RECOMPRA DE AÇÕES

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No post do último sábado falamos sobre a montagem de uma carteira de dividendos. Os dividendos e juros sobre capital próprio são apenas uma forma de se rentabilizar com ações. Existe outra forma que é muito menos badalada, mas que tem um resultado semelhante. Recompra de ações.

Basicamente, imaginemos uma empresa que tenha um milhão de ações e ela tem lucro de R$1,00 por ação e paga 100% em dividendos. Logo ela pagará 1 milhão de reais em dividendos. Se ela recomprar 10% das ações deixa-las em tesouraria, e no fim do ano obtiver o mesmo lucro de R$ 1 milhão (1 milhão de ações x R$1,00 por ação) ela agora só precisará dividir esse lucro por 900 mil ações. Isso ocasionaria um dividendo de R$ 1,11 no ano seguinte, mesmo mantendo o mesmo lucro. Percebam que esse benefício é pra sempre. A quantidade de ações foi reduzida para sempre.

Mas vamos voltar ao início para entender esse programa como um todo. Como exemplo, vamos pegar esse programa de JBS que está atualmente aberto desde fevereiro. Percebam no fato relevante que a empresa terminou um programa de recompra de ações e já começou um novo. No novo programa, a empresa ainda tinha 1.518.422.071 ações em circulação e respeitando a legislação que só permite recomprar até no máximo 10% das ações em circulação a empresa divulgou que pretende recomprar até 151.844.207 ações no prazo de 18 meses.

Isto significa duas coisas. A primeira que os atuais acionistas com o cancelamento atual terão um benefício maior no futuro, e a outra que com o novo programa de recompra de ações eles poderão ter um novo benefício ano que vem.

 

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 Link retirado do site de RI da empresa

 

      Mas, por que as empresas recompram as ações?

As empresas têm dois motivos principais para recomprar as ações. O Primeiro é para gerar um maior retorno ao acionista com o posterior cancelamento das ações emitidas, como vimos aqui no exemplo de JBS. Agora o lucro é maior por ação assim como os dividendos por ação, porque o valor total distribuído é dividido por menos ações. O segundo motivo seria para posterior alienação. A empresa considera que o valor da ação está muito barato, abaixo do valor intrínseco que a empresa deveria valer de acordo com a operação dela e então ela recompra as ações. Assim, no futuro, quando o mercado precificar corretamente, ela pode vender essas ações e com isso gerar mais valor aos acionistas. Percebam que neste segundo motivo, a quantidade de ações permanece a mesma, e o benefício com a alienação provocado pela tesouraria seria pontual. Isto é, seria causado apenas uma vez, e não pra sempre como no caso do cancelamento. Ainda existe um terceiro motivo para recomprar ações, que é para distribuir principalmente aos diretores e colaboradores, como uma espécie de  participação de lucros.

Assim os controladores e o conselho de administração conseguem unificar os objetivos dos acionistas com o dos diretores e outros colaboradores. Às vezes, essas ações são entregues na forma de opções que só poderão ser exercidas caso a ação passe de um determinado valor. Eu acho uma estratégia interessante, porque aí estimula mais o trabalho eficiente e, como foi dito antes, existe uma unificação de objetivos de todos os entes da empresa.

Mas, nem tudo “são flores” no programa de recompra de ações. Eu vejo 3 pontos principais que podem ser vistos como negativos.

1 – A empresa reduz o free float, ou seja, as ações em circulação no mercado. Isso faz com que normalmente a liquidez dessas ações diminua. E para ações do Novo Mercado precisam ficar atentas porque para estar listada neste Mercado de Governança Corporativa Superior, existe um free float mínimo exigido de 25% das ações.

2 – Em um momento de crise, em que faltam compradores para o mercado, a empresa acaba sendo uma forma dos vendedores terem pra quem vender. Isso pode trazer uma artificialidade nos preços das ações. Vejam que isso, também traz um ponto positivo, porque como existe uma oferta grande no lado comprado, o preço das ações em um cenário de crise tende a cair de forma mais devagar.

