculo da era Kruschev , pode não ter tantas vantagens. Ela exigiria achar novos compradores para o petróleo e gás, especialmente se a Alemanha cortar suas importações, e novos fornecedores de bens de consumo enquanto durarem as sanções, talvez com maior alinhamento com a China.
Um alinhamento Rússia-China mais intenso pode ser precário porque, apesar de petróleo e gás baratos serem sempre atraentes, haverá limites no interesse da China em investimentos e compromissos de longo prazo com combustíveis fósseis. Uma das razões para isso é que a transição energética tem a chance de ser a grande carta para a China vencer a atual desaceleração da sua economia, estimulando a demanda interna com milhares de projetos.
O potencial da energia solar e eólica competitiva na China é imenso, sem contar o que ainda sobra de hidroeletricidade e a fissão nuclear. A transição energética pode requerer transferências fiscais e outras políticas que amortizem o impacto sobre os que dependem da produção e uso dos combustíveis fósseis. Mas, ela coloca a China na vanguarda econômica mundial e atende à genuína demanda da população por menos poluição—dando fôlego ao governo enquanto o ajuste do setor imobiliário e outras mudanças estruturais prosseguem.
Apesar da proeminência que a segurança energética ganhou, não é fácil a Alemanha ou a Europa cortar suas importações de gás da Rússia. Os 80-90 bilhões de metros cúbicos (Gm3) consumidos anualmente pela Alemanha correspondem a 2,3% do consumo mundial, que cresceu 3% ao ano em 2009-19.
Equilíbrio
Grandes decisões precisam ser tomadas agora em todo o planeta.
Nossas escolhas poderão aprofundar a crise ambiental e climática, com seus graves impactos socioeconômicos, ou contribuir com a construção de um modelo econômico mais justo e inclusivo, que promova o equilíbrio entre as emissões e a remoção de gases que causam efeito estufa na atmosfera.
Espero que tenham gostado do artigo.
Até a próxima
Veja as possibilidades de planos
Tenha acesso aos melhores relatórios escritos por nossos experientes analistas