De Olho na Gestão
“É mais importante do que nunca saber se definir, no sentido de responder à pergunta ‘o que você pretende solucionar’ em vez de ‘o que você produz’, porque o que você produz ficará obsoleto mais rápido do que em qualquer outro momento na história”
Jim Collins
A velocidade dos lançamentos, novos produtos e serviços, são uma variável importantíssima para os gestores, assim como o uso das informações de mudanças na demanda do mercado consumidor e, obviamente, a capacidade de entregar resultados consistentes e crescentes. Isso é possível quando a gestão entende que tudo é dinâmico quando se trata de negócios, que não existe “jogo ganho” enquanto a empresa existir, que garantias de execução e de resultados não existem, e que um time com capacidade para gerir os processos em circunstâncias diversas continua sendo uma das ferramentas mais eficazes para a sobrevivência a longo prazo.
Alguns setores possuem maior previsibilidade, contratos longos com remuneração advinda de consumo de primeira necessidade (transmissão, saneamento); outros são a bola da vez em relação à demanda futura (energia renovável, veículos elétricos, telemedicina, serviços de logística inteligente, etc.); outros estão classificados como negócios que precisam expandir o mix de negócios ou de produtos ofertados. A questão é que ninguém tem certeza do que vamos consumir ou se seremos tão consumistas em 2050. Seremos mais conscientes em relação ao uso dos recursos? Os produtos serão pensados para uma vida útil maior? A reutilização no processo produtivo ou a reciclagem com outros fins será a regra, ou continuará sendo um diferencial?
Olhe à sua volta e veja quantos produtos você já adquiriu ao longo da sua vida. Quantos você adquiriu de marcas que já não existem mais? Aquela bebida da sua infância, que hoje é apenas uma lembrança mostrada em forma de imagem na internet, ou aquele serviço que você usava, mas substituiu por outro, que é mais eficiente no atendimento às suas necessidades, que aliás também mudaram ao longo desse tempo, correto?
Para ficar mais claro, você ainda usa o mesmo produto/serviço que utilizava vinte anos atrás? O mIRC? Depois o MSN, Orkut? Usava o celular Motorola PT-550? Ou assim, como eu, teve o Nokia 5120? Ou para os mais jovens, o modelo Motorola RAZR V3?
Aquele celular que te permitia fechar com raiva, ao final de conversas desagradáveis! Não apenas apertar a tela! Que saudade.
E sem mais delongas, o nosso primeiro encontro da série “De olho na Gestão” será dedicado ao fracasso de alguns negócios e a te mostrar que as empresas não são imunes ao cenário, mas que uma boa gestão pode sim preservar valor, e não destruir. Vamos começar falando sobre Collins e os cinco estágios, aqueles que definem a caminhada para os prejuízos e até falências de algumas companhias. Quem sabe você não reconhece os sinais em alguns negócios atuais:
- Excesso de confiança que nasce do sucesso, o famoso “complexo de Narciso”. Exemplicando: Narciso vê apenas o reflexo do seu sucesso na água, então pensa: não importa o que eu faça ou não faça, sou invencível, a última bolacha do pacote, o alecrim dourado que nasceu no campo. E então nessa paixão avassaladora por seu desempenho, Narciso cai na água, buscando abraçar a própria imagem, e morre afogado.
- Busca indisciplinada por mais, seja o que for esse mais, pode envolver ego, crescimento em setores desconhecidos, etc., caso clássico da Arapuã. Mudança clara no posicionamento e no mix de produtos das concorrentes não foi suficiente para alertar. E o resultado todos conhecemos.
- Negar que existem riscos (Kodac). Aquelas empresas que, mesmo perdendo mercado e margem, tapam o sol com uma peneira, afirmando que é apenas uma “fase”. Os discursos e as letras coloridas nos releases tendem a aumentar nesse estágio, além dos discursos acalorados nos Web Casts.
- Tentando a salvação desesperadamente. Aqui alguns negócios são fênix, revivem das cinzas. Cases da Lego e da Marvel obtiveram sucesso, quando estavam quase perdidos. Diferente da Estrela, a Lego, que quase faliu há alguns anos, é mais rentável que a Mattel. E a Marvel, que em 1999 a ação não valia sequer US$ 1,00? Essa foi salva pelo Homem Aranha.