3 – O que eu considero mais importante. O dinheiro que a empresa utiliza para fazer a recompra das ações é o mesmo dinheiro que ela utilizaria para fazer novos investimento e crescer seu negócio. Portanto, quando a empresa resolve efetuar uma recompra de ações ela está preferindo investir menos em seu próprio negócio. O ideal é o seguinte. Empresas que tenham um ROIC (Retorno sobre o capital investido) abaixo do custo de capital deveriam realizar mais recompras de ações e distribuir mais dividendos, porque os seus investimentos são menos rentáveis. Mas empresas de alto crescimento e que tenham grande espaço para crescer não devem realizar recompra de ações e sim investir em seu próprio negócio.

 

 

Vejam que Itaú também tem um programa de recompra de ações vigente, desde novembro de 2016.

 

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             Link retirado do site de RI da empresa

   Então por que Itaú faz Recompra de Ações?

Itaú é um banco que chegou a um tamanho que dificilmente ele conseguirá comprar outro banco sem ter problemas com o CADE. Em segundo lugar, o banco não tem quantidade de investimentos suficientes para realizar em seu próprio negócio por causa do cenário de recessão econômica que o Brasil se encontra a 10 trimestres. Logo, a forma encontrada para gerar um retorno maior ao acionista é a recompra de ações. E dentro do estatuto de Itaú existe uma clausula interessante que impede o banco de recomprar mais de 25% do volume negociado de ações em um determinado dia. Assim a artificialidade do item 2 acima acaba sendo parcialmente suprimida.

Outro fator importante, é perceber se a empresa tem Caixa suficiente ou Reserva de Lucros, para efetuar o programa de recompra de ações sem ter problemas de liquidez caso haja uma piora no cenário da economia para a empresa.

Nos dois exemplos citados aqui no artigo temos: JBS tinha ao final de 2016 R$ 9,36 bilhões em Caixa e o programa de recompra de ações fala em recompra de  151.844.207 ações. Pelo preço atual de R$ 10,20 estamos falando de um dispêndio de Caixa de R$ 1,55 bilhão. Ou seja, será gasto em torno de 16% do Caixa com esse programa ao longo do ano, o que é considerado aceitável.

Em Itaú, o programa pretende recomprar até 50 milhões de ações preferenciais e 10 milhões de ações ordinárias, até agosto de 2017, com o preço atual de R$ 37,12 na PN e 32,80 na ON o que totalizaria um gasto de R$ 2,22 bilhões. Comparado com a disponibilidade de Itaú Unibanco de 12 bilhões de reais, também é um programa que pode ser concluído com tranquilidade.

Outro ponto importante é o seguinte, vejam que o programa de Itaú fala em recomprar até 50 milhões de ações preferenciais, e até o momento só recompraram 30.626.000 no total. Faltando apenas quatro meses para o término do prazo, é possível que Itaú não consiga recomprar tudo. É importante ressaltar que um programa de recompra não passa a ser uma obrigação da empresa. Ela pode executar ou não. Quando as ações sobem muito de preço, passa a não valer a pena comprar mais as ações no mercado.

  Uma Pegadinha

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            Link retirado do site de RI da empresa 

 

       Vejam acima este programa de recompra de ações de Ser Educacional lançado em 09 de Janeiro de 2017, em que a empresa pretendia recomprar quase 10% das ações. Até 2.950.000 ações. De um total de ações em circulação de 36.244.622. A empresa também informou que já dispunha de 377.500 ações em tesouraria de programas antigos.

            Agora em Abril, a empresa ainda não recomprou nenhuma ação. Ela continua com as 377.500 ações. Neste último mês podemos dizer que é porque a ação subiu, mas nos anteriores, esse motivo não existia.

Essa pegadinha será a conclusão desse artigo. Vejam bem, Quando a empresa avisa que ela está recomprando suas próprias ações ela sinaliza duas coisas para o mercado.

1 – Que a empresa considera que o preço atual de sua ação está abaixo do valor que ela considera justo, como já vimos aqui neste artigo.

2 – Que a partir deste momento, haverá uma força atuando no mercado com capacidade de negociar muitas ações, sempre do lado comprador.

Os dois motivos sinalizam alta das ações. Então esse exemplo de seer3, mostra que não adianta ficar procurando empresas que anunciam programa de recompra de ações para tentar fazer um trade nas ações. Afinal a empresa divulga a intenção de recomprar, mas isso não é uma obrigatoriedade. Ela pode não comprar sequer uma única ação.

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Abraços e Bons Negócios

Daniel Nigri   –   CNPI

 

 

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