Pessoas que são boas em arranjar desculpas raramente são boas em qualquer outra coisa.
Benjamin Franklin
Você já deve ter ouvido a frase:
Operar o lado esquerdo do gráfico é fácil!
Essas palavras são ditas geralmente para os que usam outras frases bem comuns:
Eu costumo dizer o seguinte, inclusive falava muito sobre isso nos cursos de Gestão da Qualidade e Logística:
Ao observarmos o que já ocorreu, usando uma nova perspectiva ou usando como base em diferentes ângulos de visão, dê atenção não só as perguntas que irá fazer, mas também aos dados que coletar, entenda a informação para que ela possa ser usada no presente.
Ou ela será inútil!
Eu trabalho bem sob pressão, faz parte das atribuições das funções que desempenhei ao longo da minha trajetória profissional, afinal, quando algo não ocorre conforme o planejado em uma empresa, você não corre para o Twitter para postar o ocorrido, você resolve, não fica caçando o culpado, foca tempo e esforço buscando solução e, principalmente, sabe que o desespero só atrapalha e que o melhor é baixar a cabeça e trabalhar.
Em momentos de pânico nos mercados as pessoas costumam focar muito nas perguntas, mas esquecem de entender
as respostas, afinal, o foco é a cotação apenas, o que sabemos é um erro quando não se conhece o que se está comprando.
É muito mais fácil fazer as seguintes perguntas:
1 – “Qual o melhor ativo para comprar hoje?” ou “Ativo X vale a pena?”
2 – “Já bateu no fundo? (Índice), é a hora de comprar porque está muito barato?
Do que entender as respostas, que são muitas, mas podemos citar as seguintes:
O melhor ativo para compra depende da sua estratégia e do seu perfil.
Você se sente confortável em investir nas estatais?
Pra você, elas têm potencial de crescimento vinculado a fatores diversos, desde monopólio até possibilidade de privatização, ou passa longe, pois tem a mão do estado, e isso nunca acaba bem.
Se você for do primeiro grupo, existem ativos pra você investir e, sendo do segundo grupo, basta não investir; falar mal do ativo/compra alheia não te faz mais inteligente.
Sua estratégia é receber dividendos?
Nesse caso, a resiliência do setor e a previsibilidade maior de resultados devido a contratos (energia, mas não desconsidere o risco de canetadas), ou então setores com regulação que dificulte entrada de novos negócios, que tenham muito lobby (bancos, com atenção às novas modalidades de serviço oferecidas pela concorrência, afinal, risco não se ignora, se acompanha), ou saneamento, com suas fraquezas historicamente conhecidas, mas que ainda representa um setor de potencial desenvolvimento, devido à enorme área de aplicação ainda existente; veja como se deu o reajuste na Sanepar e como isso afetou a cotação no ano passado.
Estratégia de crescimento?
Observe os gatilhos.
Como fazer isso?
Enxergando o mercado consumidor, entendendo como funciona a cadeia de fornecimento (que gera o custo) e quais os potenciais de desenvolvimento do produto/serviço. Exemplo: você acredita na mudança do setor de energia, na matriz para evolução da eólica/renovável?
Acredita que a sustentabilidade e uso eficiente dos recursos, como água e energia, são diferenciais? Exemplos que podem ser observados: Renner (LREN3) que assumiu o compromisso de ter 100% da cadeia nacional e internacional de revenda com certificação socioambiental até 2021 (fornecedores), meta de reduzir 20% das emissões absolutas de CO₂ até 2021, ampliação do uso de energia a partir de fontes renováveis e de baixo impacto, para alcançar o compromisso público de 75% do consumo através dessas fontes até 2021. Em 2019, elevou para 47% o consumo de energia renovável de baixo impacto, que em 2019 produziu cerca de 46,7 milhões de peças com o selo Re-Moda Responsável, peças produzidas com matérias-primas e processos menos impactantes, isso é 31% do total de produtos do ano – a empresa cita que pretende aumentar esse número para 80% até 2021. Grendene (GRND3), que possui PVC como MP e é 100% reciclável. A empresa já possui tecnologia em fábrica para reutilização dos resíduos e hoje ela conta com até 30% de material reciclado (pré-consumo) e matéria-prima de origem renovável na composição do produto, além de que 85% da energia consumida nas plantas são de matrizes energéticas renováveis. Em Sobral, a usina solar gera 1.810 MWh de energia renovável por ano.
Ambev (ABEV3), que até 2025 tem a meta de usar 100% de energia renovável, compromisso de acabar com a poluição plástica (embalagens) até 2025 e usa caminhões elétricos para distribuição.
