COMO GERAR RENDA EM DIVIDENDOS DE FORMA CONSISTENTE

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Como Gerar Renda em Dividendos de forma consistente

Quem me acompanha há mais tempo, sabe que toda a minha carteira de ações é focada em crescimento, isto é, empresas que tem uma grande possibilidade de alta no futuro. Mesmo as empresas mais conservadoras da carteira são empresas que geram lucros constantes e crescentes, ou na pior das hipóteses, empresas que estejam com muito desconto em relação ao Valor Patrimonial. Escrevi sobre isso neste artigo  e principalmente como no longo prazo, o preço da ação acompanha seus lucros.

No entanto, recebi um e-mail do Alan que me dizia assim: “… Já tenho 62 anos, sou aposentado e tenho um dinheiro guardado… Queria investir em ações principalmente para aumentar a minha renda mensal a partir de dividendos, como eu posso fazer isso?”. Eu reduzi algumas partes do e-mail que era bem longo, mas basicamente o Alan queria passar a gerar uma renda recorrente em dividendos. Nos EUA, diriam que ele quer investir nas “ações de viúva”. Portanto, como ele precisa de um resultado imediato, o enfoque dele será outro. Diferente do meu. O enfoque dele será em BOAS PAGADORAS DE DIVIDENDOS. Por isso, eu falo diversas vezes, que o perfil do investidor e seus objetivos são muito importantes. E exemplifiquei isso com a minha própria história de vida na bolsa nesse artigo.

Antes de entrar na parte dos dividendos em si, gostaria de mostrar pra vocês, o porquê uma empresa paga dividendos. As pessoas, às vezes, não sabem o motivo que elas recebem os dividendos. Quando você compra 1 ação, você está comprando, uma parcela de uma empresa que está cotada na bolsa de valores. A ação é a menor fração de uma empresa. No caso de Fundos imobiliários usamos a palavra cota, para determinar a menor fração de um fundo ao invés de usar a palavra ação. Então você compra uma ação de uma empresa, ou uma cota de um fundo.

Mas, de onde a empresa consegue o dinheiro para pagar os dividendos? Essa resposta, pra quem já opera no mercado há algum tempo é meio óbvia. Mas os dividendos, vêm na maioria das vezes dos lucros da empresa. Obviamente a empresa pode fazer uma distribuição extra ou adicional por causa da venda de um ativo, como Comgás(Cgas) e Triunfo(TPIS) fizeram em 2015/2016. Mas essa é a excessão. Ou como Estácio (estc3) fez agora em 2016, como parte do acordo de fusão com a Kroton (krot3). Normalmente, a distribuição vem dos lucros. Quanto maior os lucros, maior a chance de você, detentor das ações de uma determinada empresa, maior a chance de você ganhar dividendos maiores.

O Conselho de Administração das empresas, têm ampla autonomia para levar a proposta que eles quiserem de distribuição de dividendos para a Assembléia (AGO), desde que respeitadas as regras do estatuto da própria empresa. Algumas empresas, limitam em seu estatuto uma distribuição mínima de 25% do lucro, outras, 50%. Lembro que eu tive Eternit (Eter3) na carteira por 13 anos (2002-2015), quando ela perdeu seus bons fundamentos, e ela distribuía todo o lucro, após a reserva legal em dividendos. Logo, a política de dividendos varia muito de empresa para empresa.

Mas por que as empresas não pagam todos os seus lucros em dividendos, se os acionistas são os donos da empresa? Por um motivo bem simples. A empresa precisa crescer, e para crescer seus resultados e gerar maiores dividendos no futuro ela precisa investir em novos projetos, ou na compra de empresas menores que possam trazer boas sinergias ao seu negócio.  Veja a figura abaixo:

 

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As empresas, portanto, tem duas formas mais básicas de realizar seus investimentos para gerar maiores lucros futuros: A partir de recursos próprios, ou seja, a partir dos lucros que foram retidos no passado (e que não foram distribuídos aos acionistas na forma de dividendos), Outra forma de realizar os investimentos com recursos próprios é a partir de uma subscrição. Recentemente, itausa (itsa4) realizou uma. Neste caso a empresa emite novas ações e os acionistas podem comprar um determinado percentual, normalmente com um bom desconto em relação ao valor de mercado. E os acionistas que não subscrevem as ações são diluídos. Exemplo: Uma empresa tem 100 mil ações e emite 10% de novas ações por R$ 10,00 cada. Logo, ela iria levantar R$ 100 mil reais novos para investimentos, mas agora a empresa passaria a ter 110 mil ações. O investidor que tivesse 5000 ações antes da subscrição, teria 5% do total. Se ele não subscrevesse, ele passaria a ter menos de 5% do total. A outra forma de realizar os investimentos seria pegando empréstimos em bancos, ou emitindo debentures, mas nesse caso, a empresa, passaria a pagar juros de dívida e o risco dela aumentaria. Em tese, quanto menor a dívida menor o risco de uma empresa.

