ROMI : Resultados do Primeiro Trimestre de 2020

A Romi é uma empresa que fabrica e vende seus produtos para aeronáutica, defesa, fabricantes e fornecedores da cadeia automobilística, máquinas e implementos agrícolas, assim como máquinas e equipamentos industriais.

Para quem gosta de carros ou estudou processo de industrialização no Brasil, sabe que o Romi Isetta é considerado o primeiro carro brasileiro, pelo menos o primeiro produzido aqui por completo, produção 100% nacional. A produção dele foi encerrada em 1961 e foram produzidas três mil unidades. Hoje, é carro de colecionador. Ele possuía uma porta, um assento, atingia até 52 km/h e possuía 4 marchas, um motor de 300 cilindradas, uma vela de ignição e bateria elétrica.

Os produtos fabricados hoje pela empresa são:

  • Máquinas-ferramenta: destaque para centros de torneamento, tornos CNC, tornos convencionais, centros de usinagem e mandrilhadoras.
  • Máquinas para Processamento de Plásticos (por injeção e por sopro).
  • Peças de ferro fundido cinzento e nodular, fornecidas brutas ou usinadas.

Além de produzir, a empresa ainda comercializa os produtos com equipe de vendas própria, mantém filiais e escritórios de vendas nas principais capitais e polos industriais espalhados pelo país, contando também com pós-vendas, assistência técnica e peças de reposição.

A estrutura da empresa conta com um parque industrial formado por treze fábricas, em três estabelecimentos na cidade de Santa Bárbara d’Oeste, no Estado de São Paulo, e um na cidade de Reutlingen, na Alemanha, sendo essa unidade de produção de máquinas-ferramenta de alta precisão, além de possuir participação em controladas no Brasil e no exterior. A capacidade instalada de produção de máquinas industriais é cerca de 2.900 máquinas por ano e, na fundição, de 50.000 toneladas por ano.

OBS1: Lembrem-se que capacidade instalada é de Projeto, ou seja, é a quantidade de produtos que podem ser produzidos pela planta/setor/equipamento/máquina em um determinado tempo de trabalho. Sem conhecer esse número, fica inviável fazer a gestão de qualquer processo.

OBS2: a utilização da capacidade instalada é sempre usada como gatilho pelas empresas em épocas de indicativos de recuperação da produção, devido a um aquecimento do mercado consumidor. Tanto que é preciso cuidado ao analisar a capacidade demasiadamente ociosa como também a falta de investimentos para ampliação da capacidade total (projeto), no caso de um aquecimento maior da economia e a empresa não apresentar capacidade física ou então eficiência suficiente para organizar a produção na estrutura já disponível.

A utilização da capacidade instalada é o nível de atividade da planta indicada em porcentagem. Logo, quanto maior a utilização, maior a diluição dos custos fixos e maior a possibilidade de uma melhora na margem. Segundo a companhia informa no release, o índice da Utilização da Capacidade Instalada (UCI) da indústria nacional em geral, elaborado pela Confederação Nacional das Indústrias, que era de 68% em fevereiro, caiu para 57% em março.

Hoje vamos falar sobre os resultados do primeiro trimestre de 2020, e assim verificar quais são as principais mudanças nos números dos processos da companhia, mas antes é preciso esclarecer que na análise da carteira de pedidos precisamos considerar que muitas vezes a redução ocorre porque existe a entrega das máquinas, dos pedidos prontos. Então, quando as entradas de pedidos não são suficientes para compensar o que já foi entregue, podem ocorrer oscilações de valor que devem ser analisadas com cautela.

E lembrar que as máquinas não são produzidas em um dia, então os pedidos são colocados e os projetos levam um tempo para acontecer. Enquanto isso, permanecem em carteira. Porém, em alguns trimestres pode ocorrer uma evolução desse número, não apenas por novos pedidos, e sim por pedidos ainda não entregues. Inclusive a empresa vem trabalhando para diversificar o mix e tornar a entrega de pedidos mais linear ao longo do ano, para assim não criar grandes discrepâncias nos resultados trimestrais.

