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Análise do IPO do Grupo SOMA (Código B3: GSOM3)

A companhia Grupo de Moda Soma S.A., no dia 28/fevereiro/2020, registrou um pedido para a realização de oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) junto à CVM, mas logo depois veio a pandemia causada pelo COVID-19 e a companhia resolveu suspender o processo por conta da queda no mercado acionário no mês de março. Agora em julho/2020, o Grupo Soma resolveu dar prosseguimento ao seu pedido de abertura de capital. Esta é a oitava Oferta Pública de 2020 no Brasil.

Esse relatório visa expressar a nossa opinião com relação à viabilidade econômica e financeira do investimento pelos preços pedidos. Só foram usadas informações públicas nesta análise.

– Características da Oferta:

  • Oferta Primária: 363.636 ações (sem considerar Ações Adicionais e Ações Suplementares)
  • Oferta Secundária: somente será realizada na eventual colocação das Ações Adicionais e das Ações Suplementares
  • Faixa Indicativa de Preço: entre R$ 8,80 e R$ 11,00 por ação
  • Código da empresa: GSOM3
  • Nível de Governança: Novo Mercado (só ações ON)
  • Ações em circulação após o IPO (“free float”): 28,6% a 38,58% (incluindo Ações Adicionais e Suplementares)
  • Valor Mínimo: R$ 3.000,00 (Três Mil Reais)
  • Valor Máximo: R$ 1.000.000,00 (Um Milhão de Reais) (por investidor não institucional)
  • Período de Reserva: entre 15/julho/2020 (inclusive) e 27/julho/2020 (inclusive)
  • Fixação do Preço por ação: 29/julho/2020
  • Início de Negociação das Ações: 31/julho/2020
  • Data de Liquidação: 03/agosto/2020

– A Companhia:

Grupo Soma se considera a maior plataforma de marcas de moda premium do Brasil, destinadas aos públicos A e B, em termos de receita líquida. O Grupo está entre as 50 maiores empresas do e-commerce brasileiro e é a líder do e-commerce no setor de varejo de moda brasileiro. Por meio de seu portfólio diversificado e complementar de marcas de alto padrão, consegue cobrir uma grande variedade de estilos e ocasiões para mulheres, homens e crianças.

O grupo conta com oito marcas comercializadas para aproximadamente 1,1 milhão clientes em 282 lojas, sendo 257 lojas próprias e 25 franquias, distribuídas em 23 estados brasileiros, no Distrito Federal e em 2 estados americanos (1 loja em Nova Iorque e 1 loja em Miami). De suas 282 lojas, 244 estão localizadas em shopping centers consolidados e 38 são lojas de ruas. Além de suas lojas físicas, comercializa seus produtos, também, através de 9 websites proprietários de e-commerce e de um aplicativo móvel da marca Off Premium. Seu canal digital recebe 55 milhões de visitas anuais e cresce a taxas exponenciais, com estoques totalmente integrados, onde operam no modelo omnichannel full.

Além de atuar no mercado varejista, o Grupo Soma conta com uma participação relevante dos seus negócios oriunda do mercado de atacado, comercializando seus produtos através de aproximadamente 2.800 revendedores multimarcas, o que a permite atingir uma alta capilaridade no país, distribuindo suas marcas em mais de 1.063 cidades brasileiras.

A história do Grupo Soma começou em 2010, com a fusão de duas grandes marcas: ANIMALE e FARM. A ANIMALE é uma referência no mercado de moda feminina e foi criada em 1991 pela família Jatahy. A marca se consolidou como uma das maiores marcas premium do Brasil, com produtos de alta qualidade, focada no luxo e na sofisticação. A marca teve um faturamento anual de R$ 502,348 milhões em 2019.

A FARM foi criada em 1997 pelos sócios Marcello Bastos e Katia Barros. A marca incorpora o espírito feminino e as cores vibrantes do Rio de Janeiro na criação de seus produtos. A marca teve um faturamento anual de R$ 659,678 milhões em 2019.

Em 2014, o grupo ganha as presenças da marca FÁBULA, a moda infantil criada pelos sócios da Farm (com faturamento anual de R$ 48,567 milhões em 2019), e da marca contemporânea A. BRAND (com faturamento anual de R$ 41,604 milhões em 2019). Em 2015, a marca FOXTON reforçou seu portfólio, representando a única marca masculina do grupo (com faturamento anual de R$ 38,688 milhões em 2019). Em 2017, entra para o grupo a marca CRIS BARROS, marca paulista de alto luxo que é referência entre as marcas brasileiras de luxo, com um público extremamente fiel e exclusivo (com faturamento anual de R$ 106,129 milhões em 2019).

