FGTS: Fundo de Garantia por Tempo de Serviço é um benefício?
Você que é trabalhador já deve conhecer bem o FGTS, principalmente se você já foi demitido ou já financiou uma casa. O FGTS é o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, ou seja, é um fundo que visa garantir o trabalhador em determinados casos e aumenta quanto mais tempo você fica no mercado de trabalho.
A princípio, parece uma ideia bacana. Uma parte do seu salário é depositado nesse fundo, que vai rendendo, até você resgatar. É uma segurança, não é mesmo?
Mais ou menos… Vamos entender um pouco melhor.
Como funciona o depósito?
A empresa onde você, CLT, trabalha deposita todo mês 8% do seu salário na Caixa Econômica Federal, onde fica o FGTS. Muita gente pensa que essa grana sai do bolso da empresa e não do empregado. Se realmente fosse assim, seria uma grande vantagem ter FGTS, já que é um dinheiro que você tá recebendo que não é seu… Mas, não é assim que funciona.
Como funciona NA REALIDADE?
Pensa assim: se a empresa está disposta a pagar R$ 2.000 pelo seu serviço, ela provavelmente pagará diretamente para você 8% a menos, ou seja, R$ 1.840. Na verdade, bem menos, mas isso eu explico mais para frente.
Eu posso praticamente ouvir você aqui do meu lado reclamando que isso é um absurdo, que esses empresários são muito gananciosos, etc etc etc. De novo, não é bem assim…
Imagine agora que você tem uma empresa e que você está precisando contratar um funcionário para fazer determinado serviço. Todos os valores a seguir são fictícios. Você sabe que se ele executar bem o serviço, o trabalho dele vai render mais ou menos R$ 2.500 por mês para você. Você faz seus cálculos e vê que está disposto a gastar R$ 2.000 por mês com esse funcionário.
Mas, o seu gasto com ele está longe de ser somente o salário. Você tem que depositar também o FGTS de 8%. Ou seja, para no total você gastar R$ 2.000 com ele, você deve pagar um salário de R$ 1.840 e um FGTS de R$ 160.
Está comigo até aqui? Bom, você pode pensar: “mas se o funcionário me rende R$ 2.500, por que eu não gasto os R$ 2.500 com ele?” Devolvo a pergunta para você: por que você contrataria alguém que não te traz lucro? A sobrevivência de uma empresa depende da sua lucratividade. As únicas empresas que permanecem de pé tendo prejuízos recorrentes são:
Empresas estatais:
- o prejuízo geralmente vem de uma ineficiência operacional em que se gasta mais recursos para realizar a atividade-fim do que se recebe pela venda desse produto ou serviço. Isso sem falar dos desvios e da corrupção. Tudo isso cria aberrações como os Correios que é um monopólio e que mesmo assim dá prejuízo. No fim das contas, se mantém de pé pois o Governo entra garantindo o saldo negativo;
Startups:
- empresas em início de operação costumam levar um bom tempo sem dar lucro e, por isso, seus donos e/ou investidores, devem estar dispostos a tirar dinheiro do bolso para cobrir o prejuízo.
Para falar a verdade, o lucro que a empresa tem em cima da sua mão de obra e da venda de seus produtos e/ou serviços nem vão para o bolso do patrão… Ainda tem muita coisa para rolar antes disso… Tem que tirar os custos fixos, variáveis, dívidas, e por aí vai.
Depois de tudo isso, paga imposto, muito imposto! Você reclama que o imposto de renda é alto, tenho certeza que reclama. Só que o IR para pessoa física chega na alíquota máxima a 27,5% e ainda é proporcional a cada faixa da sua renda, ou seja, na prática você vai pagar bem menos que isso de IR. Para empresas, o imposto chega a ser de 34%! Do que sobra, dependendo da estrutura da empresa, ainda sai mais dinheiro para, só então, o que sobrar é lucro.
