Antes de começarmos a falar de criptomoedas, vamos parar e pensar: o que representa realmente o dinheiro?
O dinheiro é um meio de troca, que pode ser representado de diversas formas, desde metais, moedas, cédulas de papel, cheques, bens, vales, cupons, etc. Qualquer forma reconhecida como valor de troca.
Na verdade, o dinheiro é essencialmente um símbolo do valor quantitativo que alguma coisa possa representar de poder de troca: compra e venda.
Esse dinheiro na forma mais comum está cada vez mais escasso e hoje percebemos uma mudança bastante rápida nos meios de transação. A história conta… saímos de uma simples troca ou escambo para a era digital!
Os avanços tecnológicos vieram para aperfeiçoar cada vez mais a segurança e a velocidade das operações. Hoje usamos cartões físicos ou virtuais, temos acessos às contas bancárias online, podemos fazer compras online, além do recente PIX.
Vimos uma mudança bastante rápida nos últimos anos, mas se pararmos para pensar, o mundo só evolui se tiverem muitas pessoas realmente interessadas no benefício desta transformação.
Enquanto nós, cidadãos comuns, ganhamos com a agilidade e segurança que toda essa tecnologia proporciona, temos por trás uma enorme estrutura que obviamente também se beneficia destas movimentações. Estamos falando de bancos, corretoras e todos os tipos de instituições financeiras envolvidas que ganham com a movimentação dos valores transacionados, e sem esquecer, é óbvio, dos seus respectivos controles centrais governamentais.
Com isso, esse dinheiro pôde ser rastreado na sua origem, dando mais segurança a todo processo envolvido, aumentando a arrecadação de impostos e, consequentemente, evitando fraudes fiscais.
Esta é uma história com um pouco mais de dez anos, já que a primeira criptomoeda, e a mais emblemática até hoje, nasceu precisamente no pós-crise financeira de 2008, uma crise desencadeada a partir de setembro de 2008, com a falência do Lehman Brothers e que acabou revelando um setor todo construído em cima da especulação.
Foi nessa época que um conjunto de pessoas fora da área financeira, quase todos ligados à tecnologia, começou a pensar numa forma alternativa de trocar bens e serviços, sem os intermediários tradicionais.
Antes deste movimento, uma primeira abordagem com a intenção de usar o potencial tecnológico para mudar as regras financeiras já tinha sido feita nos anos 90 por um grupo que ficou conhecido como os “cypherpunks”, rebeldes tecnológicos que viam na revolução digital dos modos de pagamento uma forma de criar as bases de um outro tipo de sociedade.
Os membros originais do “cypherpunks” não tinham ideologia social, eram mais preocupados com a matemática complicada da tecnologia criptográfica e a filosofia mais ampla da anonimidade, liberdade individual e privacidade.
Foi em 2009 que as condições estavam finalmente reunidas, tanto do ponto de vista tecnológico, com o amadurecimento de várias ideias e projetos, como do ponto de vista de mercado, em que pessoas comuns começaram a questionar a vulnerabilidade do sistema, buscando encontrar uma alternativa ao “dinheiro” que até então estava sendo usado.
Bitcoin:
Foi neste contexto que nasceu o Bitcoin, que não é mais que um sistema de contabilidade que regista quem tem o quê. Ou, nas palavras do seu suposto e misterioso criador, Satoshi Nakamoto, “um novo sistema eletrônico de dinheiro” que liga diretamente as pessoas envolvidas, sem depender de bancos, financeiras, autoridades centrais ou governos.
Esta revolução monetária tem como princípio a descentralização do controle de emissão de moedas e do registo de transações. O controle fica nas mãos de todas as pessoas que participam da operação, e afinal de contas o que Satoshi Nakamoto desenvolveu, foi um sistema de encriptação que possibilita que isso possa acontecer.
Como isso funciona?