Em 2018, surge a OFF PREMIUM, marca originalmente criada para escoamento dos saldos de coleção das marcas do Grupo Soma. Hoje opera também como um marketplace digital (com R$ 3,268 bilhões de GMV – Gross Merchandise Volume), comercializando produtos de outras marcas renomadas do varejo de moda nacional (com faturamento anual de R$ 112,199 milhões em 2019). Em 2019, a Animale ganha ainda mais sofisticação com as suas marcas ANIMALE JEANS e ANIMALE ORO (linha de joias). E por último, em 2020, se junta ao grupo a marca MARIA FILÓ, com um trabalho em tricô rico em cores e detalhes.

– Produção, Operação e Distribuição:

No Brasil, suas operações são apoiadas por 9 centros de distribuição, com área total superior a 13 mil metros quadrados.

Além disso, o grupo conta, também, com um ateliê de desenvolvimento localizado no Rio de Janeiro, em que são realizadas as modelagens e prototipagem das coleções futuras de suas marcas.

O Grupo Soma conta com 3 fábricas: 2 fábricas localizadas no Rio de Janeiro e 1 fábrica localizada em São Paulo.

– Pontos Fortes do Grupo Soma:

  • Marcas icônicas, autênticas e altamente desejadas: manutenção e respeito às origens e ao DNA de cada marca. Seus consumidores associam as suas marcas a produtos de alta qualidade, estilo, sofisticação e exclusividade;
  • Sólida plataforma de gestão: que conecta marcas de diferentes maturidades em um ecossistema estruturado que promove eficiência, economias de escala, compartilhamento de serviços, garantindo qualidade aos processos internos. Esta plataforma ajuda o grupo a crescer organicamente ou via aquisições;
  • E-commerce de alto crescimento e lucrativo: experiência de compra diferenciada e uma entrega mais rápida. A sua plataforma digital é lucrativa e rentável a nível operacional e financeiro;
  • Estratégias Omnichannel 100% implementadas: o grupo já implementa estratégias multicanal há mais de 5 anos através de iniciativas como o Código Vendedor, em que os vendedores das lojas físicas estimulam a venda online por meio da divulgação de um código promocional individualizado, sendo comissionados tal qual uma venda em loja física. Em 2019, implementou o Omnichannel Full (shipping from store, pick-up in store e in store), que inclui a integração da compra em lojas físicas, e-commerce, aplicativos móveis e mídias sociais, atingindo a venda de R$ 79,2 milhões, o que correspondeu a 30% da venda captada no e-commerce e levando o percentual de vendas no digital para 22% da venda total de varejo (físico e e-commerce somados). No 1T20, a participação do omnichannel nas vendas captadas no e-commerce foi de 32%, comparativamente a 17% no mesmo período de 2019.

– Pontos Fracos do Grupo Soma:

  • A pandemia da doença causada pelo novo coronavírus (COVID-19) deve ter um efeito adverso relevante sobre os negócios e resultados operacionais do grupo: os principais desafios estão ligados a possíveis ajustes que podem ser demandados em função de mudanças nos comportamentos de consumo, com uma preocupação com o modelo de negócios atual do mercado de atacado, que poderá passar por um processo de transição nos próximos anos, assim como possíveis alterações na capacidade de atração de consumidores dos shopping centers no curto e médio prazos;
  • O grupo pode não identificar ou não responder de forma rápida e bem-sucedida às mudanças nas tendências da moda e nas preferências dos clientes: qualquer falha em antecipar, identificar, desenvolver novos produtos, novas coleções e responder às mudanças de tendências na moda pode afetar adversamente a aceitação das mercadorias e a imagem das marcas perante seu público-alvo;
  • Risco de não conseguir gerir seu estoque com eficiência;
  • Risco na implementação da sua estratégia de crescimento orgânico ou por meio de aquisições de novas marcas;
  • O preço das matérias-primas utilizadas pelo grupo pode ser afetado pela volatilidade nas cotações de commodities e uma oscilação brusca e inesperada poderá ter um efeito adverso relevante.

