COMPRANDO ATIVOS EM CONSOLIDAÇÃO
Sempre que a Bolsa começa a andar de lado, sem tendência, as pessoas começam a ficar nervosas. Achando que estão perdendo tempo na bolsa. Que outras aplicações poderiam render mais. Afinal ninguém quer investir em renda variável, pra ganhar 2% um mês, perder 2% no outro. Aí ganha 3% em outro. Perde 4% em outro mês, e ganha 1% no quinto mês. E quando vai contabilizar o semestre, não saiu do lugar. Tem ganhos de incríveis 0%.
Claro que existem ações que são melhores que outras e tendem a subir mais no longo prazo, mas nem sempre elas performam como esperamos em apenas seis meses. Pela quantidade de e-mails que tenho recebido de pessoas chateadas com esses dois meses, percebo que várias estão percebendo isso. E acho inclusive que as pessoas preferem uma queda forte, a essa situação sem tendência definida.
Só pra ficar claro, estou colocando o gráfico abaixo para vocês entenderem o que estou querendo dizer, e ter certeza que todos estão prontos para prosseguir.
Olhem no gráfico acima que durante todo o ano, excluindo aqueles 15 dias de Fevereiro antes da divulgação do PIB em Março, o índice Ibovespa ficou andando de lado. Já são 3 meses em que a bolsa fica oscilando entre 62700 e 66500 pontos, um intervalo de 3800 pontos ou cerca de 6%. Pessoas que estão aprendendo ainda o fundamentalismo nas ações costumam ficar impacientes com esses movimentos. Elas, ainda mais depois de uma alta forte como a de 2016, esperam que a bolsa suba pra sempre, e a taxas entre 30% e 40% ao ano. Mas isso não ocorre porque as empresas não tem essa capacidade de crescer seus números a essas taxas de forma consistente no longo prazo. E nunca podemos nos esquecer, que as ações nada mais são do que a menor parte da empresa. Exemplificando: Se uma empresa cresce seus lucros 10% ao ano e suas ações cresceram 40% a cada ano dos últimos 3 anos, existe uma grande chance dessa ação estar cara. Para fazer esse cálculo podemos usar o método explicado nesse artigo.
No entanto, esse período de oscilação da bolsa dentro de dois patamares é o melhor momento pra se preparar para ganhar dinheiro. Imagina que você está diante de uma empresa lucrativa, como itausa, CVC, ambev, wege, ultrapar, alupar, dentre outras. Se o preço dessas ações “ficaram parados” por três meses, você pode ter certeza que as empresas não estão paradas, elas continuam emprestando dinheiro, vendendo pacotes de viagens, distribuindo bebidas, abastecendo os carros do país e portanto gerando mais lucros. Mesmo que ainda não tenha saído o balanço e nem a demonstração de resultados dessas companhias, elas já estão intuitivamente valendo um pouquinho mais. Mas você tem possibilidade de comprar hoje pelo preço de 3 meses atrás.
Se você adora carros e chega na loja de automóveis e encontra o carro que você adora, ao invés de R$ 60 mil ele se encontra por R$ 54 mil, creio que você vai gostar. Se você, leitora, gosta de bolsas e percebe que aquela bolsa que você adora está 20% mais barata, você vai ficar mais propensa a comprar, ou a achar que a bolsa tem algum defeito? Se você gosta de viajar e o dólar diminuiu, reduzindo assim o custo da sua viagem, você vai querer viajar, ou não? Então, por que as pessoas pensam de forma diferente quando estão investindo em ações? Se a ação caiu 10%, ou 15% ou 20% e é uma empresa que gera resultados consistentes, e não existe nenhuma ameaça a seu futuro operacional, por que não aproveitar a promoção?
Agora, olhe o gráfico abaixo. Veja como o ibovespa se movimentou desde agosto de 2015 até hoje. Sempre passando alguns meses dentro de um intervalo e aí rompendo para um novo patamar. O prazo médio de duração desses movimentos é em torno de quatro meses. Portanto, está chegando o momento que a bolsa deve começar a ganhar tendência. A notícia ruim, é que pode ser uma tendência de alta ou de baixa. Mas você, sendo fundamentalista, já sabe que se a tendência for de baixa só significa oportunidade, né? Oportunidade de comprar uma mesma empresa com preço mais barato.
No gráfico acima, vemos que nesses 20 meses tivemos 4 períodos de consolidação. O primeiro foi de agosto de 2015, até janeiro de 2016, a bolsa oscilou entre 43900 e 49700 e acabou rompendo pra baixo, até a mínima de 37500 pontos. Ainda antes do impeachment da presidente anterior. Depois que começou a ter a possibilidade de impeachment e um novo rumo para a política econômica nacional. Um rumo mais austero e mais ortodoxo, sem pedaladas fiscais, sem orçamentos irreais, sem previsões impossíveis apenas para “inflar” a possibilidade de arrecadação e poder continuar com as políticas de gastos desenfreados.
