Quanto maior o nível de desespero, maior a chance de fazer bobagem

Quanto maior o nível de desespero, maior a chance de fazer bobagem

Justificar um erro é errar outra vez

Diminuir as chances de fazer bobagem em renda variável passa pela premissa de evitar algumas redes sociais em cenários de crise, afinal, lá vais ouvir que só não poupa quem não quer, ou então que só está perdendo quem não sabe investir corretamente. E se você, assim como eu, já está nesse ramo de negócios há alguns anos, sabe que isso não é verdade no que diz respeito à bolsa de valores, tampouco aos negócios de forma geral.

Muitas pessoas que começaram a investir na bolsa nos últimos meses devem estar se perguntando:

O que foi que eu fiz?

Cadê o meu dinheiro?

Muitos empreendedores devem estar questionando:

Vou desistir e recomeçar em algo mais seguro!

Será que estou fazendo a coisa certa?

E obviamente que a tendência de usar a emoção e não a razão em momentos de crise é compreensível, visto que o discurso é sempre de que não vai existir amanhã, e isso assusta qualquer um. E essa sensação de insegurança é muito perigosa, mas é também uma etapa importante, que pode definir seu futuro como investidor e empreendedor, logo, obviamente, seu futuro financeiro. Nesses momentos é importante não mentir para si mesmo, não agir por impulso ou acreditar em todas as notícias e análises que vê por aí.

Importante: a questão é que se desenvolve uma reação em cadeia em momentos como esse, e acaba desequilibrando os setores que são dependentes. Então, vamos direto ao ponto: caso você não entenda como esse momento afeta alguns negócios, sugiro que pense da seguinte maneira e as coisas ficarão mais claras:

Faça uma análise da cadeia de valor para identificar o posicionamento do negócio em relação a essa restrição de circulação, que afeta o consumo e obviamente irá afetar a renda adiante. Dessa maneira você vai eliminar as armadilhas e ficará mais clara a leitura da precificação adotada pelo mercado e, assim, poderá estabelecer que nem todas as quedas que ocorreram são oportunidades, mas que existem negócios que se beneficiam em determinadas crises (no curto prazo) e ficará mais fácil a decisão de manter ou não a posição.

Exemplo: o preço da matéria-prima afeta diretamente a gestão dos custos no processo de produção; logo, a gestão dos mesmos deve ser adequada àquela lógica produtiva, e aqui o panorama econômico mundial e regional precisa ser considerado, afinal, parar uma linha produtiva ou diminuir ritmo de produção por problemas na reposição de estoque devido à falta de produto irá refletir no faturamento/volume/custo/ebitda e, por fim, lá na linha final, no lucro.

Se a empresa continua produzindo para estoque, ela precisa estar ciente das projeções de demanda atuais com a restrição; logo, ela calcula qual o melhor custo benefício para a sua realidade.

Ninguém para de comer em crises, mas com a possibilidade de redução de renda, a pessoa opta por produtos mais baratos; vai continuar comendo feijão, porém troca a marca; vai continuar usando água (menos, para economizar) e energia (mas pode ter algum benefício para atrasar o pagamento na crise, o que afeta o resultado da companhia de saneamento). Porém, antes de sair por aí dizendo que a empresa terá prejuízo, calcule e veja de fato qual a proporção que essa redução de previsão de receita irá afetar o lucro estimado para o exercício. A energia continuará sendo consumida, porém pode afetar a distribuição devido a fatores de consumo e de preços no mercado livre; a transmissão continuará ocorrendo e os contratos existindo, afinal, estamos falando de um recurso indispensável na cadeia econômica.

Em momentos de crise o consumo tende a diminuir, as pessoas deixam de comprar filé e começam a consumir salsicha; a fábrica de salsichas cresce e o valor consumido diminui (criando uma falsa ideia de que não há crise, porque alguns setores crescem); isso, em tese, faz com que o percentual de inflação (consumidor) diminua, não muito, mas via de regra é o que acontece.

Ufa, mas então quer dizer que nenhum negócio sofre?

Definitivamente isso não é verdadeiro, e essas afirmações são muito comuns pelo fato de que muitas pessoas gostam das coisas 8 ou 80, pois se elas apresentam particularidades, fica mais complexo e o interesse reduz.

Quem mais sofre em quedas de demanda?

A empresa que está em situação financeira delicada, com dívida elevada, que precisa de empréstimos para girar e que continua gerando prejuízo, que tem maior mercado consumidor lá fora e está com queda de demanda. Porém, com dívida em dólar e em percentual elevado para o quanto consegue gerar de caixa, considerando metade ou nada de atividade produtiva (estou falando apenas de empresas maiores, listadas, e não de pequenos e médios negócios), essas irão sofrer mais que as grandes… como sempre.

Em uma fábrica, por exemplo, a receita e as margens estão vinculadas ao comportamento da capacidade de produção x custos x tempo x capacidade de distribuição e tudo isso é definido pela projeção de demanda. E quando esses fluxos não estão alinhados, surgem os gargalos em toda a cadeia produtiva. Obstruções nos fluxos são causadas por falhas em setores auxiliares, ou seja, você quer produzir, mas depende de matéria-prima, e a fábrica que fornece a matéria-prima ou insumos está parada; logo, você até pode estar funcionado, mas não vai produzir, a não ser que tenha mais do que um fornecedor. Ou no caso de produtos vindos de fora e mais distantes, um ponto de estoque que seja maior e, com isso, dê condições à empresa de pensar em um plano B, ou tempo para a retomada do fornecimento ocorrer.