– Estratégia:

A estratégia de crescimento do Grupo Soma é baseada em 4 pilares principais:

  1. Expansão
  2. Estratégia Digital
  3. Otimização de Leadtime
  4. Administração de portfolio

– Impactos do COVID-19 nas atividades do Grupo Soma:

O grupo está enfrentando um período de incertezas relacionado ao impacto contínuo da pandemia do coronavírus (COVID-19) sobre a demanda projetada de clientes, incluindo seus clientes de vendas por atacado (lojas multimarcas) e sua cadeia de suprimentos. Em 18 de março de 2020, com o intuito de resguardar a saúde e segurança de seus funcionários e consumidores, o grupo decidiu fechar temporariamente todas as suas lojas e fábricas, independentemente de haver determinações das autoridades federais, estaduais ou municipais. Durante a pandemia do COVID-19, as lojas do grupo, em sua maioria localizadas em shopping centers no Brasil, e as lojas multimarcas, que comercializam seus produtos, tiveram que fechar ou passaram a funcionar em horário reduzido em função dos esforços para impedir ou retardar a propagação da COVID-19. Recentemente o grupo reabriu suas fábricas, observando os protocolos recomendados de saúde e segurança do trabalho para proteção de seus funcionários.

Em função da pandemia de COVID-19 o grupo focou seus esforços de venda em sua plataforma omnichannel, logrando obter receita de vendas via e-commerce. No entanto, embora as vendas nos canais digitais tenham aumentado significativamente, se comparado a períodos anteriores, os totais de sua receita sofreram impactos no segundo trimestre de 2020, e o grupo poderá continuar a ser impactado a depender de como a pandemia de CODIV-19 evoluir.

Para proteger a liquidez, em março de 2020 o grupo efetuou a captação de recursos por meio de linhas de crédito bancárias, antecipação de recebíveis e readequou sua estrutura de custos, com o objetivo de aumentar sua posição de caixa e preservar sua flexibilidade financeira.

– Destaques Operacionais e Financeiros:

– Receita Bruta:

A receita bruta no 1T20 foi de R$ 357,5 milhões, comparativamente a R$ 351,2 milhões do 1T19, representando um aumento de R$ 6,3 milhões, ou 1,8%, impulsionada por um crescimento significativo do e-commerce e do omnichannel, além de um crescimento de SSS (Same Store Sales), que atingiu 3% no último trimestre.

Comparando o desempenho entre 2019 e 2018, a receita bruta cresceu 19,2%, para R$ 1,55 bilhão, impulsionada também pelo crescimento significativo do e-commerce e do omnichannel, além do crescimento de SSS (Same StoreSales), que atingiu 12,9% no último ano, e pela contribuição das novas lojas abertas no período.

– Receita líquida de vendas:

A receita líquida de vendas no 1T20 foi de R$ 294,5milhões, comparativamente a R$ 293,3 milhões no 1T19, representando um aumento de R$ 1,2 milhão, ou 0,4%. Comparando o desempenho entre 2019 e 2018, a receita líquida de vendas em 2019 foi de R$ 1.304,1 milhões, comparativamente a R$ 1.082 milhões de 2018, representando um aumento de R$ 222,1 milhões, ou 20,5%.

– EBITDA Ajustado e Margem EBITDA:

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) ajustado atingiu -R$ 1,5 milhão no 1T20, equivalente a uma margem EBITDA de -0,5%, representando uma redução ao comparar com o EBITDA Ajustado de R$ 32,6 milhões e margem EBITDA de 11,1% do 1T19. Comparando o desempenho entre 2019 e 2018, o EBITDA ajustado atingiu R$ 182,6 milhões em 2019, equivalente a uma margem EBITDA de 14%, comparativamente a R$ 126,5 milhões de 2018, representando um aumento de R$ 56,1 milhões, ou 44,3%, impulsionado pelo aumento da receita do e-commerce e aliado às melhorias proporcionadas pelo Soma Labs.

– Lucro Líquido:

No 1T20, o Grupo Soma apresentou um prejuízo de R$ 43,5 milhões, comparativamente a um lucro de R$ 25,9 milhões no 1T19, representando uma queda de R$ 69,4 milhões, ou 267,7%. Comparando o desempenho entre 2019 e 2018, o Lucro Líquido atingiu R$ 126,8 milhões em 2019, representando uma margem líquida de 9,7% e um crescimento de 48% em comparação a 2018, como reflexo do aumento significativo no faturamento dos canais digitais e redução nos custos, resultado dos investimentos na melhoria e confiabilidade da operação, controle de despesas e melhoras práticas financeiras.