Agora, lembra que eu falei que na verdade o desconto no seu salário era muito maior que 8%? Vou explicar. Você tem vários direitos trabalhistas, né? INSS, férias e finais de semana remunerados, décimo terceiro, aposentadoria pública, etc. A princípio parece lindo, não é mesmo? Saiba que tudo isso também sai do seu salário. O real custo de um trabalhador CLT para a empresa é de, na média, 2 a 2,5 vezes o salário dele. Ou seja, se a empresa está disposta a gastar R$ 2.000 pelo seu serviço, seu salário deveria ser de R$ 1.000 ou menos por mês! Mas, se for muito menos que isso, ficaria abaixo do salário mínimo e você provavelmente estaria desempregado. Isso é papo para outro artigo, mas enquanto ele não chega, confira esse vídeo.
Percebe como o FGTS e os outros direitos trabalhistas nada mais são do que o Governo falando “você não sabe cuidar do seu dinheiro, me dá ele aqui que eu cuido para você”. O problema é que o Governo não é bom com dinheiro, então ele cuida mal! Gastos enormes, desvios, corrupção…
Imagina que bom seria você, em vez de receber R$ 1.000 pelo seu serviço, receber os R$ 2.000 que seu patrão está disposto a gastar com você? Imagina R$ 1.000 a mais no bolso para você fazer o que quiser!
(Espero que você queira cuidar bem direitinho dele, investir a maioria, construir a sua própria aposentadoria…).
E os rendimentos do FGTS?
Tenho absoluta certeza de que você sabe que o dinheiro que está no FGTS rende todo mês. O que talvez você não saiba é que ele rende menos até que a Poupança. BEM MENOS. O FGTS rende todo mês a maravilhosa quantia de 3% + TR (taxa refencial = zero desde 2017) ao ano. Gente, o problema não é perder para a Poupança. O problema é perder para a Inflação!
Explicação rápida: inflação é a medida da variação dos preços. Inflação alta = preços subindo rapidamente. Inflação baixa = preços subindo devagar. Inflação negativa = preços caindo, também conhecido como deflação (muito perigoso, nunca deseje isso).
Exemplo da vida real: em um mês você consegue comparar 1 Kg de Tomate por R$ 5, no outro mês foi para R$ 5,50. Nesse caso, a inflação do Tomate foi de 10% de um mês para o outro. Valores fictícios!
Isso quer dizer que de um mês para o outro, seu salário continua igual, mas as coisas ficam mais caras! Então, com a mesma grana, você compara menos coisas.
Agora, os números reais: se você tinha, por exemplo, um saldo de R$ 10.000 no FGTS em 2012, ele se transformou em R$ 13.257,06 no final de 2018. Só que a inflação acumulada no mesmo período foi de 40,76%, ou seja, você precisaria de R$ 14.760 no final de 2018 para comparar as mesmas coisas que comparava por R$ 10.000 em 2012. Nessa brincadeira, você perdeu R$ 1.502,94 de poder de compra.
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A Poupança, mesmo na regra nova aplicada em 2012, rendeu mais. O mesmo valor aplicado na caderneta chegou a R$ 15.080,10 no período. Ou seja, um acréscimo de poder de compra de R$ 320,10.
Já quem investiu em um CDB rendendo 100% do CDI teria ainda mais ganhos. Aplicados em 2012, R$ 10.000 rendendo o CDI chegariam a R$ 16.100. Descontando o Imposto de Renda de 15%, alíquota que seria cobrada nesse prazo, o valor líquido ficaria em R$ 15.185. Ou seja, R$ 425 de ganho real.
Confira o gráfico abaixo:
Esses foram alguns exemplos, mas há investimentos muito melhores que esses considerando esse prazo.
Recapitulando e concluindo, por obrigação, a empresa tira uma parte do dinheiro que ela estaria disposta a pagar diretamente para você e dá na mão do governo. O governo coloca a sua grana para render, mas ela rende menos que a inflação. Com o passar dos meses e anos, você vai tendo mais grana lá, só que ela compara menos coisa no futuro do que compararia agora. Por outro lado, com esse dinheiro na mão, você poderia gastar como quisesse e inclusive investir onde quisesse!
Se tudo der certo, hoje, 24/07/19, o governo divulgará as novas regras para saque do saldo do FGTS, tanto para contas ativas quanto para inativas. Eu, como empreendedor e ex-CLT, tenho um dinheiro bom parado lá e estou ansioso para saber quando e quanto poderei sacar!
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Abraços,
Lucas Mauricio