Aqui, o posicionamento estratégico, sobre o qual sempre falamos nos materiais, tem uma importância grande nas primeiras semanas de parada, pois define o quanto a empresa está preparada para arcar com produção e estoque, o quanto consegue negociar com seu fornecedor, o quando irá perder pelo PMR aumentar, e assim por diante.

Pense no que impacta o ativo/negócio que estás analisando:

  1. Quais os segmentos que estão diretamente ligados ao ativo em questão? Qual a situação deles no momento? Ex.: indústria que utiliza insumos do agronegócio, varejo possui e-commerce desenvolvido e as indústrias fornecedoras.
  2. Quais indicadores de consumo podem ser utilizados para projetar a expansão ou retração do negócio.
  3. A variação do preço de um insumo e a queda no consumo. A empresa tem margem para sustentar rentabilidade com as projeções de queda atuais?
  4. O negócio mantém contratos fechados com fornecedores, impedindo exposição demasiada à flutuação do preço da matéria-prima?
  5. Inflação: como ela interfere no segmento? Qual a relação com os repasses/reajustes?
  6. Taxas de Juros: as dívidas – quanto menor a taxa de exposição, menor o custo; logo, a análise de projeção é alterada. Quando as dívidas são em moeda estrangeira, assim como parte dos resultados, é preciso ainda mais atenção, nesse caso específico nos percentuais de dívida x lucro na moeda em questão (câmbio).
  7. Como estão os pares? A concorrência? Nessa análise é preciso levar em consideração dados quantitativos (múltiplos) e qualitativos (gestão, perspectiva, projetos etc.).
  8. Qual a situação de caixa do negócio?

Quando um ativo sofre uma queda, seja devido à crise no setor ou na economia, a tendência é sempre a mesma: alguns investidores que não possuem conhecimento para analisar o ativo e seus fundamentos acabam comprando porque a cotação cai e então o ativo está/fica “barato”. Mas esse “barato” é apenas uma comparação de preço/cotação e não de entendimento do por que esse movimento está ocorrendo, e é justamente onde acontecem os maiores prejuízos e o mercado deixa um rastro de investidores com perdas.

Próximo Passo

Entender que a responsabilidade é sempre de quem decide o investimento, ou seja, você. Afinal, ninguém obriga ninguém a investir, tampouco a comprar determinado ativo ou a vendê-lo. Então, use o que aconteceu como aprendizado, seja mantendo uma reserva de oportunidade, estudando mais os negócios/setores antes de comprá-los, dando mais atenção à diversificação setorial, entendendo que não existe ágio “infinito” que vale a pena ser pago em negócios, pois as correções sempre chegam e o tombo nesses casos é sempre maior.

Um ativo é um negócio, e como negócio, é dinâmico e está exposto a inúmeras variáveis que podem afetar seu resultado. O investidor inteligente sabe que precisa conhecer os fundamentos antes de comprar uma ação, calcular o preço justo, conhecer e medir os riscos da empresa e da sua própria carteira. A propósito, essa crise, assim como as demais que eu citei no material da semana passada, são aqueles fatos históricos que mostram a ilusão/utopia que é acreditar que ganhar sempre é uma realidade, ou ainda que todos temos dinheiro infinito para aportar em todas as quedas e oportunidades que aparecem.

Ninguém tem certeza do que está “barato” agora ou estava em 2015/2016, isso pelo fato de que ninguém sabe o que vai acontecer no futuro e, então, consideramos as hipóteses e medimos o risco e o quanto essa queda na cotação abriu oportunidade ou se é um “barato” que não vale o risco.  Essa é uma análise fundamentalista – conhecer quantitativamente e qualitativamente a oportunidade ou a armadilha que o Senhor Mercado está lhe oferecendo, aprendendo a analisar as projeções do cenário macro e os números do setor e do negócio individualmente. Somente assim poderemos reduzir os riscos e gerenciar com mais eficácia nossos investimentos.

Procure evoluir para aprender a gerenciar de forma mais eficaz os riscos, entender a importância da margem de segurança, não surtar nos cenários de crise ou em momentos onde algum ativo perde os fundamentos, porque isso acontece. Reagir sem surtar em momentos de pânico na renda variável é evoluir.

Então, quando algo der errado, não busque por uma solução imediata só para te deixar mais tranquilo (questão emocional). Use a razão e elimine a causa do erro (escolha de ativo porque ele está na moda, sem estudar o fundamento, comprar topo atrás de topo e vender no desespero). Se fizer isso, inevitavelmente irá errar menos amanhã e menos depois de amanhã. E as crises? Essas sempre passam, demoram mais ou menos, tem maior ou menor impacto, mas passam.

“A mínima mudança em quase qualquer lugar é suficiente para mudar todo o resto da história.”

Richard Dawkins

Daniel Nigri com apoio de Patricia Rossari

O analista Daniel Nigri CNPI1810 é o responsável pelas informações perante a ICVM 598

As informações não constituem recomendação de compra ou venda de qualquer ativo

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