Imagine que você tem duas opções de investimento na bolsa.
- Empresa A: Paga 10% ao ano em dividendos.
- Empresa B: Não paga dividendos, mas reinveste tudo e cresce 10% ao ano.
Se você pegar os dividendos da Empresa A e reinvestir nela mesma, o resultado é o mesmo do crescimento da Empresa B. Certo? Bom, matematicamente sim, mas na prática… tem um pequeno detalhe que muda tudo.
Agora vem a pergunta crucial: qual dessas empresas é mais confiável? Em outras palavras, é mais fácil garantir que uma empresa vai crescer 10% ao ano ou garantir que uma empresa que já paga 10% ao ano em dividendos continue pagando?
Pense em um aluguel. Se um imóvel já tem inquilinos pagando aluguel regularmente, você tem previsibilidade de fluxo de caixa. Agora, se você compra um terreno esperando que ele se valorize no futuro, o retorno é incerto e depende de fatores externos como infraestrutura, crescimento econômico e demanda do mercado imobiliário. O mesmo ocorre com empresas: algumas têm fluxo de caixa previsível e remuneram seus acionistas constantemente, enquanto outras reinvestem tudo, esperando crescer.
Isso significa que investir na Empresa B é mais arriscado. Afinal, garantir crescimento contínuo de 10% ao ano é um feito que poucas empresas conseguem manter por décadas.
Se a Empresa B tem um risco maior, então ela precisa oferecer um retorno maior para compensar. Ou seja, para ser um investimento tão atraente quanto a Empresa A, a Empresa B teria que crescer mais que 10% ao ano.
Se considerarmos o prêmio de risco, a Empresa B teria que crescer 14% a 15% ao ano para ser equivalente a uma que paga 10% de dividendos.
Agora, adicionemos mais um ingrediente nessa equação: inflação. Empresas que pagam bons dividendos geralmente ajustam seus lucros e pagamentos conforme a inflação. Se a Empresa A cresce modestos 4-5% ao ano apenas acompanhando a inflação, então a Empresa B agora precisa crescer 18% a 20% ao ano para valer a pena!
Vamos fazer uma simulação:
- Se você investir R$100 mil na Empresa A, recebendo 10% ao ano em dividendos e reinvestindo-os, em 10 anos você teria aproximadamente R$259 mil.
- Se você investir R$100 mil na Empresa B, que cresce 10% ao ano, você também teria R$259 mil.
- Mas se a Empresa B precisar crescer 15% ao ano para compensar o risco extra, o valor final sobe para R$404 mil.
- E se a Empresa A crescer 5% ao ano enquanto paga 10% de dividendos? O investimento nela chega a R$422 mil.
Ou seja, para justificar o risco de não pagar dividendos, a Empresa B precisa crescer a um ritmo extremamente agressivo e sustentável ao longo do tempo.
Elaborado pelo autor
Outro ponto importante: empresas que pagam dividendos são mais defensivas. Mas por quê?
Quando o mercado entra em pânico, investidores procuram segurança. Se uma empresa paga dividendos constantes, ela oferece um fluxo de caixa previsível, o que reduz a volatilidade da ação. Por outro lado, se uma empresa não paga dividendos e seu crescimento desacelera, o preço da ação despenca rapidamente.
Exemplos reais?
- Durante a crise de 2008, empresas como Coca-Cola e P&G (pagadoras de dividendos consistentes) caíram menos que gigantes de crescimento como Google e Amazon.
- Em 2020, no crash da pandemia, empresas de energia e telecomunicações, que pagam dividendos altos, sofreram menos quedas do que empresas de tecnologia que dependiam de crescimento.
Isso explica por que ações de dividendos caem menos em crises e se recuperam mais rápido.
Agora você pode estar pensando: “Mas e empresas como a Amazon, que não pagam dividendos e cresceram absurdamente?”
Sim, existem exceções. Empresas de tecnologia e crescimento rápido podem ser fenomenais, mas a quantidade de empresas que realmente conseguem esse crescimento é minúscula. Para cada Amazon, existem centenas de empresas que prometeram crescimento e não entregaram.
Além disso, grande parte do crescimento da Amazon veio de uma enorme expansão de mercado e investimento pesado em tecnologia. Empresas comuns do mercado dificilmente têm esse tipo de oportunidade.
No fim do dia, a discussão entre dividendos e crescimento é uma questão de risco e previsibilidade. Empresas que pagam bons dividendos oferecem uma forma mais estável de construir riqueza, enquanto empresas que reinvestem tudo precisam justificar um crescimento acelerado para compensar o risco.
Se você é um investidor de longo prazo que valoriza previsibilidade e fluxo de caixa, ações de dividendos são um caminho mais confiável. Se você prefere assumir mais risco em busca de crescimento acelerado, então investir em empresas que não pagam dividendos pode ser uma opção – desde que você faça uma análise criteriosa.
E da próxima vez que alguém disser que “não vale a pena investir em empresas de dividendos”, pergunte:
“Quantas empresas que não pagam dividendos realmente cresceram os 20% ao ano que precisavam crescer para compensar?”
Na maioria das vezes, a resposta será um silêncio desconfortável.
Grande abraço,
João Pedro Mello
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