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‘Nearshoring’ e ‘Reshoring’: Mudanças na Globalização?

Os próximos anos serão marcados pelo chamado “nearshoring” e “reshoring”, termos que se referem ao processo de aproximação ou internalização das cadeias produtivas – e que tem ganhado cada vez mais peso na agenda americana e europeia. Como consequência, alguns mercados e setores serão afetados ao longo do tempo, sobretudo na Ásia, que se beneficiaram nos últimos 30 anos de um forte aumento da comercialização com o Ocidente.

 Nesse sentido, propomos estratégias à luz de um cenário de menor crescimento econômico e comercial, sobretudo que se beneficiem de eventos de cauda envolvendo novos conflitos geopolíticos. Entendemos como oportuno: 1) estratégias que se beneficiem de uma posição relativa favorável ao mercado americano em relação aos mercados da Ásia emergente; 2) exposição à setores mais ligados à economia doméstica americana em relação aos setores mais cíclicos e de maior exposição ao ciclo global.

‘Nearshoring’ e ‘reshoring’: saiba por que empresas americanas estão abandonando a China

Muitos nos círculos financeiros disseram que o esforço das indústrias americanas para reduzir suas cadeias de fornecimento e trazer a produção de volta para casa duraria pouco.

Assim que a pandemia desse uma trégua, e as cadeias globais de logística e transporte voltassem a funcionar, a moda passaria, argumentavam. Mas, dois anos e meio depois do início da Covid, essa tendência parece estar mais forte do que nunca.

Diante da guerra na Ucrânia e das levas mais recentes de lockdowns na China para conter novos surtos do coronavírus, nunca os CEOs americanos mencionaram tanto os planos de realocar a produção de suas empresas.

Segundo levantamento feito pela Bloomberg em apresentações de resultados corporativos e em transcrições das conferências de executivos com analistas do mercado, foram quase 200 menções a nearshoring, onshoring e reshoring.

Mas, afinal, o que significa esses termos da moda? E onde as novas fábricas americanas estão se posicionando?

Segundo dados da Dodge Construction Network, houve um aumento de 116% na construção de novas instalações fabris nos EUA em 2021, segundo levantamento.

Em oposição ao offshoring, termo que ficou famoso nos anos de ouro da globalização como sinônimo de levar a fabricação de partes do produto ou até do item completo para subsidiárias em países de mão de obra mais barata – sobretudo a China – o onshoring significa produzir no mercado onde o bem será consumido.

Reshoring, por sua vez, é trazer de volta para o país de origem da empresa a produção que, no passado, estava em offshoring.

E o nearshoring é encurtar as cadeias de produção. Em vez de ter um fornecedor na Ásia para abastecer o mercado dos Estados Unidos, buscar fabricantes em países mais próximos, como México ou América do Sul, para substituí-lo e reduzir os riscos de possíveis gargalos de logística e transporte.

E se a China invadir Taiwan?

A redução nos custos de envio e prazos de entrega mais céleres ajudaram a manter a clientela. A invasão da Ucrânia pela Rússia foi outro fator de preocupação, não só porque aumentou os custos globais de frete, mas porque, segundo ele, foi um lembrete de que a China poderia tentar invadir Taiwan.

Ou seja, subitamente, todo um contexto de estabilidade geopolítica que encorajou executivos a globalizarem suas operações começou a desvanecer.

Nearshoring pode trazer ascensão para América latina?

Enquanto o nearshoring geralmente se refere amplamente ao movimento de operações da Ásia para a América Latina para estar mais perto dos principais mercados da América do Norte, a forte dependência histórica das empresas americanas da mão-de-obra chinesa para a fabricação de bens significa que em grande parte dos casos se refere especificamente ao movimento de produção para fora da China – um rival cada vez mais assertivo dos Estados Unidos no cenário global.