Mas toda essa explicação foi para chegar no e-mail do Alan de volta. Veja a figura abaixo das empresas que mais pagaram dividendos no último ano dentre as que têm negociação superior a 1 milhão de reais. Retirados do site do Guiainvest e pesquisa realizada no Guianvest Pro

 

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Vejam que o indicador mais utilizado para medir o pagamento de dividendos, é o dividend yield. O dividend Yield é a divisão entre o dividendo pago no ano pelo preço de uma ação. Exemplificando com a empresa AES Tiete código TIET11, a primeira da lista, percebemos que ela pagou 15,9% de yield. Isto significa que se a pessoa gastou R$ 10.000,00 na compra dessas ações, ano passado ela recebeu R$ 1590,00 só em dividendos. Olhando assim, parece simples aplicar em dividendos, basta apenas pegar as empresas que pagaram maiores dividend yields né? ERRADO!!

Nós precisamos ver se esse dividendo é sustentável ao longo do tempo. Existem empresas que pagam em um determinado ano, um dividendo maior que o seu próprio lucro, ou ainda empresas que pagam dividendos mesmo tendo tido prejuízo. Empresas que aumentam a dívida pra pagar dividendos aos acionistas. E outras práticas que não são saudáveis no longo prazo. Nestes casos, podemos dizer que esses dividendos não são sustentáveis no longo prazo.

Pra isso existe um outro indicador, o dividend payout. Que significa quanto foi pago de dividendos divididos pelo lucro da empresa. Assim sabemos quanto a empresa retorno aos acionistas, e quanto a empresa reteve para investimentos futuros, por exemplo. Veja a tabela abaixo com os payouts das empresas acima, aí em um documento elaborado por mim com dados do guiainvest.

 

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Percebam como altos dividendos podem ser uma cilada se forem analisados isoladamente. Das 14 empresas que mais pagaram dividendos, nove pagaram valores maiores que seus lucros. Duas (mplu3 e fesa4) distribuíram praticamente a totalidade dos lucros, e apenas 3 empresas (cgas5, abcb4 e itsa4) retiveram alguma parte dos lucros, portanto eu recomendo que se faça uma análise conjunta dos dois indicadores. Não vale a pena pensar exclusivamente nos dividendos atuais em detrimento dos dividendos futuros. Pela minha experiência, no longo prazo, a empresa não consegue manter esses pagamentos e aí os dividendos acabam sendo bem reduzidos em algum momento do futuro.

O próximo passo seria ver se a empresa gera lucros constantes e crescentes como mostrei neste artigo sobre empresas lucrativas. Um aumento de lucros constante nos último 5 e 10 anos é desejável, até porque se o objetivo é gerar renda a partir de dividendos, o ideal é que ela aumenta ao longo do tempo também. Suas despesas também irão aumentar e é importante focar nisso.

 

Conclusão

Na hora de gerar uma renda com consistência em dividendos, precisamos pensar se essas empresas que somos sócios têm condições de manter essa renda ao longo do tempo. Eventualmente, uma boa empresa deixará de gerar lucros e terá de ser substituída, até porque em renda variável nenhum investimento tem garantia a partir de rentabilidade passada, mas dessa forma reduzimos muito o risco. A minha ideia é fazer a primeira seleção com todas as empresas que tenham pago dividend yield superior a 5% no ano anterior. Diferente do que as pessoas pensam, uma renda de 5% com dividendos é uma renda muito boa. Isso significa que com 1 milhão de reais você gera de forma consistente R$ 50mil por ano, ou cerca de R$ 4000 por mês. Logo depois, temos que descobrir se esses dividendos são possíveis de serem mantidos com o futuro da empresa a  partir do payout e da política de investimentos da empresa e em terceiro lugar, vemos se a empresa gera lucros crescentes. Existem algumas outras formas de investimento em dividendos como essa apresentada pelo André do Guiainvest  ou essa mostrada pelo Luis Barsi  , que também valem a pena ser observadas.   Afinal, como sempre falo, o importante é termo acesso a várias formas de investir para que possamos montar nossa própria estratégia. Não tenho nenhuma pretensão de impor a minha estratégia a ninguém. Até porque entendo que cada pessoa é diferente da outra e principalmente cada uma tem um objetivo diferente nos investimentos. Neste artigo vimos como o objetivo do Alan era completamente diferente do meu, e portanto, as ações da carteira dele precisam ser completamente diferentes da minha.

Até a próxima, abraços e Bons Negócios.

Daniel Nigri  CNPI.

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