POR QUE AGORA É A VEZ DO IPCA?

IPCA-CAPA

 

Por que agora é a vez do IPCA?

Na semana passada escrevi um artigo sobre a minha estratégia no IPCA 2045, mesmo assim recebi muitos e-mails de pessoas insatisfeitas que estão chateadas. Que compraram o IPCA 2045 em fevereiro e hoje estão com menos dinheiro que antes. Pessoas que já estão querendo vender. Logo, resolvi fazer um novo artigo, para mostrar como se comportam os preços dos títulos públicos em um período de queda dos juros.

Como já vimos no vídeo do youtube existem dois tipos de títulos que são ou pré-fixados ou parcialmente pré-fixados (no caso as NTNB o atual Tesouro IPCA+).

Mas, o que é um papel pré-fixado? É um título que você já sabe o seu rendimento nominal ao ano até o vencimento. Então se você comprar um título prefixado pra 2023 que paga 10% ao ano. Você já sabe que o seu título valerá o valor atual acrescido de juros de 10% ao ano. No caso do IPCA+, ele é parcialmente pré-fixado, porque a parte do prêmio você define no ato da compra. O fator de indexação que é o IPCA, seria a parcela pós fixada do título.

Vamos começar do início

Como a SELIC se comporta de acordo com a inflação?

IPCA-01Elaborado pelo autor, com dados extraídos do site do Tesouro.

 

Vejam, que quando a inflação cai a SELIC pode cair também, que é o movimento que está acontecendo agora, até com um certo atraso, eu inclusive fiz um vídeo sobre isso em dezembro mostrando que o COPOM deveria intensificar o ritmo do corte de juros já naquela época.

E o oposto também é verdadeiro. Quando a inflação sobe, os juros precisam subir também. A diferença entre as duas curvas, são os juros reais. Ou seja, os juros que o investidor efetivamente aumenta o seu poder de compra. Percebem que em 2012, quando a inflação caiu muito, a taxa SELIC também caiu possibilitando a menor taxa de juros reais da história, e quando a inflação subiu a taxa de juros reais começou a aumentar também. (distancia entre as duas curvas). Vejam também que estamos no menor patamar de inflação desta década.

As Taxas de Juros Reais

O menor patamar de inflação da década, combinado com uma taxa de juros ainda alta, gerou a maior taxa de juros reais da década também. E a partir de Fevereiro essa distorção já começou a ser corrigida, porque os juros começaram a cair mais fortemente. Observem no gráfico abaixo, que existe um caminho livre de queda até uma taxa de juros reais de 4% ao ano, pelo menos.

IPCA-02

Elaborado pelo autor

 

Como Os Títulos Públicos se Valorizam?

A estratégia e os gráficos que mostrarei agora não valem pra pessoa que pretende comprar o título para leva-lo ao vencimento. Para estas pessoas, o caminho que o título vai percorrer de valorizações e desvalorizações pouco importa.

Percebam no gráfico abaixo que sempre que as taxas dos títulos caem o preço se valoriza. E sempre que as taxas sobem o título se desvaloriza. Isso é um pouco óbvio. Imagina que você pode emprestar dinheiro para qualquer um de dois países. O primeiro país, onde as pessoas aceitam receber um juros menor para emprestar dinheiro a esse país, porque esse país tem uma expectativa de um futuro melhor e você receberá 1000 reais no futuro com muita certeza. Neste caso provavelmente você terá que emprestar muito dinheiro para receber 1000 reais no futuro, talvez 900 reais, para ganhar 1000 no futuro, ou seja, o investidor irá ganhar uma taxa de juros pequena, porque o risco do país é pequeno. O segundo país está cercado de incerteza, tem grau especulativo, perspectivas negativas, déficits altos e o governo nem se preocupa em melhorar a situação. Como este segundo país tem um risco maior, o investidor não vai aceitar emprestar 900,00 para ganhar 1000 no futuro. Ele vai querer emprestar 500,00 para ganhar os mesmos 1000,00 reais no futuro. Vejam que agora a taxa que ele está ganhando é maior. Ele ganhará 500 reais no mesmo prazo que o outro investidor ganhará apenas 100 reais.

Graficamente podemos ver abaixo, no gráfico do preço x taxa do Tesouro IPCA 2035 sem cupom de juros:
IPCA-03

Dito isso, onde os títulos do Tesouro Direto entram?

Bom, o título prefixado, tem o valor total do rendimento já incluído em sua taxa de retorno. Já o título do IPCA+ é composto de duas partes: o prêmio do título, que já é conhecido na compra e a variação do IPCA.

