Já que o tema da semana é a nova política de dividendos da Petrobras, vamos destrinchá-la e trazer um conteúdo um pouco fora do óbvio…
Resumidamente, a nova política define os seguintes pontos:
- Dividendo mínimo anual US$ 4bi (contanto que o Barril de Petróleo Brent esteja >US$ 40,00/bbl);
- Dividendos pagos trimestralmente;
- Distribuição de 45% do Fluxo de Caixa Livre em dividendos, contanto que a dívida bruta esteja <US$ 65bi (antes era 60% do FCL);
- Recompra de ações permitida;
- Remuneração extraordinária permitida desde que a sustentabilidade financeira seja preservada;
- Remuneração mínima anual será equivalente para ações ON e PN, contanto que supere o valor mínimo para as PN previsto no estatuto social.
Isso, você encontra em qualquer site de notícias. Agora, o que está nas entrelinhas?
- Recompra de ações: a empresa está abrindo espaço para recompra de ações, talvez visando uma possível taxação dos dividendos e/ou abrindo a possibilidade dos acionistas aumentarem sua participação, dentre eles, o Governo Federal que detém 28,67% das ações da empresa.
- Frequência de pagamentos: foi estabelecida a distribuição trimestral de dividendos, anteriormente, não havia uma período pré estabelecido. Interessante, pois traz mais previsibilidade para os acionistas da companhia.
- Dividendo mínimo anual de US$ 4bi, desde que o Barril de Petróleo Brent esteja >US$ 40,00/bbl. Aqui é um ponto de atenção, pois considero que a distribuição de dividendos deve ser realizada quando não há outros compromissos ou investimentos melhores a serem feitos. Nesse caso, o dividendo mínimo não leva em consideração o endividamento da empresa, o que pode gerar complicações no futuro.
- Distribuição de 45% do FCL, desde que o endividamento bruto seja menor que US$ 65bi. Na minha visão, esse tópico mostra que os controladores continuam focados em manter a Petrobras como uma boa pagadora de dividendos, mas que também existe um olhar para novos investimentos, algo natural e esperado dado que trata-se de um negócio de recursos naturais escassos (o problema é se os investimentos serão bem feitos).
Acredito que essas sejam as considerações mais relevantes a serem feitas.
Por fim, é importante lembrar que a redução nos dividendos pode causar uma reprecificação da empresa pelo mercado, principalmente, levando em consideração para que esse montante extra que ficará no caixa será destinado.
A Petrobras não tem um bom histórico de alocação de capital. A maioria dos investimentos realizados não se mostraram rentáveis e, portanto, a retomada dessa iniciativa pode gerar certa insegurança nos investidores. Afinal, não temos garantia que desta vez será diferente.
Por outro lado, a empresa ainda seguirá bastante focada na remuneração aos acionistas através dos dividendos e de programas de recompra, o que acredito que também possa entusiasmar alguns investidores.
Grande abraço,
João Pedro Mello