E na mudança da combustão nos veículos, substituindo pelos elétricos? Impactos em negócios como Tupy e Fras-le e positivamente em WEG, que já trabalha com a VW no projeto.
Quem sabe você acredite em uma mudança/investimento no setor de gás? Com foco em desenvolver com menor custo à distribuição, devido à demanda por gás no futuro? Vamos falar de Cosan, por exemplo, que é dona da Raízen Combustíveis (Postos Shell), Raízen Energia, Comgás, que é a maior distribuidora de gás natural do país (~30% de todo o gás natural distribuído no país) e possui 17.480 km de rede de distribuição na área de concessão da empresa (região metropolitana de São Paulo, a região administrativa de Campinas, a Baixada Santista e o Vale do Paraíba) e também a empresa Moove, e a controladora do grupo – Cosan Limited. Possui ainda participação na RLOG – Cosan Logística e RUMO logística.
OBS1: No total da receita da Cosan, a Comgás está em 3º lugar no ranking, porém o maior percentual do ebitda é gerado através dela.
OBS2: Todos sabemos que essa demanda maior de gás vai exigir melhoria da infraestrutura, afinal, o gás é transportado por uma malha de gasodutos até às distribuidoras, que entregam o produto através da sua própria rede. Hoje, quem mais consome gás natural são a indústria, termelétricas, combustível GNV, cogeração de energia, uso residencial e comerciais, sendo que a indústria utiliza mais de 50% do total (dados da ANP). Caso você tenha interesse nesse setor, recomendo essa leitura: O NOVO MERCADO DE GÁS NATURAL: OPINIÕES DE ESPECIALISTAS, PERSPECTIVAS E DESAFIOS PARA O BRASIL.
E falando de varejo, onde está o maior mercado? Na diversificação? Através de negócios que comercializam de perfumes a máquinas de lavar, livros, fraldas e leite em pó? Carrefour, por exemplo, ou quem sabe Magazine Luísa, com o Omnichannel integrando o marketplace, ou talvez Casas Bahia, com seu turnaround e investimentos nas plataformas, ajuste dos estoques, na verdade, na necessidade de melhoramento da cadeia, afinal o foco da gestão continua sendo diminuir a lacuna em relação aos pares no que diz respeito à eficácia e rentabilidade, focando em mudar de um negócio que vendia em larga escala com margens estreitíssimas e ganhando na quantidade, sem muito valor agregado, sem uma gestão de estoques adequada, giro de estoque alto, comprometimento de estoque, custos elevados, com falhas também na distribuição e sem eficiência no modelo de marketplace, ou seja, tudo o que a MGLU3 fez e a LAME e a B2W já estão fazendo.
Quem sabe a B2W e seu processo de internacionalização com a Americanas Mundo, tentando abocanhar parte do mercado do Alibaba e E-bay aqui no Brasil, lembrando que o e-commerce no Brasil faturou mais de 53 bilhões de reais em 2018 e em 2019; segundo Nielsen, foram R$ 61,3 bilhões (estimado).
Falando em varejo, as dez mais em faturamento são:
- Carrefour (tem relatório do chefe sobre o case na área de membros)
- Grupo Pão de Açúcar
- Via Varejo (tem material dela na área Dica Beginner)
- Walmart
- Lojas Americanas
- Magazine Luiza
- Raia Drogasil (tem podcast do último resultado dela na área de membros)
- Renner (tem relatório sobre 4T também na área de membros)
- Drogarias DPSP
- Grupo Guararapes
E as cíclicas expostas a commodities?
Nesses casos, o principal é a consciência de que os negócios que operam/dependem de commodities irão oscilar os resultados de acordo com o preço que elas (as commodities) apresentarem (mesmo com proteção em níveis adequados), e os múltiplos que esses negócios apresentam modificam no decorrer do ciclo, geralmente o que se apresenta é um indicador/múltiplo baixo relacionado ao lucro, quando o ciclo estiver no topo do gráfico, e o inverso quando o gráfico estiver no ponto baixo do ciclo.
Negócios expostos às commodities são mais voláteis por natureza, os preços negociados e o lucro apurado estão relacionados ao ciclo, que ocorre devido à utilização dos produtos da cadeia, e são esses movimentos que apresentam os gatilhos e também os maiores riscos, ao menos quando a operação não os considera e presume somente a partir do ponto máximo do gráfico, uma subida eterna.
OBS: Empresas são negócios, alguns estão ótimos hoje e estarão melhores amanhã, outros eram excelentes ontem e hoje não existem mais, pense sempre nisso antes de acreditar em qualquer promessa eterna.
