Análise dos Indicadores Macroeconômicos – Importância e Aplicação
Um investidor consciente e responsável sabe o valor de uma análise minuciosa dos documentos e demonstrações da empresa em que investe, reconhece as tendências do mercado em que o negócio está inserido e de que forma isso interfere no desempenho direto.
Frase bonita e verdadeira, mas nada simples quando é preciso praticar a ação proposta. Ou seja, escrever que é preciso analisar o contexto macro, os indicadores econômicos, as tendências do mercado global é fácil, colocar isso em projeções e estipular margens de segurança em ativos de segmentos diferentes, se torna uma atividade mais elaborada e que demanda mais dados e informações.
Então iniciaremos pelo básico, os relatórios são uma imagem do passado da empresa com uma pitada de projeção do futuro, quase sempre com perspectivas baseadas em um padrão “seguro” adicionamos também uma colher cheia de possibilidades macros, quase sempre incertas devido à quantidade de riscos a que os países estão expostos. É uma receita difícil, com ingredientes que muitas vezes não combinam então daí surge à dificuldade do resultado ser o esperado. Resumindo, relatórios servem e muito para fornecer um caminho, mostram as possibilidades dos ingredientes, mas quem mistura tudo e prepara o “bolo” é você caro investidor.
Para um investimento com segurança precisamos aliar a análise do Balanço e da DRE com informações de gestão e dados macro econômicos, e isso envolve uma análise mais dinâmica das variáveis que compõem o segmento e que o afetam de maneira direta ou indireta, afinal nossa economia é globalizada e os mercados estão ligados e sofrem interferências, em graus diferentes, mas todos sofrem.
Questões de Apoio
Análise Interna
Para facilitar essa análise vamos propor uma ordem de questionamentos que devem ser respondidos respeitando o segmento de negócio onde o ativo está incluído. Vamos ao que interessa:
- Ativo é indústria, varejo ou serviço?
- Já estudei e entendi a DRE e o Balanço Patrimonial? Entendi os dados e obtive informações suficientes sobre a situação do negócio?
- Os múltiplos estão amparados por informações que os expliquem?
- As projeções passadas foram ou estão sendo cumpridas de acordo com o estipulado?
- O valor justo do ativo já foi calculado? (expectativas de fluxo de caixa, alavancagem, taxa de desconto, risco e perpetuidade)
- Tem capacidade suficiente de geração de caixa para meu perfil de investidor?
- Eu já tenho preço da cotação que me fornece margem de segurança suficiente para entrada/aportes? (considerando que você é daqueles que acreditam que preço importa).
- Ela se enquadra no meu perfil? É um ativo de crescimento ou de dividendos?
No momento em que estas perguntas estiverem respondidas de forma coerente a primeira etapa estará concluída com sucesso, então partiremos para a segunda etapa denominada “macro econômico”.
Questões de Apoio
Análise Macroeconômica
Nestas perguntas será preciso usar mais que relatórios e indicações, aqui é preciso estar atento ao conjunto que compõem uma sociedade economicamente ativa. Para ficar mais claro vamos iniciar refletindo sobre o que impacta no ativo que estou analisando, vamos ao que interessa (novamente):
- Quais os segmentos que estão diretamente ligados ao ativo em questão? Qual a situação deles no momento? Ex: indústria que utiliza insumos do agronegócio, ou seja, (safra + logística), ou varejo e taxa de ocupação de produção, etc.
- Quais indicadores de consumo podem ser utilizados para projetar a expansão ou retração do negócio, e principalmente se o resultado esta de acordo com aquilo que a empresa esta divulgando, as famosas projeções.
- Sazonalidade, item importantíssimo que faz muitos investidores perderem dinheiro na renda variável, devido principalmente a falhas na compreensão da análise dos reflexos que a variação do preço de um insumo e a queda no consumo tem na rentabilidade de um negócio. Empresa esta exposta a variáveis sazonais? Se sim a análise deve partir do pressuposto que é preciso uma gestão (e caixa) para enfrentar os ciclos. Ex: indústrias que mantém contratos fechados com fornecedores impedindo exposição demasiada a flutuação do preço da matéria prima.
- Inflação, como ela interfere no segmento? Qual a relação com os repasses/reajustes? Quando índice é baixo, de que forma se compensa quando na cadeia as proporções não são igualitárias?
- PIB/geração de empregos, nível de confiança do consumidor = projeções de crescimento são sinônimo de força econômica em todas as atividades, afinal é uma engrenagem ou uma orquestra, escolha a metáfora de sua preferência, a questão é que se desenvolve uma reação em cadeia, equilibrando os setores. Ex: agro forte, indústria forte, PIB cresce, desemprego diminui, varejo contrata, cliente consome, serviços desenvolvem, investimentos são efetuados e a roda continua a girar (com devido controle econômico para evitar o desequilíbrio). Importante lembrar que quando a empresa exporta não é só o PIB do Brasil que precisa ser analisado.
- Taxas de Juro: aqui as temidas dívidas aparecem para o jogo, quanto menor a taxa de exposição menor valor pago, logo a análise de projeção é alterada. Quando as dívidas são em moeda estrangeira, assim como parte dos resultados é preciso ainda mais atenção, nesse caso específico nos percentuais de dívida x lucro na moeda em questão.
- Como estão os pares? A concorrência? Nessa análise é preciso levar em consideração dados quantitativos (múltiplos) e qualitativos (gestão, perspectiva, projetos etc.)
- Quais os principais riscos que podem afetar o negócio? São riscos políticos (estatais), riscos de variáveis externas sem controle (energia, agro), riscos de oferta/preço (commodities), etc.
Quando estas questões estiverem respondidas de forma coerente e embasadas em dados reais, não achismos, a segunda etapa estará concluída com sucesso, e você estará ainda mais apto para investir com consciência do risco e do retorno no ativo.
Concluindo
Para ser um investidor fundamentalista é preciso entender o negócio no qual se está investindo, ao menos o básico para saber quais os fatores internos e externos que influenciam na rentabilidade e no retorno, conhecer o setor fornecedor, mercado consumidor e situação dos indicadores econômicos do país. Por isso a importância de aprender e reciclar os conhecimentos técnicos e de controle emocional sempre que possível, reconhecer que o mercado é dinâmico e como tal exige do investidor agilidade para momentos de ruptura e controle da mente em momentos turbulentos.
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Abraços e bons investimentos,
Patricia Rossari