Regra é, em primeiro lugar, gestão da vida quotidiana.
Max Weber
Sim, eu uso essa frase com frequência, justamente para situar as pessoas, ou seja, mostrar que, por mais convidativo que o ambiente seja, se você não faz parte dos que fazem as regras, a casa não é sua. Portanto, deve “dançar conforme a música”. Não vai poder mudar o sofá de lugar, mas pode saber como agir se por acaso a mudança acontecer.
Nossa, Patrícia, que metáfora estranha! Qual a relação com a gestão de um negócio?
Vou contar uma história: era uma vez… Brincadeira, não é uma história bonita pra te convencer a acreditar em mim, não é um slogan perfeito que te faça rir e gostar mais de mim, é só realidade “nua e crua”, aquela que as pessoas costumam ignorar. Afinal, ela não é tão atraente, tão simples e, justamente por isso (ATENÇÃO: NÃO APENAS POR ISSO), que muitos negócios não sobrevivem, ou se sobrevivem, não prosperam. E sim, isso é ruim, pois não estamos falando apenas de uma empresa, mas de vários negócios ao longo dos anos. Dá uma “espiadinha” nos números que mostram a taxa de mortalidade das empresas no nosso país.
Mas isso é devido à questão fiscal/burocracia! Se você pensou isso, volte ao parágrafo anterior e leia novamente a frase escrita em letras maiúsculas, ou seja, é um conjunto de variáveis que afetam. Porém, não é realista excluir a falta de planejamento, a ineficiência, quando o assunto é a capacidade de gerir os recursos, de permanecer saudável financeiramente nos ciclos diversos do mercado, ou de entregar o produto certo, pelo preço contratado e com a qualidade solicitada.
Vamos à realidade: por que observar o cenário macro quando analisamos o negócio ou setor?
Bom, porque isso vai te ajudar a perceber que variáveis externas influenciam e tu não tens poder de controle sobre elas, mas pode e deve saber reagir da melhor forma possível às circunstâncias. Isso é trabalho de gestor.
A quantidade de dinheiro que circula em uma economia é uma das formas mais usuais de entendermos a saúde dessa economia. Já falamos sobre essa questão do crédito e consumo, que por sua vez aumentam os pedidos das empresas e a necessidade de matéria-prima, aumentando a produção, ou seja, com mais receita, a tendência é a empresa lucrar mais, e com maiores resultados, a lógica é o melhoramento do negócio, que continua contribuindo para o crescimento da economia. E para o investidor, o preço das ações e os dividendos tendem a acompanhar essa evolução também. Com maior lucro das empresas, a economia aquece, logo, aumenta a possibilidade de que o poder de consumo, com a inflação sob controle, aumente.
Para compreender como isso é importante para as empresas e para a precificação dos negócios, é preciso esclarecer alguns pontos:
A população evolui e consome mais, na medida em que a renda aumenta. Assim, os custos se elevam. A relação entre as variáveis é essencial para compreender a melhoria na vida da família. Obviamente que se as duas variáveis não apresentarem correlação linear, ou seja, a inflação estiver subindo mais rapidamente que a renda, a capacidade de consumo e, consequentemente, a qualidade de vida da família, se reduzem.
Quando os preços sobem, mas a renda “congela”, ocorre a chamada desvalorização da moeda, e consequentemente a piora na qualidade de consumo e de vida da família. Isso é muito ruim e, se analisarmos os últimos valores de repasse do salário mínimo, já temos uma ideia da situação. Apenas repasse da inflação, e efeito cascata acaba refletindo nos custos de produção, pois são cerca de 48 milhões de pessoas que têm a base de reajuste pelo salário mínimo.
A inflação de custos, de oferta, ocorre quando a demanda permanece estável, mas os custos de produção não. Aqui entram os juros, moeda – câmbio, renda – salários. Tudo aquilo que interfere no custo do negócio, aumenta; e com a operação mais cara, pode-se ter menos produtos disponíveis; com a demanda mantida, o preço aumenta, o que se define na teoria como movimento induzido. Ocorreu durante a pandemia e, com segunda onda, a probabilidade de ocorrer novamente é grande.
Mas veja que não ocorre apenas em pandemias, inclusive citei na nossa conversa da semana passada. Quando poucos players são fornecedores e fecham as portas, o que ocorre com uma oferta menor e uma demanda estável ou aumentando? E isso não é incomum de ocorrer.
Então você diria o seguinte? Qual o motivo da empresa não ter mais fornecedores?
