Muito Prazer! Eu sou o Senhor Mercado.
Na última sexta feira, a Petrobras foi mais uma vez destaque no cenário do mercado de investimentos brasileiro. Isso porque Pedro Parente, o presidente da estatal após dois anos, renunciou ao cargo em caráter “irrevogável e irretratável”. Essa notícia, apesar de já cogitada na última semana, surpreendeu muita gente. O resultado disso é obvio: cotação chegou a despencar mais de 18%. O ativo na abertura estava cotado a R$ 19,56 e ao meio dia chegou a R$14,90, perdendo mais de 55 bilhões em valor de mercado. Na última semana falei sobre a questão da Ingerência nas Estatais e a lei que entra em vigor de fato no final deste mês de junho. No texto comentei sobre a queda na cotação do ativo devido ao governo ter adotado uma medida que aos olhos do mercado diminui a independência da gestão e demonstra que ela ainda é uma ferramenta política muito forte.
Na carta, Pedro Parente deixa claro que as discussões sobre a forma do reajuste estão longe do fim e que obviamente isso não o agradou. Afinal, ele mesmo cita que a sua contribuição não é mais positiva diante das alternativas que o governo propõe, ainda mais pelo fato de que a própria imagem do executivo sofreu um desgaste grande nesse processo. E na carta ele diz “não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não serei empecilho para que essas alternativas sejam discutidas”.
Mas porque isso é importante para nossa conversa?
Simples: pelo fato de que cenários assim são a representação perfeita da metáfora de Graham. No livro O Investidor Inteligente de 1949 o autor cita o personagem como uma metáfora que reage emocionalmente às crises de pessimismo e de otimismo, criando assim cenários de pânico ou de “Alice no país das Maravilhas”, sempre baseado na reação a fatos imediatos, sem nenhuma análise complementar.
O Senhor mercado estava ativo na sexta feira, batendo à porta de todos os investidores e oferecendo muita volatilidade em um ativo, barato para alguns e caro para outros. Ou seja, o Senhor Mercado é solícito em oferecer, mas ele não obriga ninguém a aceitar. O pânico e o desespero em ceder as “ofertas” de compra ou venda são do próprio investidor que não consegue enxergar que pode ser manipulado emocionalmente pelo “humor” do mercado.
Imagem dos investimentos guiados pelo Senhor Mercado
Na imagem acima vemos claramente que qualquer tentativa de prever o futuro usando apenas o humor do mercado terá como resultado o fracasso. Basear as decisões de montar posição de compra ou venda guiado pelo boato que gera o pessimismo e o otimismo só funciona para quem é operador profissional, quem opera a curto prazo. E porque isso ocorre?
Simples: o mercado financeiro tem como base a oferta e a procura. Ao analisar um gráfico o objetivo deve ser identificar um padrão de comportamento das cotações, ou seja, identificar se a “massa” ou “manada” esta “desesperada” ou “esperançosa”, afinal a oscilação da cotação do ativo é um reflexo dos movimentos dos investidores. E a multidão nunca é totalmente racional, mas gera força. Por isso é importante usar sempre o mantra “ninguém vence o mercado”. Repita quantas vezes forem necessárias até aprender.
O preço/cotação de um ativo é instável, oscila pelas operações entre vendedores e compradores, um querendo vender o mais “caro” possível e o outro tentando comprar o mais “barato” possível. Ou seja, oscila com base no comportamento da massa. A operação só ocorre quando um dos dois está disposto, por motivos diferentes, a ceder.
Um exemplo para esse caso seriam as notícias que provocam a corrida da manada. Existe uma oscilação na cotação porque vendedores e compradores são influenciados psicologicamente de maneira diferente, e o operador racional nesse caso enxerga uma operação fácil, entra e ganha seu dinheiro surfando a onda criada pelos rumores, pelo medo, pelo despreparo da manada.
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O Senhor Mercado Não se Importa Com Você
Quando o Senhor Mercado está extasiado ele costuma ser utópico, mas não confunda exagero de otimismo sem bases de fundamento com um crescimento coerente explicado por resultados presentes e projeções futuras. Às vezes o Senhor Mercado pode nos pregar peças se não estudarmos com cautela os fundamentos da empresa
DECISÕES RACIONAIS E NÃO EMOCIONAIS.
Invista em aprender a diferenciar um ativo esgotado na alta, com pouca margem, de um ativo que, apesar de estar com beta alinhado ou acima ao Ibovespa, ainda tem espaço para crescer e entregar mais resultados. Se a alta está embasada em cenários econômicos realistas, em resultados entregues pela empresa, projetos de expansão ou se é apenas otimismo. Cuidado com o pessimismo apocalíptico: esse é extremante criativo nas manchetes, relatórios e vídeos de “venda tudo e fuja para as montanhas”, venda no pânico sem analisar nada além da cotação.
Quando o preço “cai”, mas a empresa sustenta os fundamentos e projeções, temos uma oportunidade. O ativo se torna menos arriscado, pois aumenta a margem de segurança. Então, cuidado para o Senhor Mercado não confundir sua cabeça e alterar os conceitos de preço e valor.
Momentos como esse me fazem lembrar da frase:
“A verdade não resulta do número dos que nela creem” Galileu Galilei.
Quando o mercado está em êxtase, analise se existem fundamentos que justifiquem e analise individualmente os ativos. Não acredite que somente porque a tendência é de alta que todos os ativos são bons e vão acompanhar a trajetória indefinidamente. A mesma lógica se aplica para o mercado em baixa, o apocalíptico.
Recado Do Senhor Mercado
Na sexta, o Senhor Mercado disse que estava reagindo ao fator governamental na gestão da empresa, nas incertezas políticas do ano eleitoral e da pressão que isso gera nas instituições estatais. Logo, qualquer investidor que esteja vulnerável ao humor dele pode ter agido por impulso, por exemplo, comprando o ativo há algumas semanas pelo preço de R$ 26,00 devido à melhora nos resultados e preço das commodities (aqui peço licença para ressaltar a importância de entender a análise de empresas de ciclo e evitar assim prejuízos desnecessários), e vendido hoje no pânico levado pela incerteza e desespero que fez despencar a cotação. Digamos que ele tenha vendido a R$15,00 afinal Sr Mercado hoje está certo de que a única variável que importa é quem preside a empresa e o tamanho da influência que isso tem nos resultados do ativo… e então você me diz: mas, Patrícia, isso tem realmente muita importância, é um fator definitivo. E eu respondo: caso você acredite nisso não devia ter entrado no ativo a R$ 26,00.
Não se trata de comprar ou vender o ativo, mas de estar ciente dos fundamentos e dos riscos para não acabar sendo apenas quem paga corretagem e acumula prejuízos.
Patricia Rossari