Fique atento também ao fato de que com a crise as empresas podem sofrer com um cenário externo menos aquecido, e no caso da ROMI, o mercado externo é responsável por grande parte da receita. Logo, se existe redução na entrada de pedidos e se ocorrem entregas maiores, a carteira de pedidos fica reduzida e isso reflete nos resultados seguintes.

Em relação à questão cambial, é preciso considerar que em média 35% dos insumos são importados ou sofrem algum impacto devido ao câmbio, mas como ela exporta, o preço é em dólar/euro. Logo, com o aumento da moeda em relação ao real, influencia a margem de lucro. Já no que diz respeito ao mercado interno, a moeda desvalorizada frente ao dólar é positiva para a unidade de máquinas da companhia, que tem seus principais concorrentes lá fora, ou seja, eles produzem lá fora, portanto, o preço da indústria que quer adquirir o produto será em dólar.

Válido também considerar as informações de FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo) e os indicadores da indústria quando ler as projeções desse ativo, afinal, os investimentos em estoque são uma forma de antecipar esse aquecimento e assim conseguir produzir o que a demanda solicitar sem necessidade de tempos de espera elevados, que poderiam ser prejudiciais em relação à manutenção de market share. E para os mercados externos vale a pena considerar o PMI (índice de gerentes de compras), lembrando que o índice abaixo de 50 indica cenário de estagnação.

A empresa cita que tomou medidas para reduzir os impactos da pandemia nos negócios, e como na maioria dos negócios ela fez captação de recursos para aumentar a liquidez, revisou as projeções de demanda para adequar os volumes de produção, assim foi possível ter uma visão mais realista da necessidade de compra de matérias-primas e componentes/insumos e negociou prazos com fornecedores, além de negociar os contratos para evitar perdas, aqui em relação a preços.

OBS: a empresa captou R$ 88 milhões; destes, R$ 85,2 milhões em reais, com custo de CDI + 3,19% a.a. e CDI + 4,65% a.a., com prazo de um ano. Ainda cita que a posição financeira líquida no final de março equivale a 8 meses de custo fixo.

Sobre 1T2020

Pedidos:

A empresa informou em suas demonstrações que a entrada de pedidos na Unidade de Máquinas Romi cresceu 21,8% (aquecimento do setor no 4T2019) e na unidade de Fundidos e Usinados aumento de 114,7% (devido ao aquecimento de peças de grande porte para o setor de energia), na unidade de Máquinas Burkhardt+Weber queda de 37,33% (lembrando que estamos falando do mercado Europeu nessa unidade). No total, a carteira de pedidos apresentou um crescimento de 22,4%.

Em relação aos impactos do COVID19, a empresa informa que os negócios na Europa (Itália, França, Espanha, Alemanha e Reino Unido) foram os primeiros a sentir o movimento de queda, devido às restrições que iniciaram mais cedo, inclusive nas entregas. Porém, sem nenhum cancelamento até o momento.

As operações dos mercados do Brasil, EUA, México, Argentina e restante dos locais onde a empresa possui negócios começaram a recuar a partir da metade de março. Em relação aos recebimentos, a companhia informou que na carteira de recebíveis de financiamento direto a inadimplência cresceu, cerca de 18% dos clientes solicitaram o adiamento de parcelas que venceriam em abril, mas a empresa não cita se atende a todos os pedidos, e sim que examina caso a caso para deliberação posterior. Logo, o próximo trimestre pode ter impacto nos recebimentos.

OBS: a companhia suspendeu todas as operações do Brasil, primeiramente em 24 de março de 2020 para o grupo de risco, em 30 de março para o restante dos colaboradores, até o dia 21 de abril de 2020, usando férias, banco de horas e troca de feriado. Ou seja, operação em funcionamento atualmente.

RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA

A receita operacional líquida no trimestre foi de R$ 165,9 milhões, apresentando assim 37,4% a mais de faturamento que o mesmo tri de 2019 e um número 28% menor que no trimestre passado (4T2019), com margem bruta de 29,1% contra 19,5% no 1T2019 e 29,9% no 4T2019.

  • Máquinas Romi:

Receita – R$ 82,5 milhões – comparação 1T2019, aumento de 19,7%.

Comparação com 4T2019, recuo de 36,2%.

