Minha carteira está negativa, estou perdendo dinheiro?

Minha carteira está negativa, estou perdendo dinheiro?

Quem é investidor de renda variável sabe que não é nada agradável constatar que os ativos da carteira sofreram com a baixa da cotação, perceber que o preço pago por um ativo foi maior do que a cotação atual nos faz analisar se aquela decisão de compra foi de fato uma decisão acertada.

E porque isso ocorre?

Obviamente porque ninguém gosta de “perder” dinheiro, e é essa a primeira impressão que temos ao observar esses movimentos de mercado. Nossa mente e nossas emoções nos dizem que esse cenário é terrível, que devemos fazer algo a respeito para compensar essa sensação momentânea de perda, vender o ativo é sempre a opção mais cotada para evitar perdas maiores ou então começamos a questionar nossa estratégia de investimento a Longo prazo e vendemos no prejuízo para recomprar novos ativos que provavelmente sofrerão quedas nos preços futuramente, afinal é renda variável então o preço vai oscilar. Completamente aceitável e humano sentir isso, mas não é recomendável se o objetivo for aplicar para gerar renda e conseguir independência financeira futura.

Qual a minha estratégia?

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Essa pergunta é essencial, conhecer a si próprio como investidor é uma ferramenta que limita perdas, facilita as análises porque permite maior clareza em momentos onde o mercado caminha para um ciclo de baixa. Nesse momento temos um IBOV acima de 84 mil pontos e grande parte dos ativos estão sofrendo com perdas percentuais grandes em seu valor de mercado, atingindo mínimas que não víamos há mais de cinco anos. O motivo é simples, esses números destoantes ocorrem pelo fato de que alguns ativos têm um peso muito maior no cálculo do índice, logo sustentam a alta (acima dos 84 mil pontos) caso da PETR, VALE, ITUB, BBDC que mantém uma trajetória de crescimento nas cotações.

Então devo mudar minha estratégia? Afinal os ativos que compõem minha carteira estão perdendo valor de mercado, a cotação acumula no ano queda substancial e estou vendo meu investimento “diminuir”. O que fazer? Ceder à turbulência do mercado e vender no prejuízo? Mesmo sabendo que aquele ativo possui fundamento e que empresas estão suscetíveis a inúmeras variáveis macro econômicas, o que não significa que elas deixaram de produzir/lucrar, existir.

A resposta é não.

Vamos iniciar nossa conversa relembrando dois artigos recentes disponíveis aqui no site Cadeia de Valor, Forças de Porter. Neles abordamos a necessidade de avaliar qualitativamente uma empresa, conhecer suas fraquezas e forças e principalmente entender como ela gera valor e se os custos estão sob controle. Dito isso, voltamos à resposta acima. É fato que existe a necessidade de manter uma gestão ativa da carteira, mas isso não significa vender um ativo somente pelo fato de que houve queda na cotação, é preciso reconhecer os motivos que causaram essa queda e se entre eles existe algum que faça o ativo perder fundamentos em caráter permanente.

Para entendermos melhor vamos usar alguns exemplos:

Kroton, KROT3 é um dos ativos que teve uma queda na cotação cerca de 40% em relação ao IBOV, ou seja, diminuiu seu valor de mercado. Mas porque isso ocorreu se ela continua gerando caixa e reportando lucros? O que fez dela um negócio não atrativo aos olhos do mercado?

Primeira resposta que vem em mente é: porque mercado é imediatista, então se uma empresa contrai uma dívida, (necessária para pagar os mais de R$ 4,5 bilhões pela compra da Somos Educação), os próximos resultados dela serão impactados por essa alavancagem. Então nesse caso devo vender kroton com prejuízo porque a cotação dela caiu?

Depende da sua estratégia. Vamos aos fatos:

Quem comprou Kroton em outubro de 2017 pagou R$ 20, xx por ação, em novembro de 2014 a ação chegou a custar R$ 18,xx e há três anos em 22 de maio de 2015 teria pago pelo papel o preço de R$ 12,4x já em setembro do mesmo ano ela chegou a R$7,6x preço que se igualava a 2013.

