Cenário global e coronavírus

Introdução

Estamos presenciando uma crise de saúde de consequências econômicas que pode desencadear uma profunda recessão na economia americana e do resto do mundo.

É indiscutível a rapidez dos esforços para conter o vírus, o qual também levou ao fechamento ou suspensão de muitas atividades comerciais, principalmente no setor de serviços.

A estimativa de muitos analistas é que a economia contrairá anualmente, talvez até perto de 20%, o que é significativo para os próximos meses. Estimativas falam em retração de até 40% no PIB dos Estados Unidos no 2T2020.

Seria a maior queda trimestral única na história americana desde que os registros são mantidos.

Infelizmente, devido à natureza do choque e à rapidez com que ele atingiu, muitas empresas têm efetivamente pouco caixa e estão quase sem receita. Por isso, lamentavelmente, a taxa de desemprego aumentará de forma rápida em um período muito curto de tempo. Provavelmente o mais acentuado que já vimos. Em duas semanas foram quase 10 milhões de pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos.

Agora, novamente, não estou tentando assustar os investidores. Trata-se de que vai ser uma queda profunda e acentuada. Porém, o positivo é que, de novo, os americanos se anteciparam não apenas na resposta fiscal e, mesmo que de certa forma tardia, o presidente Trump tenta fazer com que a contenção se dissipe como o vírus.

Se isso ocorrer, então, no final do verão (do hemisfério Norte), a economia dos EUA poderá crescer novamente, o que significaria que agora teremos uma recessão que, embora seja muito profunda, ironicamente também poderia ser a mais curta da história. A recuperação pode ser muito mais forte e rápida do que sair da crise fiscal em 2009 e 2010.

Por dentro dos números do corona

De acordo com o banco Goldman Sachs, as principais conclusões econômicas são:

  • 50% dos americanos contrairão o vírus (150 milhões de pessoas), pois é um vírus altamente contagioso. No entanto, é um número parecido com o resfriado comum (rinovírus).
  • 70% da Alemanha o contrairão (58 milhões de pessoas). Esse dado é muito importante, devido à relevância dessa economia industrial.

No final de semana, o presidente Trump disse que os Estados Unidos estão entrando na fase mais crítica e o pico de vírus é esperado nas próximas 2 semanas, declinando a partir de então.

Também de acordo com o Goldman Sachs, esse vírus parece estar concentrado em uma faixa do hemisfério norte, o que significa que, como o resfriado e a gripe comuns, o coronavírus prefere o frio. Dessa forma, o próximo verão no hemisfério norte deve ajudar e isso pode significar que o vírus provavelmente é sazonal.

Dos infectados, 80% terão leves sintomas, 15% sintomas em estágio intermediário e 5% em estágio crítico. Os sintomas no estágio inicial são como os de um resfriado comum, e os sintomas em estágio intermediário são como a gripe e duram por duas semanas; e 5% serão críticos e altamente ponderados em relação aos idosos.

Também de acordo com o banco JP MORGAN, a taxa de mortalidade em média é de até 2%, com grande peso para idosos e pessoas com doenças pré-existentes, significando até 3 milhões de pessoas nos Estados Unidos.

É importante mencionar que, só nos Estados Unidos, cerca de 3 milhões de pessoas morrem por ano, principalmente devido à idade avançada e doenças respiratórias, cardíacas e ligadas ao diabetes.

Logo, de acordo com o banco JP Morgan, isso não significa 3 milhões de novas mortes por vírus, mas sim que há idosos morrendo mais cedo devido a problemas respiratórios. No entanto, isso pode enfatizar o sistema de saúde.

Estamos também acompanhando debates amistosos sobre o lockdown.

Os EUA aderiram à quarentena e países como o Reino Unido, que tendendo a permitir que se espalhe para que a população possa desenvolver uma imunidade natural, tiveram que recuar.

Até o momento da conclusão deste artigo, o primeiro ministro inglês Boris Johnson foi internado na UTI por complicações decorrentes do coronavírus.

É provável que a quarentena seja eficaz e resulte em danos econômicos significativos, mas diminuirá a taxa de transmissão, dando ao sistema de saúde mais tempo para lidar com a demanda.

Falando na economia da China, estamos acompanhando que foi amplamente afetada, o que impactou o preço das commodities e a cadeia de suprimentos global, podendo levar até seis meses para se recuperar. No entanto, já vemos os primeiros sinais de recuperação com aumento da importação de carne e de minério.

De acordo com o Goldman Sachs, a taxa de crescimento do PIB global será a mais baixa em 30 anos, em torno de menos 2%, e o S&P 500 verá uma taxa de crescimento negativa de -15% a -20% para 2020 em geral.

É inquestionável que há danos econômicos do próprio vírus, mas maior parte do dano das bolsas é causado principalmente pela psicologia do mercado. Porém, os mesmos analistas que falam da recessão são os mesmos que afirmam que os mercados de ações globais devem se recuperar significativamente no 2º semestre.

Afinal, os vírus sempre estiveram conosco e estarão para sempre, faz parte da natureza.

Também importante mencionar que o impacto do vírus favoreceu o desenvolvimento da guerra de preços do petróleo entre a Arábia Saudita e a Rússia.

Embora os preços reduzidos do petróleo sejam geralmente bons para as economias, não podemos esquecer que os EUA agora são um grande exportador de energia e isso teve um impacto negativo no valor das empresas do setor doméstico de energia americana, principalmente aquelas que estão investindo no setor de gás.

Isso deve permanecer por algum tempo, já que os russos estão tentando pressionar economicamente os produtores de gás de xisto americanos, e os sauditas, no meio desse tiroteio, não querem ceder ainda mais a sua participação de mercado na Rússia ou nos EUA.

Conclusão

Podemos concluir que tecnicamente o mercado procura motivos para uma correção, principalmente após o maior mercado em alta da história.

Sendo assim, não há, até o momento, um risco sistêmico e os governos estão intervindo nos mercados para estabilizá-los, investindo para que o setor de bancos privados esteja muito bem capitalizado.

Quanto ao mercado americano, o efeito do coronavírus pode se parecer mais com o 11 de setembro do que com setembro de 2008, já que trata-se de uma queda profunda e acentuada e também podendo ser a mais curta da história.

O grande risco para as economias globais provém da grande dívida pública e privada que inundará o mundo. Mas isso é assunto para um próximo artigo.

Debora Toledo

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