Um ano de guerra na Ucrânia: Desdobramentos para o mundo do conflito

Já se passou um ano desde o início da invasão russa à Ucrânia.

Para muitos, o dia 24 de fevereiro de 2022 ficará para sempre na memória.

Em um pronunciamento na televisão, o presidente russo, Vladimir Putin, declarou uma “operação militar especial” na região de Donbass, na Ucrânia.

No mesmo dia, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fez um apelo para que ele não seguisse adiante.

Uma Guerra cheia de desdobramentos

Um ano depois da invasão da Ucrânia, o mundo continua em busca de uma resposta para a pergunta: uma potência nuclear pode anexar o território de outro país impunemente? O desfecho da sangrenta aventura de Vladimir Putin tem consequências não só para a Ucrânia, ou para outros países antes pertencentes à União Soviética e ao Império Russo, mas também para Taiwan e demais territórios cobiçados pela China e por outras potências nucleares.

Em razão do autoritarismo e da ideologia conservadora abraçada por Putin, a invasão também impôs um segundo dilema: até que ponto o Ocidente está disposto a defender a democracia e os valores liberais, ameaçados com a tentativa russa de subjugar a Ucrânia? O custo tem vindo na forma de inflação de energia, causada pelas sanções contra o gás russo, e da ajuda humanitária e militar à Ucrânia, que somou US$ 100 bilhões em 2022, e deve acrescentar valor igual ou maior este ano.

Putin fez referência às duas questões em seu discurso sobre o Estado da União para o Parlamento russo, na terça-feira (21), feito para marcar o aniversário da invasão. O ditador suspendeu a participação da Rússia no último acordo de controle de armas nucleares ainda vigente entre ela e os Estados Unidos, o Novo Start. Firmado em 2010, o acordo limita em 1.550 o número de ogivas e em 800 o de mísseis, e prevê a realização de 18 inspeções recíprocas das instalações nucleares americanas e russas.

Na prática, não muda muita coisa: nenhuma inspeção foi feita no ano passado, e o regime estava prejudicado desde o início da pandemia, em 2020. Mas a suspensão reforça a chantagem nuclear de Putin, no sentido de negar informações aos americanos sobre o estado de prontidão de seu arsenal estratégico.

Jogo de Xadrez

Putin tem pedido apoio militar também da China, que até agora tem evitado se envolver para além da compra de petróleo e gás russos. A visita de Wang Yi, o chefe da diplomacia chinesa, a Moscou, na quarta-feira, foi mais um capítulo nessas tratativas. Os EUA e a Europa têm pressionado a China a não dar esse passo.

Em outros tempos, Wang Yi se reuniria apenas com o chanceler russo, Sergey Lavrov, seu equivalente na hierarquia dos dois governos. O fato de ele ter sido recebido por Putin, e ainda por cima em uma mesa pequena, e não naquela mesa de 6 metros que costuma usar, mostra duas coisas: a assimetria criada entre os dois países a partir da invasão da Ucrânia, que transformou a Rússia num fornecedor de matérias-primas para a China, e o desespero do líder russo.

Há uma análise de que as gestões dos Estados Unidos e dos principais governos europeus perante a cúpula chinesa têm se concentrado em convencer a China a advertir Putin a não empregar armas nucleares. Essa seria a condição ocidental para não adotar represálias contra a China por seu apoio econômico e político à Rússia. Até que ponto isso pode funcionar, na medida em que Putin sentir uma eventual derrota na Ucrânia como ameaça existencial, é uma incógnita.

No contexto geopolítico, interessaria, sim, à China, o estresse na coesão dos aliados do Ocidente, aí incluídos adversários como Japão, Coreia do Sul e Austrália, que se imaginava que a invasão da Ucrânia poderia causar. Mas não causou. Ao contrário, sedimentou essa coesão.

Janela de oportunidades para o Brasil

Apesar de todos os aspectos negativos de uma guerra, o cenário internacional beneficiou a balança comercial brasileira, que teve superávit recorde de US$ 62,3 bilhões em 2022, 1,5% maior que o registrado em 2021.

No acumulado de janeiro a novembro de 2022, as commodities exportadas pelo Brasil tiveram alta de 14,5% nos preços. Em volume, a alta no período foi de 4,1.

Por outro lado, os impactos dos preços também foram muito fortes nas importações. De janeiro a novembro, o preço das commodities importadas pelo Brasil avançou 52,3%, enquanto, em volume, o aumento foi de 9,9%.

A alta de 74% nos preços dos fertilizantes – usados e importados por agricultores – prejudicou o setor, mas não o suficiente para impedir a alta nos ganhos.

O destaque fica com o salto na exportação de milho, de 194% de janeiro a dezembro. A soja, principal produto exportado no país, teve alta de 20,8% na exportação, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

As perspectivas

As perspectivas econômicas globais sofreram nesse um ano.

Esta crise acontece no momento em que a economia global tem seus problemas de inflação e estruturais. Mesmo antes da guerra, a inflação estava em alta em muitos países devido a desequilíbrios entre oferta e demanda e às políticas de apoio para conter os efeitos da pandemia, tendo como resultado um movimento de aperto da política monetária. Os últimos confinamentos na China podem criar novos gargalos nas cadeias logísticas globais.

Neste contexto, além do seu impacto humanitário imediato e trágico, a guerra retardará o crescimento econômico e elevará a inflação. Houve um aumento acentuado dos riscos econômicos no seu conjunto, e as autoridades enfrentam dilemas de políticas ainda mais difíceis.

Em comparação revisamos em baixo as projeções de crescimento global, tanto em 2022 como em 2023– em razão do impacto direto da guerra na Ucrânia e das sanções à Rússia.

A guerra se soma à série de choques da oferta que atingiram a economia global nos últimos anos. Como ondas sísmicas, seus efeitos irão se propagar por toda a parte – atingindo os mercados de commodities, o comércio internacional e as ligações financeiras. A Rússia é um importante fornecedor de petróleo, gás e metais e, juntamente com a Ucrânia, de trigo e milho. A oferta reduzida provocou um forte aumento dos preços desses produtos. Os países mais afetados são os importadores de commodities na Europa, Cáucaso e Ásia Central, Oriente Médio e Norte da África e África Subsaariana. Mas a escalada de preços dos alimentos e combustíveis prejudicará as famílias de baixa renda em todo o mundo, inclusive nas Américas e no resto da Ásia.

A Europa Oriental e a Ásia Central têm estreitas ligações comerciais diretas e de remessas com a Rússia e deverão sofrer um impacto. O deslocamento de cerca de 5 milhões de ucranianos para países vizinhos, em especial Polônia, Romênia, Moldávia e Hungria, intensifica as pressões econômicas na região.

Pressões amplificadas

A perspectiva a médio prazo foi revista em baixa para todos os grupos, exceto os exportadores de commodities que se beneficiam do aumento dos preços da energia e dos alimentos. Nas economias avançadas, levará mais tempo até que a produção agregada retorne à tendência pré-pandemia.

Espero que tenham gostado e até a próxima

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