– Endividamento:

No fim do 1T20, o índice de endividamento total (representado por passivo circulante acrescido do passivo não circulante e dividido pelo patrimônio líquido) do Grupo Soma era de 2,1x e sua posição de caixa e equivalentes de caixa era de R$ 111,5 milhões, e a dívida líquida totalizava R$ 213,69 milhões, com um índice de alavancagem financeira (que compreende a dívida líquida dividida pelo patrimônio líquido) de 0,5x.

No fim de 2019, o índice de endividamento total era de 2,7x. O aumento do índice de endividamento total, que saiu de 1,6x no fim de 2018, deve-se, principalmente: à adoção do IFRS 16 e à deliberação de dividendos a pagar em 2019. No fim de 2019, a posição de caixa e equivalentes de caixa do grupo era de R$ 27,8 milhões e a dívida líquida totalizava R$ 181,57 milhões, com um índice de alavancagem financeira de 0,53x.

– DRE (Demonstração de Resultado):

– Informações consolidadas:

– A Oferta:

A Oferta das ações do Grupo Soma será composta por uma emissão Primária (“o dinheiro vai para o caixa da companhia”) de 136.363.636 novas ações ordinárias e uma emissão Secundária (“o dinheiro vai para os acionistas vendedores”), que somente será realizada na eventual colocação das Ações Adicionais e das Ações Suplementares. Simultaneamente, serão realizados esforços de colocação das Ações no exterior pelos Agentes de Colocação Internacional (para investidores institucionais).

O período de reserva vai ser compreendido entre 15/julho/2020 (inclusive) e 27/julho/2020 (inclusive), destinado à efetivação dos Pedidos de Reserva pelos Investidores Não Institucionais.

O valor mínimo de pedido de investimento é de R$ 3.000,00 e o valor máximo de pedido de investimento é de R$ 1.000.000,00 por Investidor Não Institucional.

As ações ordinárias de emissão da companhia passarão a ser negociadas no Novo Mercado a partir do dia 31/julho/2020, sob o código “GSOM3”.

– Preço e Valor total da oferta:

Estima-se que o Preço por Ação ordinária no contexto da Oferta estará situado entre R$ 8,80 e R$ 11,00, podendo, no entanto, ser fixado acima ou abaixo dessa faixa indicativa. O preço será fixado no dia 29/julho/2020 após o resultado do procedimento de Bookbuilding.

O Valor Total da Oferta, considerando o preço no Preço por Ação de R$ 9,90 (que é o ponto médio da faixa indicativa), vai ser de R$ 1.349,9 milhões, ou R$ 1.280,4 milhões em Recursos Líquidos (sem considerar as ações adicionais e suplementares).

– Lotes de Ações Adicionais e Ações Suplementares:

Poderá, a critério da companhia e dos Acionistas Vendedores, em comum acordo com os Coordenadores da Oferta, ser acrescida em até 20% do total de Ações inicialmente ofertadas, ou seja, em até 27.272.727ações, e ainda 15% em lote suplementar, que representam até 20.454.545, ambas alienadas pelos acionistas vendedores (Oferta Secundária) .

– Restrições à Negociação das Ações (Lock-up):

Um item importante a se observar em relação à oferta é a questão do Lock-up. O Grupo Soma estabeleceu duas opções de pedido de reserva para Investidores de Varejo (investidores não institucionais, pessoas físicas e jurídicas residentes, domiciliadas ou com sede no Brasil e clubes de investimento registrados na B3): pedido de reserva “com Lock-up” ou “sem Lock-up”. Os Investidores de Varejo que tenham interesse em participar diretamente da Oferta de Varejo Lock-up, deverão, necessariamente, indicar no Pedido de Reserva que estão de acordo com o Lock-up da Oferta de Varejo. Para pedidos de reserva “com Lock-up” e “sem Lock-up” serão garantidos até 5% do total das Ações; caso seja superior a 5% do total das Ações, poderá haver rateio.