Podem ser alguns motivos. Entre os principais, estão: ou a empresa não faz uma gestão eficiente da cadeia de fornecedores ou então não existem muitas escolhas para exercer.
Nas situações onde a indústria precisa aumentar os preços (afinal, o preço no fornecedor está maior, o que ocorreu em muitos setores na pandemia, e acaba desencadeando ainda mais inflação na cadeia inteira, que por sua vez interfere no preço; e se a demanda for elástica, vai refletir no consumo/faturamento), o que ela pode fazer?
Se existe concorrência acirrada, as empresas podem não conseguir repassar a inflação por um determinado período, pois aumentar os preços pode gerar perda de clientes/mercado. Então elas focam na quantidade para diluir o efeito, e reduzem a margem; conseguem manter um preço de venda que permita um resultado saudável, porém, não por longos períodos, principalmente quando a empresa precisa fazer investimentos para melhorar a operação e expandir.
Mas e quando não existe quantidade a ser produzida, devido à menor demanda? Casos de produtos supérfluos em épocas de crise braba: aquela blusinha, aquele tênis, não precisam ser comprados quando o dinheiro está escasso, né?
Bem, aí entra a questão da famosa capacidade produtiva, ou seja, produzindo menos que a capacidade, existirá a ociosidade, que obviamente também gera custos. Portanto, a gestão precisa planejar estratégias que não incorram em custos demasiados, que comprometam a rentabilidade da operação, ou seja, que acabem gerando prejuízos. Ela pode produzir mais/escala para que o custo marginal faça seu trabalho e assim ela consiga manter preço competitivo, mesmo repassando parte dos aumentos inflacionários recebidos na cadeia, caso exista demanda suficiente (mesmo em momentos de queda, onde exista margem para queimar), ou então arca com o custo de ociosidade e produz menos, assim, entra em cena a possibilidade de reestruturar a operação, enxugando, desinvestindo, caso a empresa entenda que a mudança no consumo será prolongada ou permanente.
Use a conta estoques do negócio: qual a estratégia da companhia? Receio de desabastecimento, logo, grandes compras que comprometem o ciclo econômico e disparam a necessidade de captar dinheiro a mercado? E ela consegue fazer isso? É fácil para qualquer empresa conseguir financiamento? E se conseguir, o custo é viável? Ou é apenas mais um buraco no barco afundando? E geralmente esse buraco costuma ser um dos maiores. Afinal, sem uma modelagem financeira para identificar os retornos dos projetos, considerando os custos que irão incorrer durante o processo, é improvável que os objetivos sejam alcançados, isso porque coisas improváveis acontecem, variáveis mudam, e sem um plano para gerenciar tanto os dias bons quanto os ruins, fica difícil.
E as grandes empresas? Aquelas que não têm problemas com financiamentos, também têm seu ciclo econômico alterado. O capital de giro precisa ser maior? Ou elas são imunes a qualquer cenário somente pelo fato de que são maiores? Não estão imunes. Elas sofrem também com aumento no custo da MP, principalmente quando não existe capacidade de armazenagem, ou em casos onde o custo-benefício de grandes quantidades não é custo de oportunidade. E onde vemos isso? Na DRE, afinal afeta o faturamento (quantidade/preço), mexe com o ciclo econômico, com o capital de giro. E se a empresa tem uma alavancagem financeira elevada e gerar menos caixa? Nada bom né!
Acompanhe o raciocínio: os preços dos alimentos estão subindo; isso é um fato que pode ser comprovado em qualquer supermercado; o preço das commodities (grãos) alcançaram recordes em 2020, com a soja indicando novos recordes na bolsa de Chicago e com o milho tendo uma provisão de aumento de área plantada, devido a uma demanda aquecida mundo afora, principalmente vinda da China e também da Europa, como destacado pelas entidades do setor. Logo, a expectativa da inflação entra em cena.
Enfim, temos alguma possibilidade de interferir em eventos macro para mudá-los e evitar que aconteçam? Individualmente não! Portanto, nesse aspecto somos apenas convidados, desfrutamos do anfitrião, mas não podemos mudar os móveis do lugar, temos que aprender a conviver com eles do jeito que estão e trabalhar para maximizar o aproveitamento da estadia.
Ninguém vence o mercado, empresas não são imunes, o cenário macro dita a regra. E você, gestor e/ou investidor, precisa saber dançar todos os ritmos que ele lançar.
Recue um passo e obtenha um panorama geral do seu negócio. Ao eliminar a complexidade, você terá uma visão clara do que está acontecendo no mundo real.
Ram Charan
Patrícia Rossari.
Gestão & Logística.
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