Quando a intenção é investir nesses negócios, lembre-se que o preço da commodity pode oscilar com variáveis sem controle também (safra/clima), caso da SLCE3 ou AGRO3, variáveis que afetam a produção, e esse fator afeta obviamente o faturamento (volume) e geralmente afeta o preço; afinal, se a oferta é maior que a demanda (caso da soja, devido à gripe suína na China) e não existe capacidade de armazenagem, a tendência é que o preço recue, pressionado (vimos isso na celulose nos últimos trimestres, e a Suzano sentiu nos resultados). Por outro lado, a safra pode ser maior aqui e menor no outro país produtor, o que diminui a oferta e, então, o preço sobe e o Brasil exporta mais (caso do milho em 2009), e também pode ocorrer a necessidade de ajuste da variação dos ativos biológicos no balanço, pois houve redução do contabilizado anteriormente e, com a oscilação do preço da commodity no mercado, o ajuste pode ser significativo (caso da SLC com o algodão).
Podemos falar também das indústrias que dependem da variação na formação do custo, caso da MDIAS, AMBEV, CAMIL, BRFS e muitas outras, ou questões de consumo (crescimento do uso do aço relacionado ao desenvolvimento das economias), caso da VALE, GERDAU (aços longos), USIMINAS (indústria automotiva), ou ainda questões de poder (petróleo, onde a briga é comercial e política também), e relacionado a essa variação existe a necessidade de calcularmos quais as projeções de geração de valor da empresa, considerando o preço atual da commodity, caso da Petrobras (PETR4) e Petrorio (PRIO3), por exemplo.
E por fim, é preciso deixar claro que reconhecer os sinais de ciclo não é impossível, porém não existe certeza, logo, muitos investidores optam pelo investimento em negócios que estão descontados frente aos pares, analisando margem e retorno sobre o capital total empregado na geração de valor, que não está ligado a tamanho (escrevi sobre isso semana passada).
A probabilidade de que as empresas que oscilam mais os resultados apresentarem múltiplos menores que empresas consideradas mais constantes é grande, mas isso não significa que não existe potencial de geração de valor em ambas, porém com riscos distintos. Assim como nas empresas que apresentam maior projeção de resultado futuro devido a ajustes e melhorias operacionais hoje, ou simplesmente por uma projeção maior de demanda futura do produto/serviço pelo mercado consumidor, caso de empresas que investem pesado em tecnologia e informação para conseguir oferecer o produto/serviço certo na hora certa pelo preço certo para o cliente certo ( já falamos sobre o big data e as utilizações aqui no site), ou das empresas que apresentam múltiplos esticados e a comparação com empresas maduras. Falei sobre isso nos materiais Tecnologia e as Mudanças no Consumo e também Empresas Maduras de Crescimento e Múltiplos: ABEV3 – TOTS – LINX.
Concluindo
Meu objetivo com esse pequeno texto é mostrar que é recomendável, antes de acreditar que um determinado ativo é uma oportunidade imperdível ou um mico que não para de cair, ESTUDAR O ATIVO, entender o negócio, como ele gera valor, quais os pontos fortes e fracos e quais são as estratégias da empresa. Se o coronavírus afeta o consumo daquele produto, se o maior mercado tem restrição de recebimento, se com dólar alto a dívida aumenta muito e, com isso, mesmo sem efeito caixa, acaba afetando resultado na DRE, ou caso a empresa tenha relação mais próxima com o mercado do petróleo, de que forma isso afeta os custos, aumentam ou reduzem, etc. Enfim, para saber o que fazer quando todos estão em pânico é preciso estar preparado e consciente dos motivos de compra e venda dos ativos, caso contrário, você é mais um candidato a gerador de receita para as corretoras e prejuízo para si próprio.
Pode ser difícil encontrar agulha em palheiro. Mas não descalço.
Millôr Fernandes
Daniel Nigri com apoio de Patricia Rossari
O analista Daniel Nigri CNPI1810 é o responsável pelas informações perante a ICVM 598
As informações não constituem recomendação de compra ou venda de qualquer ativo
PS: nenhum dos ativos citados reflete recomendação de compra ou venda.
Nos últimos dias centenas de assinantes tomaram a decisão de fazer o GERAÇÃO DE RENDA 2.0
(ATENÇÃO: O desconto de R$300,00 de pré-venda para a única turma do ano de 2020 se encerra hoje segunda ).
Muitas pessoas deixam para fazer a inscrição no último dia e eu imagino que seja o seu caso também.
Não desista de investir em conhecimento e aproveite as grandes baixas da BOLSA para comprar renda barata, com uma estratégia vencedora que uso há décadas.
Um dos maiores erros que o investidor pode cometer é ir para o campo de batalha dos investimentos sem uma estratégia clara, assim como seus objetivos bem definidos.
Bônus do Curso
Pagina do curso (veja os detalhes)
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