O período para Investidores de Varejo “com Lock-up” é de 45 dias de Lock-up (período de tempo que o acionista que entrar na emissão precisa ficar sem poder vender).  A data de término do Lock-up vai ser no dia 12/setembro/2020. Após este período, o investidor pode negociar as suas ações GSOM3 livremente no mercado.

Investidores do segmento Private terão 90 dias de Lock-up (se optarem por esta opção) e, além disso, vai existir um período de Lock-up de 180 dias para a própria companhia, acionistas vendedores e administradores. Neste período, eles não podem fazer qualquer tipo de operação com suas ações.

– Capital Social e Diluição do controle pelos sócios atuais:

Atualmente, o capital social do Grupo Soma é de R$ 143,83 milhões, divididos em 340,77 milhões de ações ordinárias. Os principais acionistas da empresa são Roberto Luiz Jatahy Gonçalves (26,83%), Claudia Jatahy Gonçalves (26,04%), Gisella Jatahy Gonçalves (8,63%), Marcello Ribeiro Bastos (7,39%), Katia Ferreira de Barros (7,36%) e Nézio Nogueira de Barros (6,16%). Todos venderão parte de suas fatias se forem exercidos os lotes adicional e suplementar. Após a realização da Oferta, o Sr. Roberto Gonçalves continuará a exercer o controle da companhia, uma vez que deterá 16,45% do capital social da companhia (considerando a colocação das Ações Adicionais e das Ações Suplementares).

Segundo o estatuto social, o capital social poderá ser aumentado, independentemente de reforma estatutária, em até 100 milhões de novas ações ordinárias.

– Destinação dos recursos da Oferta:

O Grupo Soma estima que os recursos líquidos que serão recebidos com a Oferta Primária serão de aproximadamente R$ 1.280,4 milhões (conforme explicamos anteriormente).

Este dinheiro será utilizado para:

  • Aquisição de novas marcas;
  • Pagamento de dividendos devidos referentes a exercícios sociais passados;
  • Amortização ou liquidação, conforme o caso, de dívidas vigentes da Companhia;
  • Investimentos em tecnologia e omnichannel;
  • Abertura de novas lojas físicas, bem como a modernização e retrofit de suas lojas atuais.

– Análise do Preço:

A primeira coisa que precisamos observar na hora que estamos entrando numa Oferta Inicial (IPO) é a quantidade de diluição que estamos sofrendo. Isso nada mais é que calcular o indicador

P/VPA (Preço sobre Valor Patrimonial):

Na tabela abaixo, vemos que após a oferta o patrimônio líquido será aumentado de R$ 264 milhões para R$ 1,544 bilhão com a emissão das ações.

Na próxima tabela vamos observar a composição acionária após o IPO, considerando a hipótese de colocação total das Ações, sem considerar o exercício da opção de Ações Suplementares e nem das Ações Adicionais:

Se dividirmos o valor patrimonial novo de R$ 1,544 bilhão pelas 477,1milhões de ações que a empresa terá após o IPO, chegaremos a um Valor Patrimonial por ação de R$ 3,24.

Vê-se que a faixa indicativa de preços entre R$ 8,80 e R$ 11,00 por ação é superior ao valor patrimonial.

  • Se Preço da ação for R$ 8,80, o P/VPA será 2,72 x
  • Se Preço da ação for R$ 9,90, o P/VPA será 3,06 x
  • Se Preço da ação for R$ 11,00, o P/VPA será 3,40 x

– Calculando o indicador Enterprise Value(EV), ou Valor da Firma:

Fórmula: EV = Valor de Mercado + Valor das dívidas

O Valor de mercado da companhia será de R$ 9,90 x 477,1 milhões de ações = R$ 4,72 bilhões.

A Dívida Bruta, após os ajustes ocorridos no 2T2020 com a captação de novos créditos bancários, alcançou R$ 539,8 milhões. A Dívida Líquida monta ao valor de R$ 428 milhões.

O Enterprise Value da empresa é R$ 4,72 bilhões + R$ 0,428 bilhões = R$ 5,148 bilhões.

– Calculando o EV/EBITDA:

O EBITDA atual do grupo em 2019 foi de R$ 182,6 milhões. Portanto, o EV sobre EBITDA dá R$ 5,148/R$ 0,182 = 28,3.

Utilizei dados de 2019, para não termos o impacto da COVID-19 e, mesmo assim, o EV/Ebitda encontra-se muito superior a 20,8x da Arezzo e 15,6x da Renner.