Bom, entra aqui a palavra que é a nova “queridinha” da tecnologia e, para alguns, a grande revolução que a internet terá nos próximos anos: Blockchain, que é uma espécie de livro-mestre de registo de transações espalhado por milhares de computadores.
Curiosidades… quanto ao seu suposto criador, Satoshi Nakamoto, ainda temos muitas dúvidas e mistérios sobre sua real identidade… basicamente é a ele que se atribui a criação do Bitcoin, em 2009; é o nome dele que surge em vários fóruns online de tecnologia que tiveram participação no processo; também foi o seu nome que apareceu assinando o artigo “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System”, uma espécie de pedra filosofal de todo este novo mundo; mas, subitamente, em 2011 desapareceu do mapa e as várias tentativas de desvendar a sua identidade não tiveram sucesso.
Depois de entendermos um pouco melhor sobre a ideia central em torno da criação da primeira criptomoeda, precisamos entender como funciona todo este estranho mundo novo.
Em primeiro lugar: se não é um banco central a emitir moeda, quem emite a moeda, sabendo que, apesar de todas as sofisticações dos mercados financeiros, esta deve refletir um determinado valor ou ser a prova de um determinado valor? Como confiar nestas moedas?
A resposta explica provavelmente por que se diz que o Bitcoin é a “moeda honesta”, já que basicamente é emitida em função do “trabalho” realizado. Qual trabalho? O trabalho de validação de uma transação ou de um conjunto de transações, através de um computador que reúna um conjunto de características que lhe permita entrar na rede de computadores aptos a validar transações. Para suportar essa rede e estes processos, surge a Blockchain.
Vejam como o sistema funciona.
(imagem do site edureka! – defining blockchain tecnology)
Para poder compreender melhor…
Os Bitcoins são moedas virtuais, ou seja, nós não colocamos as moedas no bolso para pagar uma conta ou algo do gênero, mas para que ele exista, precisamos que seja reconhecido o seu valor. Como são virtuais, significa que são um código encriptado e, para que lhe seja reconhecido valor, este código precisa ser validado.
Um exemplo: se comprarmos um carro com Bitcoins, não passamos um cheque nem damos uma ordem de transferência ao banco, usamos uma carteira digital em que compradores, e naturalmente vendedores, participam de uma transação via download. Usando essa carteira, pagamos em Bitcoins o valor do carro diretamente a quem nos vende, sem passar por nenhum banco ou terceira entidade.
Para que a operação de compra e venda seja possível, o código encriptado inerente ao Bitcoin tem de ser validado de máquina para máquina. Como uma das principais motivações desta tecnologia é a descentralização do controle financeiro, a validação não está nos bancos, mas sim num conjunto de computadores que reúnem capacidades tecnológica para desencriptar a informação e validar a transação.
Nenhum destes computadores valida, por si só, qualquer transação. O processo é repartido em blocos e essa é uma das razões apontadas também na defesa da sua segurança. Ninguém detém a palavra final ou o poder absoluto. Os computadores que mais rapidamente conseguirem descodificar e validar os códigos dessa transação “ganham” essa operação. E por ganhar significa que serão recompensados pela rede em que estão inseridos. Como? Em Bitcoins, claro! E é assim que se gera mais moeda.
No início das criptomoedas, como eram poucos os movimentos realizados, bastava descarregar um software num computador para entrar nesta rede de validações, mas à medida que aumentou o número de operações realizadas em Bitcoin ou em outras moedas virtuais, tornaram-se necessários computadores com mais e mais capacidades, aquilo que se designa por supercomputadores (ASICS).
Estas máquinas exigem também um investimento maior para quem as compra, o que foi tornando todo o processo, por um lado, mais exigente, e por outro lado, mais profissional.
Os computadores nesta rede são designados por “mineiros”, já que a eles e às pessoas que os detêm, compete o trabalho de seleção e validação utilizando um algoritmo de aprovação Proof of Work (ou POW), que nasceu com o Bitcoin e é utilizado na maioria das criptomoedas para confirmar que as transações são lícitas e verdadeiras. A expressão “minerar” (“mining”, em inglês) é usada neste contexto para representar a resolução de problemas complexos computacionalmente.