Portanto, no título Tesouro IPCA+, se a Inflação cair, o prêmio pode acabar subindo, visto que a soma dos dois serão comparados ao valor do prefixado. Se a taxa do prefixado cair e a inflação ficar estável, o prêmio diminui, portanto chegamos a fórmula abaixo:

;

(1+ tx prefixado) = (1+ IPCA) x (1 + premio do IPCA+)

Fazendo esse cálculo ao longo da década, nós temos o seguinte gráfico:

Elaborado pelo autor: Fonte site do Tesouro para os títulos mais longos de cada

Observando o gráfico acima podemos tirar algumas conclusões:

  1. A taxa do prefixado acompanha a variação da taxa SELIC, mas esta taxa antecipa os movimentos, vejam que ela caiu abaixo do valor da SELIC, antes dela começar a cair efetivamente. O mercado antecipa os movimentos, a partir de expectativas. Isso ocorreu em 2011 também.
  2. No ciclo anterior de queda, a taxa do prefixado ficou sempre maior que a taxa SELIC, mostrando que o mercado não tinha confiança naquela baixa taxa que o Brasil chegou de 7,25%, e na manutenção dela no longo prazo.
  3. A variação da taxa do IPCA, no menor período no inicio de 2013, chegou a taxa de premio de 3,90% que é meu objetivo atual no artigo da Estratégia do IPCA 2045 e no vídeo do youtube. Isso ocorreu cerca de 1 ano e 5 meses depois.
  4. E a principal conclusão. E pra isso eu precisei pegar os valores na tabela. Não fica tão obvio no gráfico. Em 29/ Julho/ 2011, a taxa Selic estava em 12,50% (máxima), aí começou a queda dos juros. Em 29/fevereiro/2012 (sim, o ano foi bissexto), antes do COPOM resolver aumentar o ritmo de crescimento a Selic estava em 10,50%. Neste período a taxa do prefixado caiu de 13,01% para 10,75%, ou seja, uma queda de 17,37%. O premio do IPCA+ neste mesmo período caiu de 6,19% para 5,31%, isto é, uma queda de 14,22%. No período seguinte, em que o Copom resolveu reduzir os juros de forma mais forte, a Selic caiu de 10,50% para 7,25%, em apenas 7 meses, de 01 de Março de 2012 até 17 de outubro de 2012. Neste período, a queda do prefixado foi de 10,74% para 8,39%. Queda de 21,88% na taxa do prefixado. Neste mesmo período o tesouro IPCA+ caiu o prêmio de 5,31% para 3,91%, uma queda de 26,37% na taxa. Isto mostra que em um primeiro momento são os pré-fixados que caem mais forte, e depois da aceleração da queda é o IPCA que cai mais forte.

Vamos ver se o mesmo movimento está ocorrendo agora

Eu falei que agora é o momento do IPCA, então precisamos ver se este movimento está se repetindo agora. Vamos ver se até o momento foi o pré-fixado, que caiu mais a taxa até o momento. A queda dos títulos pré-fixados como pode ser vista no gráfico começou ainda no início de 2016. Então pegando desde 04/01/2016 até o momento em 11/04/2017 (reunião do Copom, antes de apertar o ritmo da queda de juros), temos que a SELIC caiu de 14,25% para 11,25%. Neste período o pré-fixado mais longo caiu a taxa de 16,57% para 10,01%, uma queda da taxa expressiva de 39,6%, enquanto isso a taxa do Tesouro IPCA+, caiu de 7,37% para 5,18%, representando uma queda da taxa de apenas 29,71%, mostrando que existe ainda uma grande defasagem para este tipo de título se valorizar.

Outra forma de se olhar o movimento.

Nós podemos analisar esse mesmo movimento a partir da inflação implícita. Mas o que é inflação implícita. Nós já vimos que existe uma relação entre o movimento do premio do IPCA e o movimento dos títulos pré-fixados. Então podemos chegar na fórmula abaixo

 

Inflação Implícita =[(1+ tx pré-fixado)/(1+prêmio do IPCA+)]-1

 

Colocando no gráfico a inflação implícita, que nada mais é que a expectativa do mercado atual para o IPCA de longo prazo, temos o seguinte gráfico.

IPCA-05

 

Vemos que a expectativa do IPCA, já está caindo, chegando próximo das mínimas históricas, e já bem próxima dos 4,50% da meta do governo de longo prazo, muito embora este ano deva ficar bem abaixo disso.

Obs: Não confundir o gráfico acima com o prêmio do IPCA.

 

Conclusão

Acredito que por todos os motivos aqui expostos, eu tenha dirimido todas as dúvidas dos senhores e das senhoritas, com relação a esta estratégia, e porque mesmo subindo o valor da taxa e perdendo algum dinheiro eu continuo comprando este mesmo título. Todos os estudos apontam para isso. Alta valorização dos títulos atrelados a inflação.

Obviamente que toda estratégia com possibilidade de alto lucro tem uma possibilidade de perda grande também. Isso aconteceria, se tivesse algum choque externo, ou a economia brasileira não andasse e as taxas de juros não conseguissem cair o esperado, ou ainda o déficit primário ficasse bem acima do esperado, e aí a taxa que hoje se encontra em 5,30% poderia subir fazendo-nos perder dinheiro neste título.

Vocês já perceberam que o mundo do Tesouro Direto é fascinante e cheio de nuances. E além disso, tem possibilidades de grandes ganhos também. Como eu não possuo nenhum material sobre tesouro direto, estou indicando aqui dois, que eu conheci e gostei muito e acho que valem a pena o investimento, até porque é um conhecimento que fica pra vida toda. Clique Aqui  ou aqui. o do Rafael Seabra também é legal, mas ele não mandou o link.

 

Abraços e Bons Negócios

Daniel Nigri  CNPI

 

ASSINATURAS

CURSOS

INSTITUCIONAL

LEGAL