Conclusão sobre a Oferta Pública de Ações (IPO):

Analisando os dados até 2019, que não tiveram impactos da COVID-19 e que deverão voltar a ser o normal em 2021, temos um grande ponto positivo no Grupo Soma, que é o ciclo de conversão de caixa.

A companhia possui um dos menores Contas a Receber e Estoques do Mercado de Varejo, o que mostra que a gestão de estoques, a distribuição e o prazo de recebimento estão bem ajustados. Ciclo de conversão de caixa em 79 dias é bastante inferior aos mais de 200 dias da Guararapes e da Marisa e os mais de 110 dias da Renner.

Outro ponto positivo e que a companhia quis vender durante todo o prospecto é o crescimento do seu e-commerce. Confesso que a companhia citou tantas vezes essa questão que eu esperava algo mais robusto e com taxas maiores do que o que eu vi e que se encontra na imagem abaixo:

Fonte – Grupo Soma

Os dados acima mostram que em mesmas lojas a companhia tinha dificuldades de crescer e, em 2019, passou a crescer 12,3%, um número interessante, mas é apenas um ano!

Nos dados do e-commerce, o crescimento em 2018 e 2019 em 18% e 22% respectivamente não são tão fortes para garantir uma precificação requerida de 38x o lucro.

A companhia em 2019 teve um lucro de R$ 125,7 milhões e quer abrir capital valendo R$ 4,72 bilhões. Apenas como efeito de comparação, a Arezzo teve lucro líquido em 2019 de R$ 162,1 milhões e hoje vale R$ 4,9 bilhões, e a Renner teve lucro líquido de R$ 1,1 bilhão e negocia hoje a valor de mercado de R$ 33 bilhões.

Arezzo negocia a 29,5x P/L, Renner negocia a 34,8x, ambas empresas com crescimento consistente na B3 nos últimos 10 anos. Por que eu recomendaria a compra de uma empresa que ainda não tem histórico suficiente negociando a 38x?

O único motivo seria um grande crescimento do e-commerce que, na minha visão, é insuficiente.

O Grupo Soma, na minha visão, passou por um turnaround em 2017 e 2018, quando crescia as vendas em mesmas lojas a taxas bastante modestas e, agora, após um único ano de bons resultados, quer abrir capital valendo o que empresas High Quality adquiriram ao longo de muitos anos.

Uma boa precificação, no meu ponto de vista, seria um Preço/Lucro entre 23x e 25x, para termos uma margem de segurança com relação aos investimentos futuros da companhia, com relação ao real endividamento da empresa e aos reais impactos da COVID-19 nas suas lojas.

Preço Máximo de R$ 6,50.

Recomendo não participar da oferta.

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Abraços e Bons Investimentos!

Daniel Nigri (analista CNPI)

Com a ajuda de Leo Bittencourt

Disclosure

Elaborado pelo analista independente Daniel Isaac Nigri, CNPI 1810, este relatório é de uso exclusivo de seu destinatário.

Este estudo é baseado em informações disponíveis ao público nos próprios sites de RI das empresas analisadas ou comparadas, consideradas confiáveis na data de publicação.

As opiniões, aqui expressas, estão sujeitas a mudanças, por se tratarem de estimativas baseadas em fundamentos e projeções de futuro, que podem ou não ocorrer.

Este relatório não representa oferta de negociação de valores mobiliários ou outros instrumentos financeiros.

As análises, informações e estratégias de investimento têm como único propósito fomentar o debate entre o analista responsável e os destinatários. Os destinatários devem, portanto, desenvolver as próprias análises e estratégias (ou seja, “caminhar com as próprias pernas” e ter bom senso).

Informações adicionais sobre quaisquer sociedades, valores mobiliários ou outros instrumentos financeiros aqui abordados podem ser obtidas mediante solicitação e serão arquivadas por 5 anos, conforme determinação da CVM.

O analista responsável pela elaboração deste relatório declara, nos termos da Instrução CVM nº 598/18, que as recomendações do relatório de análise refletem única e exclusivamente a sua opinião e foram elaboradas de forma independente.

O analista Daniel Isaac Nigri CNPI é o responsável principal pelo conteúdo do relatório e pelo cumprimento da Instrução ICVM 598.

 

 

 

 

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