- Por fim, a irrelevância ou a morte (nesse último estágio, a salvação já não é opção – Gurgel e a concordata em 1993, devido a variáveis micro e macros).
” Quem vive de esperanças morre muito magro”.
Millôr Fernandes
Ainda segundo Collins, existem três abordagens para essa análise:
- Trabalho de reconhecimento das causas recorrentes, que contribuiram com maior ou menor impacto no trajeto descendente (declínio) do negócio. Aqui nascem os grandes problemas, que geralmente são acompanhados das frases: “sempre foi assim, nunca deu problema”, “mas é só dessa vez”, “ninguém faz do jeito que fazemos, está tranquilo”, “medir riscos é coisa de quem não tem talento”. Ou seja, não existe nenhum problema, visto que o sucesso foi alcançado. Portanto, nada precisa mudar.
- Aqui entra em cena o diagnóstico da ameaça em questão, e para isso é preciso saber o estágio do declínio em que o negócio está, que pode ser identificado através do reconhecimento dos sinais de cada um deles (estágios). O foco é conhecer as causas, no melhor estilo Diagrama de Ishikawa, para identificar as causas-raízes de um problema.
- E como vamos fazer a reversão? Qual o plano? O negócio já se encontra em um ponto que dificilmente poderá ser reorganizado, considerando que seja viável financeiramente fazê-lo? Ou já causou danos que dificilmente podem ser revertidos? O processo ainda pode gerar valor com as condições de demanda e de força produtiva existentes? Nessa fase, geralmente as empresas anunciam a troca do CEO, o que pode ser a última pá de terra ou a luz no fim do túnel.
Contextualizando: a empresa conseguiu alcançar o sucesso, é líder de mercado, é aquele negócio que “vende sem fazer força”, e por isso mesmo é tratada como “invencível”. Afinal, se existiu sucesso com as operações desta maneira, qual a necessidade de mudança? Os concorrentes não são um risco, pois temos marca, e contra isso ninguém pode!
E muitas vezes, devido ao auge, a empresa não percebe que pode se aproximar muito do risco excessivo e mal calculado (fica olhando para o abismo por muito tempo, mas não enxerga que o tombo será muito grande). Então, quando o risco não é mais suportado pelo negócio, entra em cena a negação (não é tão perigoso assim, vamos dar um jeito, somos os maiores do setor, a concorrência não fará nada que já não fizemos), e essa parte consome um tempo precioso/decisivo, que deveria ser usado para reconhecer as causas-raízes dos problemas e então resolvê-las, evitando assim alavancagem financeira excessiva, redução de capacidade de produção pelo comprometimento do capital, perda de qualidade e afastamento do preço referencial, perda de mercado e de lucro.
De quantas empresas você lembrou ao ler a descrição acima?
DICAS:
- Fique atento à gestão do negócio, para perceber se ela é capaz de enxergar as mudanças, se é capaz de usá-las como oportunidades, ou então ser capaz de identificar o tamanho do risco de uma possivel ameaça contida nessa mudança.
- Reconheça as ações recorrentes, as que são sistemáticas, pois são essas que definem os resultados do negócio.
- “O preço tem relação com a qualidade, mas não é determinante para a existência dela; o cliente percebe o preço de maneiras diferentes, depende do que você oferece e do que ele precisa”.
- Importante lembrar que “estar certo” não é mais importante do que “fazer certo”, e que genialidade não substitui equipes e tampouco demanda de mercado. Tu podes ser um gênio e criar um produto que o mercado não compre.
- Compreender “como” isso ou aquilo influencia o negócio é tão importante como “calcular” o quanto afeta.
- “Não podemos mudar o vento, mas podemos ajustar as velas”. Porém isso só é possivel quando a gestão é eficiente, ou seja, estamos falando de pessoas, não apenas de tecnologia e de recursos financeiros, afinal, você pode ter muito capital e ainda assim só fazer bobagem.
“Aprendemos mais prestando atenção do que falando. Na verdade, muitos problemas não são resolvidos porque o ego nos leva a acreditar que temos razão e não consideramos o ponto de vista do outro.”
Einstein para distraídos
Obrigada pela companhia!
Até a próxima oportunidade.
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