O Ibovespa começou a se recuperar, mas sempre em bandas. A primeira delas ocorreu entre Fevereiro e Junho de 2016. A bolsa se movimentou entre 47900 e 54500, uma amplitude de 13,77%. Rompeu para o alto. O catalisador foi o impeachment. Logo depois passada a precificação, por causa do impeachment, a bolsa teve nova alta no mês de Julho de 2016 e alcançou o patamar de 56000 pontos. Oscilou por quase 3 meses entre 55900 e 60100 pontos, uma amplitude de 7,51%. Uma amplitude menor porque os catalisadores não eram tão fortes. Eram eles: a possibilidade de queda de juros, de redução da inflação, e da possibilidade de aprovação da PEC dos Gastos Públicos. Em novembro e dezembro, um pequeno desvio de rota, por causa de aumento da instabilidade nacional, com uma pressão maior na lava jato, cassação da Chapa Dilma-Temer, PIB divulgado do 3T2016 veio mais fraco que o esperado e pior que o do 2T2016, mostrando que a recuperação demoraria mais. E no cenário internacional a surpresa da vitória de Donald Trump para presidente dos EUA, aumentando a instabilidade global e causando uma fuga de capitais de todos os países emergente, principalmente do México. Este foi um ótimo período para comprar, e eu avisei a todos no canal que ainda era só no youtube. E agora estamos em um novo período de consolidação no mercado. Período bom para compra, ainda mais quando o índice fica perto dos 63000 pontos que é o ponto baixo dessa estabilidade. Qual será o catalisador da próxima alta/queda? Eu sinceramente acho que tem mais catalisadores para uma possível alta.
Até agora analisamos o ciclo curto e médio da bolsa. Mas todos esses ciclos estão inseridos em um ciclo maior ainda, que é o ciclo longo da bolsa. Cada um desses ciclos costuma durar de 10 a 15 anos cada um. E basta um desses completos para te deixar milionário. Vou pegar como exemplo, o ciclo de 1998 a 2008, como aparece no gráfico abaixo.
O gráfico acima é um gráfico mensal do Ibovespa entre os anos de 1998 e 2008. Este sim é um ciclo longo da bolsa. A bolsa saiu de mínimas de 4200 pontos em 1998 para a máxima de 73800 pontos em 2008. Uma valorização de 1650% em 10 anos, equivalente a 32,41% ao ano. Dificilmente ocorrerá novamente uma alta dessa magnitude. Já mostrei em diversos vídeos de macroeconomia, todas as mudanças e reformas até estruturais que o Brasil passou desde a criação do Plano Real. Aumento de Reservas, Queda dos juros, controle da inflação, superávit primário, pagamento antecipado de títulos antigos da nossa moratória de 1987, dentre outros.
No gráfico, eu escrevi 3 palavrinhas que são retiradas do princípio de Dow. Talvez, o principal mestre da análise técnica, que confesso não ser muito a minha praia, mas existe um fundamento dele que eu uso para fazer as minhas análises e que acho importante compartilhar com vocês. Para Dow, existem 3 movimentos em todos os ciclos de alta e de queda. (Sendo que nos ciclos de queda o movimento é mais rápido). Vou dar o exemplo no ciclo de alta do gráfico
De 1998 a 2003, a Bolsa ficou andando de lado. Ela até teve períodos que chegou a 19000 pontos em 1999/2000, mas nada comparado com a alta que ainda estava por vir. Imagina uma pessoa que comprou os ativos nesse período e foi juntando esses ativos, por todo esse tempo pacientemente. Esse período é chamado por Dow, de acumulação. De 2003 a 2006, a Bolsa começou a aumentar o volume como vemos na linha vermelha abaixo, e começou a aumentar o fluxo de dinheiro estrangeiro para o Brasil, e aumentou o número de pessoas físicas cadastradas a operar na Bolsa de Valores. Esse período é conhecido por Dow como participação pública. E o terceiro momento, é o momento de euforia total. O momento em que os jornais passam a noticiar a bolsa todo mês. O período que aquela pessoa que nunca faliu de dinheiro com você comenta contigo sobre a bolsa de valores. Aquele momento que uma pessoa humilde que não tem o suficiente nem pra fechar as contas do mês, pensa em entrar na bolsa, pra “ganhar uma graninha”.
Esse período é conhecido por Dow como distribuição. É um momento de aumento grande do volume, e nesse momento, nós temos que sair da bolsa ou reduzir muito a participação nela. Manter, talvez apenas 10 a 15% em empresas que são nitidamente boas e que serão resilientes na crise. Como seria ambev, as empresas de energia elétrica dentre outras. Percebam no gráfico, que após a máxima, a devolução do valor foi forte e rápida. Muito mais rápida que a alta. Como Dow também fala que os ciclos de queda são mais rápidos.
Na minha visão ficamos de 2010 a Janeiro de 2016 no período de acumulação. Período que ninguém quis saber da bolsa. E a partir de Fevereiro de 2016, o fluxo de capitais começou a aumentar, a quantidade de pessoas falando sobre finanças cresceu também, e a bolsa começou a subir. Parece pra mim, que começamos o período de participação pública. Percebam no gráfico que no ano de 2004, tiveram 8 meses seguidos que a bolsa andou “de lado” até voltar a subir. Percebam também que de 2004 a 2006, a bolsa subiu em bandas como já estamos verificando agora. Então precisamos ter paciência e entender o momento de acumular e consolidar a nossa participação para que possamos no futuro ter um bolo maior para crescer. Observe o gráfico abaixo:
CONCLUSÃO
Para terminar quero deixar as ressalvas de sempre que a bolsa não é um investimento garantido e que possui riscos. Esse cenário pode não se confirmar e essa alta ser apenas mais um período da acumulação como aconteceu uma alta grande em 1999 e depois a bolsa voltou a cair. Como ocorreu na nossa bolsa em 2011 quando o índice chegou aos 70000 pontos e depois caiu novamente. Portanto, não coloque o dinheiro que você irá precisar nos próximos 3 anos na Bolsa. O ideal é fazer os investimentos com o dinheiro excedente. Se o resultado vier em um ano melhor, mas prepare-se para que ele venha em um prazo mais longo. Uma forma de se proteger de uma possível queda é utilizando a estratégia Barbell que foi explicada neste artigo.
Espero que vocês tenham gostado e vale muito a pena a comparação desses dois períodos. Na minha opinião, estamos em 2004.
Abraços e Bons Negócios.
Daniel Nigri CNPI