A Queda da Selic e o impacto em Porto Seguro e BB Seguridade

Na semana passada tivemos a divulgação dos resultados de algumas empresas ligadas ao setor de seguros listadas na Bolsa, como Porto Seguro, BB Seguridade e a Wiz Soluções.

Além disso, também na semana passada, mais precisamente na quarta-feira, o Copom se reuniu e definiu uma redução de 75 bps da taxa Selic, resultando em uma taxa de 3% ao ano.

No Brasil, no passado, sempre tivemos altas taxas de juros. Desde outubro de 2016, quando a Selic foi de 14,25% ao ano, ela vem sendo reduzida gradualmente, até que na semana passada chegou ao menor nível alcançado pela política de juros do Brasil desde 1999, momento em que o país adotou o regime de metas de Inflação.

O argumento utilizado para essa redução é que a economia necessita de “estímulo monetário extraordinariamente elevado”. Ao mesmo tempo, foi deixado em aberto a possibilidade de novo corte de mesmo tamanho, terminando o atual ciclo de cortes com a taxa em 2,25% ao ano.

Isso quer dizer, entre várias outras consequências, que os investimentos atrelados à Selic perderão rentabilidade. Assim como os investimentos, as dívidas também cairão.

Em condições normais, uma redução da Selic traria potenciais melhoras na economia do país, o que levaria a um ganho também no setor de seguros. Como atualmente vivemos um período atípico, esse resultado não acontecerá, pelo menos no primeiro momento.

Dito isso, vamos entender um pouco do setor de seguros para sabermos os impactos que estão por vir.

Fonte: CNseg

As seguradoras oferecem diversas opções de produtos: seguro de vida, de carro, saúde, entre outros. Com isso, elas recebem um prêmio, dando em troca o compromisso de indenização no futuro, caso o risco do seguro se realize.

Ao receber esse prêmio, a companhia de seguro aplica esse dinheiro no mercado financeiro, em sua maioria em títulos de renda fixa, para que eles gerem retorno enquanto as indenizações se espalham ao longo da duração das apólices.

Portanto, podemos dizer que essas empresas possuem duas principais fontes de receitas: o lucro que vem da operação de venda de seguros e o resultado das aplicações feitas no mercado financeiro.

A queda da Selic não impactará diretamente a operação de venda de seguros, mas a redução ocorreu devido à crise econômica que está por vir e que consequentemente irá refletir na comercialização de seguro.

As consequências desses acontecimentos são diversas. Em um cenário de crise econômica, os índices de criminalidade deverão crescer, aumentando assim a sinistralidade. Ao mesmo tempo, a venda de seguros irá diminuir, assim como a inadimplência deve aumentar. Nos resultados da Porto Seguro, inclusive, ela pouco provisionou valores adicionais em razão da pandemia e, em função disso, prometeu uma provisão complementar em breve. O cenário ainda é bastante incerto.

Isso sem falar em um possível aumento de inflação no futuro, que poderá pressionar as seguradoras a não repassar custos maiores aos clientes, pois o cenário não é propício a isso. Pelo contrário, os clientes demandarão seguros ainda mais baratos, o que, com uma elevada concorrência, poderá pressionar os preços ainda mais para baixo, estreitando as margens das companhias.

Mudando agora para a outra fonte de renda das seguradoras, a redução da Selic trará impactos diretos nas suas aplicações no mercado financeiro.

Como a grande maioria das aplicações das seguradoras são em renda fixa, a redução da Selic implica em menores retornos sobre o capital investido. Neste patamar de baixa histórica, a diversificação da carteira de investimentos será vital para manter a rentabilidade das operações.

Voltando ao exemplo da Porto Seguro, nesse primeiro trimestre de 2020, foi registrado um resultado financeiro negativo em R$ 1,5 milhão. Esse resultado foi devido a algumas posições em ações da Companhia, que sofreram quedas também devido à crise que estamos atravessando. Já na BB Seguridade, o resultado financeiro foi positivo em R$ 46,7 milhões.

Para reduzir esses impactos negativos nos resultados, podemos dizer que as seguradoras possuem três principais alternativas: redução das sinistralidades, redução das despesas financeiras e queda nas despesas operacionais e administrativas.

Com o isolamento, já é possível observar queda na sinistralidade do seguro de automóvel, por exemplo, principal produto da Porto Seguro. A maioria da população está em casa, reduzindo assim o fluxo de carros na rua.

A sinistralidade total da Porto Seguro foi de 52,6%, queda de 1,5 p.p. no 1T20 em comparação ao 1T19. A BrasilSeg, um dos braços da BB Seguridade, fechou o semestre com 29,7% de sinistralidade, queda de 7,5 p.p., e a Brasildental registrou sinistralidade de 43,1%, queda de 0,8 p.p.

Em relação às despesas financeiras, tanto a Porto Seguro quanto a BB Seguridade registraram aumento nesse período, de 66% e 86% respectivamente.

A Porto Seguro conseguiu reduzir as despesas operacionais e administrativas em 2%, já a BB Seguridade teve crescimento de 30,9% no mesmo período, excluindo os efeitos não recorrentes.

A pandemia, o pós-pandemia e a redução da Selic trarão diversas consequências negativas para empresas do setor de seguros. Ao mesmo tempo, crise pode também significar oportunidades.

Várias empresas passarão a ficar mais baratas nos próximos meses e poderemos ver alguns movimentos de aquisições em razão disso.

O mercado está com expectativas baixas para o setor. Tanto a Porto Seguro quanto a BB Seguridade caíram quase 9% na última semana, enquanto o Ibovespa teve leve queda de 0,3%.

Esses são alguns dos impactos que poderemos observar nas empresas do setor nos próximos meses. Na minha opinião, temos um cenário bem incerto pela frente e cada empresa tem pontos fortes para passar por esse momento.

Ainda nessa semana, sairá a análise completa dos resultados da Porto Seguro aqui no Dica de Hoje Research.

E para você, quais são suas perspectivas para as empresas de seguro?

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Abraços e Bons Investimentos,

Raphael Rocha

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