Calote Argentino ? Macri pede moratória ao FMI e agora?

 

Moratória Argentina

Na última quarta feira, o governo argentino solicitou a revisão dos vencimentos de sua dívida de US$ 56 bilhões com o FMI, que começam em 2021. No mesmo dia, o Presidente da Argentina, Macri, anunciou um pedido de moratória ao FMI.

O FMI prometeu analisar o pedido da Argentina para renegociar sua dívida, que gira em torno de U$$ 56 bilhões, já que o governo argentino disse que não irá pagar a maior parte da sua dívida de curto prazo, onde os credores são os bancos e as seguradoras.

 

Calote Argentino

Em outras palavras, traduzindo para o português claro, poderíamos chamar a tal moratória de um CALOTE.

 

calote-argentino

 

No entanto, não se trata de um calote “clássico”, porque o governo Argentino ainda afirma que irá pagar, ou seja, uma proposta de renegociação.

As dívidas que a Argentina afirma que irá pagar, algo agora e depois em torno de 25% daquelas de curto prazo que possuem bancos, seguradoras e investidores institucionais como credores, estão em torno de US$ 16 bilhões.

Por exemplo: há muitos vencimentos para o ano que vem e o Macri afirmou que apenas quer adiar esses vencimentos e renegociar os prazos futuros já na vigência do próximo governo, que provavelmente será o da oposição.

Não podemos nos esquecer da dívida com o FMI, que como falei no início desse artigo, gira em torno de US$ 56 bilhões.

Em outras palavras, “devo, não nego, pago quando puder”, porque eles afirmaram que irão pagar os juros e o montante da dívida, querendo apenas renegociar o prazo, buscando alongar as datas para pagamento.

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Porque o Calote Argentino está evidente

O problema da Argentina se agrava porque não tem reservas suficientes em dólares e não tem os pesos para comprar esses dólares.

Não entendeu? Vou explicar:

O governo argentino recebe dinheiro em pesos, e tal receita é proveniente dos impostos que a população paga. Com esses pesos, o governo tem que comprar os dólares para pagar os vencimentos da dívida externa da Argentina.

No entanto, mesmo com todas as moedas dos países emergentes tendo valorizado, o Peso Argentino foi a moeda que sofreu a maior desvalorização recentemente (período entre o fim de Maio e o mês de Junho) como mostra a imagem abaixo.

 

variação-dolar-peso-argentino

 

Isso acaba tendo um efeito ainda mais devastador, já que com a desvalorização da moeda, o governo precisa de muito mais pesos para pagar os dólares de sua dívida.

 

Dólares x Calote Argentino

Para resolver esse problema, a Argentina deveria ampliar a sua receita, aumentando expressivamente os impostos para ter os dólares e pagar os credores externos.

Ou seja, trata-se de uma crise externa que vira uma crise das contas internas. Por quê? Porque o governo argentino tem que destinar maior parte de seus recursos para comprar os dólares que irão pagar a sua dívida no exterior, terminando em déficit das contas públicas.

Cumpre lembrar que, nessa lógica, o atual presidente, Macri, implementou um pacote de austeridade e aumento de impostos, mas não conseguiu o que tentou fazer, o que contribuiu para diminuir a sua popularidade, o que indica que não será mais o candidato que irá se eleger nas próximas eleições.

 

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Dólares x Brasil

Essas crises das contas públicas são um fenômeno reincidente e típico dos países latinos, tendo já acontecido até mesmo com o Brasil.

No entanto, atualmente não há a menor chance de acontecer conosco, pois não corremos o risco de ter um episódio como esse no Brasil porque hoje somos superavitários em dólares.

O Brasil possui uma reserva de dólares superior a 390 bilhões, sendo maior que o tamanho da dívida interna e externa, que é em torno de 300 bilhões de dólares. Dessa maneira, o Brasil tem dinheiro para pagar as suas contas e ainda sobra, e por isso não respingou por aqui.

 

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Como os investidores vêem esse cenário

Claro que toda essa crise na Argentina pode trazer algum tipo de pressão psicológica nos investidores internacionais, principalmente em um momento de crise dos países emergentes e diante da necessidade de liquidez para as turbulências atuais do mercado mundial.

No entanto, para os leitores do Dica de Hoje, o evento da Argentina era altamente previsível e esperado e inclusive publiquei um artigo em maio desse ano, onde relatei a origem da crise argentina, que já se arrasta por mais de 20 anos (colocar gráfico de 20 anos atrás)e, no artigo, relatamos os sinais do cotidiano de um colapso na economia prestes a estourar. Clique aqui e leia o artigo novamente.

 

Concluindo

Para concluir, podemos perceber que ao longo desses 20 anos, mesmo com a sucessão de diversos governos, o mesmo problema permanece:

– O governo gasta mais do que arrecada, e esse descontrole das contas públicas ocasiona uma enorme dívida interna e, consequentemente, torna praticamente impossível pagar as dívidas externas, fazendo-o pedir a segunda moratória em 20 anos.

 

E quais os impactos da crise da Argentina para o Brasil?

Mesmo não tendo chances de ter uma crise como a da Argentina, engana-se quem pensa que não haverá impacto dessa crise no Brasil.

Como vimos, os principais afetados pela moratória do nosso vizinho são o FMI e os credores privados, como os investidores institucionais, donos de títulos da dívida argentina.

Mesmo correndo risco de termos um dólar mais instável devido a um abalo psicológico, o que vai ser o fiel da balança é o nosso Bacen agir vendendo moeda para conter uma alta do dólar, o que já foi afirmado que está sendo feito.

 

Então, onde a crise da Argentina nos afeta?

A argentina é o maior comprador de produtos manufaturados do Brasil, ou seja, nossa indústria é muito interligada à economia argentina.

Nesse momento, com a recessão e a falta de dólares para comprar produtos brasileiros, essa crise infelizmente afeta fortemente a indústria brasileira, que já é bem pouco competitiva internacionalmente.

Dica: Evitar investir em empresas que vendam manufaturados na Argentina.

 

Débora Toledo

 

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