Uma linha de produção em Puebla, México, um destino chave para o nearshoring de empresas americanas

O nearshoring tem sido uma tendência de crescimento nos últimos anos, com o Índice de Reformas Kearney de 2019 destacando como as exportações do México para os Estados Unidos aumentaram US$ 28 bilhões em comparação com o ano anterior – um aumento de 10% em relação ao ano anterior, isso é recorde histórico para as empresas americanas próximas ao nearshoring para as Américas e de volta aos Estados Unidos.

O nearshoring permite que as empresas reduzam significativamente os custos e as vulnerabilidades relacionadas ao transporte de seus produtos para o mercado. No caso de empresas que se mudam para o México, em alguns casos as mercadorias podem chegar aos Estados Unidos no mesmo dia em que são despachadas das instalações de produção do outro lado da fronteira.

O fato de a América Latina estar situada em fusos horários semelhantes aos dos Estados Unidos é outra razão pela qual o nearshoring é uma opção favorecida em comparação com outras alternativas à China, como o sudeste asiático. Isso é agravado pelo aumento dos níveis de proficiência em inglês na América Latina – significativamente maior do que o observado no sudeste asiático – tornando o nearshoring cada vez mais atraente para as empresas americanas.

Remodelagem das cadeias de suprimentos

Acompanhando esse movimento, uma pesquisa da McKinsey com executivos seniores da cadeia de suprimentos mostrou que melhorar a flexibilidade, agilidade e resiliência do setor estava no topo da lista de prioridades. A maneira que encontraram de fazer isso foi a regionalização.

Talvez ainda mais importante, nearshoring também significa que as companhias precisam desenvolver novos ecossistemas, trabalhar em sincronia com fornecedores e parceiros – de matérias-primas a peças, transporte e montagem final. Esse processo facilita a troca de conhecimento, experiência e colaboração, o que, por sua vez, permite que as empresas inovem e se adaptem mais rapidamente às necessidades dos clientes e às tendências do setor.

Equilíbrio entre global e local

No entanto, as cadeias de suprimentos locais têm vulnerabilidades significativas. Como elas estão mais expostas a interrupções que podem surgir localmente, os gerentes precisam ter planos de backup que permite que a fabricação seja selecionada ou mantida em outro lugar, se necessário.

A padronização global de processos e produção, em contrapartida, fornece a espinha dorsal necessária, melhorando a resiliência geral do segmento. E sempre haverá uma porcentagem de oferta global – certas matérias-primas como plásticos e componentes eletrônicos, incluindo semicondutores, por exemplo.

Em outras palavras, a resiliência da cadeia de suprimentos não é algo global ou local, mas busca um equilíbrio que colha os benefícios e reduza os riscos de ambos. Além disso, com esse princípio, a tecnologia está ajudando que os desafios – mesmo que corriqueiros – se tornem cada vez mais amenos e gerem menos impactos nas operações como um todo.

Sustentabilidade

Há também um imperativo de sustentabilidade: as cadeias de suprimentos mais curtas têm menos impacto no meio ambiente do planeta.

As cadeias de suprimentos das empresas de consumo normalmente respondem por mais de 80% de suas emissões totais de gases de efeito estufa e mais de 90% de seu impacto na terra, água, biodiversidade e nos recursos geológicos, de acordo com a McKinsey.

Por isso, os líderes de negócios e da cadeia de suprimentos têm a responsabilidade de reduzir esse impacto. Nearshoring e cadeias de suprimentos mais curtas são uma maneira de fazer isso, assim como as tecnologias digitais para gestão e eficiência de energia e recursos.

Seja fornecendo energia verde, reduzindo embalagens ou dando aos produtos uma segunda vida, há muitas maneiras concretas pelas quais as empresas podem e devem agir.

Há muita retórica sobre o fim da globalização. A realidade, no entanto, é muito mais sutil. Maior agilidade e resiliência nas cadeias de suprimentos não é um caso de preto e branco ou algo como local versus global. Em vez disso, trata-se de encontrar um equilíbrio entre os dois – agora e no futuro.

Gostou do assunto? Até a próxima.

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