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Muitas vezes o óbvio é o mais útil

A utilidade de usar o óbvio

Observações importantes para quem está iniciando no mundo da renda variável:

  1. A receita e as margens estão vinculadas ao comportamento da capacidade de produção x custos, tempo de projeto, capacidade de produção e distribuição. Quando os fluxos não estão alinhados, temos gargalos, que não ocorrem somente no setor produtivo. Pelo contrário. É muito comum observar que grandes obstruções nos fluxos são causadas por falhas em setores auxiliares, seja por erros humanos ou de sistemas.

Traduzindo: um negócio não gera valor somente pelas expectativas do mercado.

  1. Parar uma linha produtiva por falha na manutenção, causa tantos problemas quanto diminuir ritmo de produção por problemas na reposição de estoque, devido à falta de produto ou falta de pagamento ao fornecedor (sim, isso acontece).

Traduzindo: a receita será menor, mas os custos não desaparecem, e o lucro é quem paga o pato.

  1. As empresas com gestão eficaz buscam reduzir custos sempre, e para cumprir essa meta, a palavra de ordem é: eliminar as perdas nos processos, caso de sucesso da Renner e Taurus, por exemplo.

Traduzindo: para que isso ocorra, é preciso analisar as situações com dados reais, e não de torcida, não apenas intenções, mas com estratégias sendo executadas.

  1. O que sustenta um negócio é a capacidade que ele tem de se adequar à demanda, e isso só é possível quando a geração de valor está no centro do plano. O conjunto é essencial – são peças que se completam e permitem o funcionamento da empresa. Mas no LP, o que precisa ser foco do plano é o processo que gera o valor, o processo principal.

Traduzindo: esquecer desse detalhe, ou não acreditar nas mudanças de demanda que acionam a necessidade de adequação das matrizes de produção, é acreditar que tapar os ouvidos faz com que o barulho deixe de existir, quando na verdade você apenas não está ouvindo.

  1. A empresa está cara ou barata? Está no preço? O ágio é justificável?

Resposta: Essas são perguntas que não possuem uma resposta exata, aquelas que muitos gostariam de receber, o SIM ou NÃO. E isso não é porque alguém está escondendo informações. Na verdade, nem as empresas tem certeza/garantias que todos os projetos terão retorno adequado, que a economia irá decolar, que o câmbio vai continuar alto. Empresas também trabalham com expectativas, elas possuem planos de desempenho que monitoram a execução das estratégias, elas fazem a gestão dos recursos, modelam de acordo com os cenários, ajustam, se necessário, mas não tem certeza de tudo o que vai acontecer. Não é assim que funciona; existem expectativas sempre. O investidor não está sozinho nesse aspecto, por isso existem o ajuste de preço de acordo com os cenários prováveis e a margem de segurança.

  1. Lembre-se que ninguém vive de expectativas. O lucro só cresce se houver aumento de faturamento com gestão eficiente de custos, margens saudáveis e projetos com expectativa de retornos adequada, ou seja, a TIR precisa ser maior que a TMA, com os devidos cuidados na análise das variáveis que compõem o projeto e que podem mudar durante a execução. Muitas vezes elas acabam levando a um poço sem fundo de dívidas (passivo oneroso), com custos altos e retornos abaixo do planejado. E convenhamos, não faltam exemplos de modelos de negócio que trocaram os pés pelas mãos, investindo em unidades de negócio apenas por projetarem um crescimento sem fim do mercado consumidor. E sabemos que nenhuma empresa inteligente permanece investindo em negócios que geram choques internos ou que não rentabilizam o suficiente. Veja o caso da Land Rover, que foi comprada pela BMW (1994-2000), depois pela Ford (2000-2008) e depois pela Indiana Tata Motors, lembrando que na época a Ford divulgou que desinvestiu das duas marcas inglesas (Land Rover e Jaguar) para cobrir prejuízos que eram de US$ 12,7 bilhões, e também que a nova estratégia dela era focar no mercado americano, ser mais enxuta e competitiva.

Não é preciso complicar demais, mas não é inteligente acreditar que tudo dará certo só porque você quer. Empresas que sobrevivem são aquelas que reconhecem a dinâmica do mercado consumidor, não ignoram a concorrência e sabem que não existe garantia de sucesso em tudo que planejar.

Acompanhar a evolução do histórico de resultados dos negócios é importantíssimo para compreender como a empresa faz a gestão dos recursos, mas para projetar o que pode acontecer é preciso olhar atentamente para o óbvio: a demanda do mercado consumidor.

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