O mercado de streaming está cada vez mais imprevisível e com cada vez mais concorrentes. Temos grandes empresas disputando a atenção dos usuários e, por mais que seja possível um usuário ser assinante de mais de um serviço, isso tem se tornado cada vez mais complicado, a medida que a inflação segue alta, os preços dos streamings estão subindo, o número de players aumenta e uma possível recessão se aproxima.
Se antes acreditavam que era possível muitas pessoas serem assinantes de diversas dessas plataformas, hoje isso está se mostrando equivocado. Tendo a achar, inclusive, que isso tende a piorar daqui para frente, a depender das consequências dos eventos macroeconômicos correntes.
Guerra na Ucrânia, fornecimento de gás para a Europa, seca na China e na Europa, inflação ainda rodando em níveis elevados em quase todas as partes do mundo e os juros subindo de forma mais forte nos Estados Unidos e começando a subir na Europa.
Esses aumentos nos juros devem levar a um controle da inflação, porém, pode ser que, somado a todos os outros fatores que citei, leve também o mundo para uma recessão. Esse maior risco, na minha opinião, é para a Europa, mas com alguma possibilidade concreta de atingir também os Estados Unidos.
Com essa possível recessão e até mesmo com apenas uma desaceleração econômica, é provável que vejamos uma queda no crescimento de diversos serviços de streaming e alguns podem inclusive já terem chegado ao seu topo e irão apenas variar levemente com o tempo, ou seja, tendo pouquíssimo crescimento. E esse pode ser o caso da Netflix, lembrando que a empresa já cai mais de 60% neste ano.
Fonte: Google
Lembro que há 1 ou 2 anos atrás, muitos falavam que a Netflix iria chegar a 300 milhões de assinantes em 2023 ou até 2024. Eu mesmo falei em relatório que achava que ela poderia chegar a esse número em 2025 (atualmente acho improvável). Hoje, mesmo a empresa tendo 220,67 milhões de assinantes, vejo os 300 milhões cada vez mais distante da realidade da empresa.
Na imagem abaixo conseguimos ver o crescimento de assinantes da Netflix nos últimos anos e, percebemos que, desde o último trimestre de 2021, o número de assinantes não só parou de crescer, como teve uma leve queda.
Fonte: Statista
Esses 220,67 milhões de assinantes da Netflix, se comparam aos 152,1 milhões da Disney+, 46,2 milhões do Hulu e 22,8 milhões da ESPN+, que fazem parte do “Grupo Disney” e somados possuem mais de 221 milhões de assinantes de streaming. E é interessante olharmos esses últimos três players de streamings juntos, já que a Disney possui pacotes com e sem anúncio incluindo esses três streamings, e ao mesmo tempo que isso impulsiona a “venda pacote” desses três produtos, também faz com que os clientes possam ter uma fidelidade maior já que, a depender do pacote, ele assina essas três plataformas com o mesmo valor da assinatura da Netflix.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o preço de um pacote do Disney+, Hulu e ESPN+, todos com anúncios, será de US$ 12,99, bem abaixo dos mais de US$ 15 que custa a assinatura da Netflix, essa, por sua vez, sem anúncios (o pacote das outras sem anúncio custa US$ 20). A inclusão de uma assinatura com propaganda, inclusive, é uma das mudanças que a Netflix vai implementar em 2023 para tentar voltar a crescer seu número de usuários.
Além desses streamings, a Netflix concorre ainda com os streamings da Warner Bros. Discovery, que possui o HBO, HBO Max e Discovery+, que combinados possuem 92,1 milhões de assinantes e também agregam pacotes em uma mesma assinatura.
A Amazon prime video, que está dentro da assinatura Prime da Amazon, também é um player relevante e, por mais que provavelmente não são todos os assinantes do Prime que veem com alguma frequência o streaming da Amazon, essa assinatura já conta com mais de 200 milhões de pessoas e também possui uma força enorme, já que conta, por exemplo, com frete grátis no site da Amazon e desconto em alguns produtos.
Portanto, também não é simples as pessoas deixarem de ser assinantes da Amazon.
A Apple também possui seu streaming, porém, não divulga o número de assinantes. O mercado especula que esteja ao redor de 30 milhões, começando a ser também um player relevante e, mais importante ainda, tendo bastante capital para investir em crescimento.
Por fim, existem outros players cada vez mais relevantes buscando espaço neste mercado, como Paramount, Peacock, CuriosityStream, entre outros, o que aumenta ainda mais a competição.
Antes de concluir este artigo, quero trazer uma pesquisa recente, de julho de 2022, da Morning Consult em parceria com a Variety Intelligence Platform, que entrevistou 2.200 adultos norte-americanos, e desses, 38% disseram que já começaram a fazer mudanças nos gastos com atividades, como assistir a shows ou ir ao cinema. Como o streaming é algo mais atual, e na última grande inflação nos EUA ele não existia, ele não possui um histórico de pesquisa mais longo, mas creio que esteja englobado aqui.
Além disso, um dado interessante é que recreação e entretenimento estão em segundo lugar entre as categorias que os consumidores projetaram que cortariam em caso de recessão, juntamente com viagens. Ambos ficaram atrás apenas dos gastos em restaurantes.
Até para ser um pouco mais específico, a pesquisa descobriu que 26% dos adultos dizem que já fizeram alterações em suas assinaturas mensais de entretenimento como resultado do aumento da inflação.
Por fim, a pesquisa mostrou que pouco mais da metade dos entrevistados disse que continuaria pagando por assinaturas de streaming de áudio e vídeo, mesmo que as empresas aumentassem os preços, mas 39% considerariam o cancelamento.
Voltando a falar da Netflix, além das assinaturas com propaganda, a empresa ainda vai tentar capturar receita dos cerca de 100 milhões de lares que assistem a plataforma e não pagam. Por mais que isso seja importante ser feito, ficaria surpreso se essa ação conseguisse adicionar mais de 5% da receita atual da empresa. Portanto, por mais que seja importante, não deve “mudar o jogo” aqui.
Vale destacar que, antigamente, a Netflix incentivava o compartilhamento de senhas e isso foi uma importante estratégia do seu marketing. Mas com o aperto monetário vigente e necessidade de crescimento, isso obviamente tem que mudar.
Fonte: Twitter da Netflix
Dado toda essa competição no mercado que citei e o cenário macro mais difícil daqui para frente, eu ficaria distante da Netflix neste momento. Porém, acho que ela está bem distante de “quebrar”, falir ou qualquer outra coisa deste tipo. Apenas não acho que ela conseguirá entregar o crescimento que ainda se espera dela, mesmo com essa queda das ações de 61% no ano.
Com toda essa competição, não me espantaria se ela caísse mais 20% nos próximos meses, por exemplo.
Mas isso não quer dizer que não existam oportunidades no mercado de streaming.
Na carteira de Stocks, dentro do Dica Internacional, temos uma empresa de streaming que possui bastante vantagem competitiva, além de estar exposta a diversos outros setores e o streaming ser apenas uma parte pequena dos seus resultados.
Além disso, temos uma outra empresa que não foi citada neste artigo, que possui um serviço de streaming nichado, ou seja, que possui “produções televisivas” para um público bem específico.
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Abraços e bons investimentos,
Raphael Rocha.
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