  • Máquinas Burkhardt+Weber:

Receita – R$ 36,7 milhões – comparação 1T2019 aumento de 107,2% (76,7% em euro), lembrem-se do que falei no início da nossa conversa ao relacionar carteira de pedidos com faturamento. Parte desses pedidos entregues são pedidos do meio/final de 2019, entregues em 2020.

Comparação com 4T2019, recuo de 42,4%.

  • Fundidos e Usinados:

Receita – R$ 46,7 milhões – comparação 1T2019, aumento de 36,9%.

Comparação com 4T2019, aumento de 25,1%. Aqui o destaque é o mercado de energia.

Volumes:

  • Máquinas Romi: 164 unidades – 248 no 4T2019 – 137 no 1T2020
  • Máquinas Burkhardt+Weber: 3 unidades – 7 no 4T2019 – 2 no 1T2020
  • Fundidos e Usinados: 4095 unidades – 3605 no 4T2019 – 3567 no 1T2020

Faturamento por região:

Veja que a maior quantidade de pedidos entregues pela unidade Burkhardt+Weber fez com que aumentasse o percentual daquele mercado na receita. Nos próximos trimestres, a tendência é vermos um movimento contrário.

A receita operacional líquida em dólares subiu 20,5% em relação a 2019 e recuou 47,2% em relação ao quarto trimestre de 2019; em reais +48,8% (1T2020 x 1T2019) e recuou 39,9% (1T2020 x 4T2019).

A margem bruta aumentou 9,6%, para 29,1%, e quando consideramos o trimestre anterior, recuou 0,8%.

  • Máquinas Romi – margem de 43,8%, +3,4 p.p. em relação ao 1T2019 e +6,2 p.p. em relação ao 4T2019.
  • B + W – margem de 18%, +36,2 p.p. em relação ao 1T2019 e -4,9 p.p. em relação ao 4T2019.
  • Nos fundidos e usinados – margem de 11,9%, +14,9 p.p. em relação ao 1T2019 e -3,1 p.p. em relação ao 4T2019.

A margem operacional aumentou 18,2 p.p. na comparação com o 1T2019, ficando em 3,4%, e recuou 6,3 p.p. em relação ao 4T 2019.

Ebitda:

Ebitda apurado pela companhia foi de R$ 14,2 milhões, com margem EBITDA de 8%, recuou na comparação trimestral anual devido aos não recorrentes.

Não Recorrentes:

No primeiro trimestre de 2019 a empresa reconheceu valor referente à exclusão do ICMS na base de cálculo do PIS e da COFINS, o que precisa ser considerado na comparação dos resultados. No 1T2020 a empresa reconheceu ganho no Processo Judicial (Plano Verão). Esses valores impactaram o resultado do EBIT/EBITDA através de redução de R$ 1 milhão, referentes a despesas advocatícias; no resultado financeiro aumento de R$ 25,1 milhões (atualização monetária); o IR aumentou em R$ 10,8 milhões e o lucro líquido aumentou em R$ 35 milhões.

Lucro Líquido

O Lucro Líquido trimestral foi de R$ 40,8 milhões, contra um resultado de R$ 19 milhões no trimestre passado.

Posição de Caixa/Aplicações

A empresa possui em caixa, equivalentes de caixa e aplicações financeiras o valor de R$ 165,1 milhões.

Concluindo:

Entender que os negócios são dependentes de outros negócios e outros setores faz muita diferença no resultado da análise, assim como os não recorrentes e como a empresa está enxergando a recuperação do setor onde atua. A ROMI depende do quanto a confiança da indústria está recuperada, do quanto o empresário está disposto a investir, a ampliar, e vocês acompanham esses dados através da FBCP e do índice da Utilização da Capacidade Instalada da indústria nacional em geral, que é medido pela CNI (Confederação Nacional das Indústrias). E sabemos que, infelizmente, com a crise do COVID-19, as taxas foram comprometidas. Afinal, indústria parada não produz.

Daniel Nigri com apoio de Patricia Rossari

O analista Daniel Nigri CNPI1810 é o responsável pelas informações perante a ICVM 598

As informações não constituem recomendação de compra ou venda de qualquer ativo

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