E o múltiplo? Ele diz tudo o que tu precisas saber?
Investir em ações é acreditar no negócio, pelo menos quando o investimento tem como base a estratégia B&H, e muitos investidores não se adaptam aos modelos de precificação (preço justo).
Logo, analisam o ativo usando os múltiplos do negócio, ou seja, a relação do preço (que é determinado pelo volume/viés da massa/mercado).
Ou pelos números apresentados no Balanço ou DRE (que são no tempo passado/fotografia/estáticos).
Esse é o primeiro ponto a considerar:
Nunca esqueça que negócios não são feitos apenas do que já aconteceu.
E sim do que eles podem/conseguem fazer no presente/futuro (lembrem-se de CSNA – 2008, no auge, ou então BRFS – 2015).
Analisar um ativo para compra e manutenção em uma carteira exige que o investidor compreenda o dinamismo de um negócio.
E seus ciclos, para não ser pego de surpresa no meio do caminho.
Investir em renda variável é assumir riscos
Quanto maior o risco, maior a consciência que o investidor deve ter do quanto suporta perder.
Porém é fundamental lembrar que empresas/negócios são organismos expostos a variáveis externas e internas, muitas delas têm controle e outras não.
Logo, é preciso conhecer o que influencia os resultados, a gestão, as estratégias e as projeções.
Pois somente assim poderemos ter dados suficientes para não perder mais do que o risco natural do negócio.
Então, quando você analisar o Preço sobre Lucro, não basta apenas saber o conceito do múltiplo – é preciso compreender se o mercado está cobrando algo realista pelo negócio.
Explicando melhor:
P/L é a razão entre o preço da ação e o lucro por ação (LPA).
O LPA é o lucro líquido apurado pela companhia (passado) dividido pelo total de ações emitidas.
As fórmulas são muito simples, não é mesmo?
Tanto que é comum ouvirmos que um ativo com PL baixo é uma pechincha, e que deve ser aproveitada a oportunidade.
Porém sabemos que isso não é nem de longe verdade em todos os casos.
É preciso reconhecer se esse múltiplo não foi afetado por não recorrentes, por exemplo, ou então são empresas cíclicas/sazonais.
Ou ainda se você está comparando com empresas de outros setores.
Por ser uma razão entre duas variáveis, é preciso entender que a alteração em uma ponta muda a correlação entre elas.
Se a empresa aumenta/mantem o lucro, mas o mercado não acredita no setor naquele momento.
A tendência é o preço não acompanhar a evolução, criando assim momentos de PL mais baixo em um segmento de negócio.
Caso a empresa não aumente o lucro consideravelmente, mas o mercado projeta grandes resultados para aquele negócio/setor.
A tendência é de termos um número mais alto, exemplo das empresas de tecnologia ou ainda algumas indústrias, como a Natura, ou varejos, como a Renner.
E existem os casos onde o PL está negativo, caso da BRFS, que já comentamos aqui mais de uma vez.
Que mesmo com recuperação nos últimos trimestres, é o tipo de empresa onde devemos observar com cuidado a conta estoques.
Além de monitorar os números de projeção divulgados a nível doméstico e mundial dos estoques e da projeção de demanda dos produtos/commodities.
Afinal, a demanda é o que define a receita, os estoques maiores ou menores alteram a quantidade de produto no mercado.
E consequentemente, pressionam o preço, para baixo e para cima, interferindo diretamente no custo.
Enfim, se a empresa tem estoque demasiado, ela não produz toda a capacidade, e isso gera custo de manutenção, perda de estoque, comprometimento na diluição dos fixos, o que leva a um aumento do custo do produto vendido e, obviamente, leva a uma redução da margem.
Então não é apenas analisar o P/L baixo e ser um indicativo de oportunidade!
Tenho certeza que irei receber várias mensagens dizendo: mas isso é óbvio Patrícia, não tem necessidade de escrever sobre isso!
Na verdade, tem, principalmente em momentos assim, onde a maior parte dos ativos tem a cotação elevada, sem consideração aos fatores reais que suportam os resultados do negócio.
Para explicar melhor
Se você compra um ativo/negócio e paga por ele um lucro além do que ele tem estrutura física para apurar.
Qual é a mágica que o gestor irá fazer para tirar o restante do lucro da cartola?
Falei muito sobre isso nos podcasts lá da área de membros, no sentido de que uma empresa (usando indústria como exemplo) vai produzir a capacidade projetada, se houver demanda.
Caso a empresa decida expandir capacidade (seja com mais maquinário, um turno extra, ou aumentar a planta produtiva), somente irá ocorrer se houver demanda a ser suprida.
Então, se ela produz 1 milhão de peças ano e lucra 100 milhões, considerando que a geração de valor operacional seja a maior parte desse lucro, e ela decide aumentar a capacidade para 1,5 milhão de peças.
A lógica é que o lucro também aumente (principalmente porque estamos falando de escala/custo marginal).
A questão aqui é: será o suficiente para entregar a projeção estimada pelo mercado?
PS: O custo marginal reduz à medida que a produção aumenta (quantidade); assim os custos fixos se diluem em quantidades maiores (escala).
Obviamente que o mercado de renda variável vai negociar com ágio.
Ele nunca vai te cobrar de fato o que a empresa vale hoje, mas o que ela pode entregar de resultados se tudo caminhar conforme o planejado.
Mas é preciso compreender a diferença entre o que é viável bancar e o que é um risco excessivo.
Da mesma forma quando analisamos o P/VP e sua relação com os índices de rentabilidade.
Afinal estamos falando do quanto o mercado precifica a estrutura que é usada na geração de valor.
Em alguns tipos de negócio estamos falando de ativos tangíveis, em outros estamos falando dos ativos intangíveis.
E o goodwill no Balanço Patrimonial, pois eles são tão importantes quanto lucro para setores de serviço/tecnologia, por exemplo.
Então, ao analisar os múltiplos, lembre que eles são fruto de números retirados de apurações já ocorridas.
É preciso relacioná-los com as projeções, para compreender o que é viável e realista e o que é utopia nesse mercado feliz e otimista.
Resumindo:
- Analise os números e compare com a capacidade da empresa em gerar valor.
Pergunte:
- Existem estratégias/projetos de conseguir realmente aumentar o lucro em uma medida aproximada do que o mercado espera (precifica)?
- O negócio possui margem saudável?
- Market share está em expansão para suprir maior produção/venda? Ou estamos nos concentrando apenas em aumento de consumo devido ao aumento de renda (melhora econômica)?
E por fim, entenda que empresas em reestruturação tem risco maior, não são todas ruins.
Mas exigem uma margem de segurança adequada, e que muitas vezes os múltiplos não mostram bem o risco.
A atenção é a mais importante de todas as faculdades para o desenvolvimento da inteligência humana. Charles Darwin
Informação é Dinheiro.
Até a próxima semana
Daniel Nigri com apoio da Patrícia Rossari
O analista Daniel Nigri CNPI1810 é o responsável pelas informações perante a ICVM 598
As informações não constituem recomendação de compra ou venda de qualquer ativo
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