Para se ter uma ideia, estes computadores concorrem pela validação da operação, o que depende da capacidade e do tempo que demoram a fazê-lo, como um carro da Uber concorre na plataforma para ser o que melhor responde ao pedido do cliente. Não é uma decisão humana, acaba sendo uma decisão entre máquinas.
É também por esta razão que alguns operadores destas transações procuram usar computadores ou capacidade computacional de terceiros, de forma a serem mais rápidos e conseguirem obter as moedas virtuais “pagas” pela realização da operação. Qualquer computador identificado com capacidade para “ajudar” neste processo, pode ser alvo de uma tentativa sem que o seu legítimo proprietário perceba disso; quando muito, só irá reparar numa maior lentidão da máquina.
Conforme falamos, as moedas virtuais usam um sistema de transações em que o dinheiro que representam circula sem intervenção de uma autoridade central, seja ela banco, governo ou empresa de crédito, o que torna determinante a confiabilidade no algoritmo de criptação/desencriptação. Com isso, é a própria tecnologia Blockchain que procura reforçar a confiabilidade do processo, sendo uma das principais razões invocadas por quem defende este sistema como o dinheiro do futuro.
Um novo algoritmo, designado como POS (Proof of Stake), já é usado por uma das criptomoedas mais evoluídas da rede, o Ethereum. O POS reforça a defesa frente a hackers e especuladores, colocando em evidência a prioridade de segurança nas transações que usam a Blockchain.
Para quem está ou quer fazer parte da rede de “mineiros”, o tempo de recuperação do valor investido é um tema para se levar em conta. Outro tema com impacto global é o valor da energia despendida: estima-se que a mineração das criptomoedas em 2019 tenha consumido mais energia do que muitos países juntos. E, last but not the least, segundo o banco ING, atualmente os Bitcoins podem suportar um número limitado de transações por segundo, e seria necessário que suportassem 100 vezes, ou mesmo 1.000 vezes mais.
No entanto, dizem que há um limite para a criação de novas moedas. O número máximo de Bitcoins criadas, segundo as regras estabelecidas por Nakamoto, é de 21 milhões. Como cada bloco da criptomoeda é gerado, em média, a cada 10 minutos, eles devem deixar de ser “produzidos” por volta do ano 2140.
Com pouco tempo de história, desde o lançamento do Bitcoin, o mercado conheceu estados de espírito que vão da profunda descrença ao maior entusiasmo, como recentemente batendo recordes de valorização. Com isso, tornou-se cada vez mais complexo: surgiram empresas para converter dólares ou euros em Bitcoins ou em outras inúmeras moedas virtuais, investidores que compram estas criptomoedas porque acreditam que vão valorizar, e operações de financiamento suportadas neste novo dinheiro, as Initial Coin Offering (ICO). E não podemos deixar de lembrar que esta é uma história com um pouco mais de uma década.
A legalidade das criptomoedas varia bastante de um país para outro, e ainda é indefinida ou está mudando em muitos outros. Enquanto alguns países autorizaram explicitamente o seu uso e troca, como a Alemanha, outros restringiram ou até baniram o seu uso, como a Arábia Saudita. Assim também acontece de maneira semelhante, onde várias agências governamentais, departamentos e cortes classificaram o uso de Bitcoins de formas diferentes. O Banco Popular da China (Banco Central da China) baniu o uso de Bitcoins por instituições financeiras no país, depois de um período de adoção extremamente rápido no início de 2014. Na Russia, ainda que as criptomoedas sejam legais, é ilegal fazer a compra de produtos com qualquer moeda que não seja o rublo russo.
Bem, este universo é bastante recente e ainda teremos muitas histórias para serem contadas…
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