 

Porque isso ocorreu? O que o mercado enxergou nesse negócio para alterar tanto as projeções?

 

Em 2014 o mercado viu o FIES e as educacionais elevaram os múltiplos, a kroton chegou a negociar pelo P/L (Preço sobre Lucro) 20x, ou seja, preço estava acima e quem faz analise fundamentalista sabe o cuidado necessário ao avaliar empresas com múltiplos muito elevados, principalmente quando a variável que determina a projeção é um financiamento governamental. Em 2015/2016 houve a crise sistêmica onde os ativos despencaram de preço pelo reflexo de uma recessão econômica, falta de confiança no sistema governamental, escândalos de corrupção. Em 2017 as educacionais voltaram a divulgar resultados positivos, inclusive com expansões para o EAD (ensino a distância) que possui margens maiores assim como volume, logo o preço voltou a subir.

 

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Em 2018 quem analisou e entrou no papel já previa que duas hipóteses seriam prováveis: uma aquisição ou a distribuição de dividendos maiores. A opção da empresa foi à aquisição porque estava ciente que precisava crescer e dentro do próprio segmento dificilmente conseguiria nos patamares desejados, em termos de geração de valor. Cabe ressaltar que ela tentou realizar uma fusão com a Estácio que o CADE não autorizou. Então, ela buscou agregar expertise e se não o fizesse outro player faria, ou seja, quem manteve uma gestão da carteira saberia que se não estivesse disposto a escolha das hipóteses acima não deveria ter entrado no papel quando estava em alta, ou então se o preço médio estava abaixo deveria ter vendido com lucro, evitando assim essa sensação ruim de ver o preço caindo e não ter a tentação de realizar o prejuízo por acreditar que talvez a aquisição não irá ter o retorno necessário para sua estratégia.

Então aqui temos um caso clássico da necessidade de avaliar além dos números no balanço e compreender as possibilidades do negócio, analisar além das notícias e dos resumos publicados pela imprensa especializada.

Para decidir a viabilidade de manter o ativo basta calcular um modelo de precificação assim ficam mais evidentes que os descontos chegam à casa de 10% de queda em preço e volume ao longo dos próximos cinco anos, e sem qualquer ajuste de valor dado pela aquisição no caso de aprovação pelo CADE.

Vocês devem lembrar que em 2015/2016 alguns ativos foram negociados com uma margem de segurança razoável, mas com risco econômico externo muito grande, alguns exemplos: Vale foi negociada a R$ 9,00 por ação, PETR a R$ 4,00 por ação, BRAP4 a R$3,00 por ação, BBAS por R$ 12,00 por ação, USIM5 a R$ 0,90 por ação, BBDC a R$ 12,00 por ação, ITUB a R$ 21,00 por ação. Se analisarmos um a um esses ativos acima constatarão que a maior parte das causas da queda nos preços estava ligada a variáveis macroeconômicas e ciclo das commodities e alguns ativos como USIM e PETR a questão da governança.

Essas empresas não pararam de produzir, elas reagiram ao cenário macro, afinal negócios são dinâmicos e refletem as variáveis as quais estão expostas. Existia risco em comprar ITUB a R$ 21,00 naquele cenário como há risco em entrar no papel agora R$ 45,xx. Bolsa é renda variável e a curto prazo a tendência de variação fornece uma falsa impressão de perda porque não adiciona crescimento dos lucros, dividendos, bonificações etc.

Concluindo

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Então analise antes de entrar no ativo, e se ele continuar com fundamentos não se desespere com a cotação, não altere sua estratégia guiada(o) pela emoção, use a razão para não perder dinheiro.

Lembre sempre que:

“Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.” Friedrich Nietzsche.

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Abraços e bons investimentos,

Patricia Rossari

 

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