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Ciclos de mercado: Será que você entendeu mesmo?

Se você é investidor ou tem interesse em começar a investir, certamente já deve ter lido ou ouvido falar sobre inúmeros produtos financeiros disponíveis no mercado – muitos deles com boas projeções de rentabilidade, seja na renda fixa ou na renda variável.

Mas, será que você sabe realmente identificar as melhores oportunidades de investimento no mercado financeiro?

Em um cenário de incontáveis oportunidades e possibilidades de investimento, é imprescindível que você – investidor – aprenda a detectar boas oportunidades para aportes e aquilo que chamamos de Ciclos do Mercado.

Afinal, você pode não saber, mas o mercado é feito de ciclos e, o que pode ser considerado um bom investimento nos dias atuais pode ser uma péssima escolha em algum momento futuro.

Este artigo foi produzido com o objetivo de ajudar você a entender um pouco melhor a dinâmica do mundo dos investimentos e a conhecer e identificar estes Ciclos do Mercado – buscando as melhores opções de investimento para o seu portfólio ao longo do tempo.

Ciclos econômicos

Em situação semelhante à volatilidade dos mercados, estão os ciclos econômicos.  O movimento pendular da economia é constante. Por conseguinte, os ciclos acontecem, não raro, por razões intangíveis como a confiança. Além disso, o mercado sempre almeja certo grau de previsibilidade, já que em certos períodos as empresas passam por momentos turbulentos e promissores, fazendo com que suas cotações em Bolsa reflitam o seu valuation.

Fases

O ciclo econômico é marcado por quatro fases principais, são elas:

1- Expansão: A expansão acontece quando um país está se recuperando de uma fase de recessão. Nessa fase, as taxas de juros normalmente estão baixas, o que estimula o consumo.

Desse modo, essa fase do ciclo é caracterizada pelo crescimento da produção de mercadorias e serviços. Como a economia fica aberta aos novos negócios, a tendência é a queda dos índices de desemprego e o aumento dos salários.

2- Boom: O Boom é o pico resultante do forte crescimento da primeira fase. Dessa maneira, ele é caracterizado como o ponto máximo da produção de produtos e serviços e a economia está no auge.

3- Contração: O Boom não se sustenta para sempre, já que a tendência é que, após atingir seu ponto máximo, a economia comece a diminuir. Essa diminuição das atividades econômicas e consequente aumento dos índices de desemprego, é chamado de contração.

Nessa fase, normalmente as empresas buscam reduzir os preços dos produtos e serviços, com o objetivo de ganhar maior competitividade no mercado, já que o consumo no geral é reduzido.

4- Recessão: A última etapa do ciclo econômico é a recessão, que é caracterizada pelo declínio econômico. Portanto, nesta fase, a taxa de desemprego é alta, os juros são elevados e, se a economia continuar em queda, a recessão pode se tornar uma crise econômica. Após a recessão, temos a expansão e o ciclo recomeça.

Uma grande diferença entre leigo e investidor

Uma diferença muito importante de um leigo no mercado financeiro para um investidor é justamente entender as diferentes fases dos ciclos do mercado de ações, e a partir disso, comprar e vender ativos no timing correto.

O medo e a ganância são os dois principais sentimentos do mercado financeiro, e é por meio deles que muitos acabam perdendo dinheiro na bolsa de valores.

Como se fosse um pêndulo, a bolsa vai variar entre um pessimismo injustificável, ou seja, maior do que deveria ser para o momento, mas também para um otimismo insustentável, pelo qual não dura por tanto tempo devido ao seu exagero.

A primeira fase que podemos destacar dos ciclos de mercado é o do pessimismo. De forma análoga, o início da crise de março de 2020 com a pandemia foi um grande exemplo deste momento, ou até mesmo a crise de 2008.

Fonte: TradingView

Nesse momento, chega o caos na economia do país, a inflação começa a dar as caras novamente e o dólar sobe, como foi o caso de todo o ano de 2020 com recordes do dólar e desvalorização do real no Brasil.

Nessa hora ocorre uma fuga imensa de capital estrangeiro do país. Até setembro de 2020, por exemplo, cerca de R$88 bilhões haviam saído do país de investidores estrangeiros, como podemos ver no gráfico a seguir.

Nesse momento, os leigos nem sequer pensam em investir na bolsa de valores, que cai abruptamente. Enquanto isso, investidores mais experientes aproveitam as baixas do mercado para comprar ações a preços muito acessíveis.

Após isso, a situação começa a ter uma estagnação, essa é a fase do ceticismo. Nesse momento, apenas quem se informa um pouco mais sobre os indicadores do mercado acabam percebendo a leve melhora que a economia começa a ter, e é nesse momento que muitos ficam de fora dos investimentos, por medo, enquanto os grandes players do mercado iniciam grandes aportes de investimento.

Quando a melhora da economia começa a ficar um pouco mais perceptível, os grandes investidores já investiram quase tudo que gostariam, e ficam aguardando a subida das bolsas. Enquanto esta vai subindo, as projeções começam a melhorar, e pouco a pouco, algumas boas notícias começam a surgir.

Pouco a pouco os desavisados vão comprando as ações em preços cada vez mais elevados, é nesse momento que acontece a fase de otimismo no mercado financeiro, e na forma de um efeito manada, ocorre uma sequência de um movimento de alta nas bolsas quase em linha. Nesse momento, até os que só falam em renda fixa, acabam mudando a pauta para a bolsa de valores.

Nesse momento todos pensam ser verdadeiros “gênios do mercado”, afinal, com a tendência de alta quase incontestável, quase todo investimento feito acaba sendo lucrativo a médio prazo.

Quanto mais essa alta da bolsa vai acontecendo, mais otimismo surge, e então, chegamos na fase de euforia, que é quando a bolsa chega muito perto do topo, ainda com muitas pessoas entrando e comprando nos preços em alta.

As fases do ciclo de mercado:

  • Absorção: o começo do ciclo de mercado
  • Acumulação/Distribuição: preparando o bote do ciclo de mercado
  • Teste de oferta/Teste de demanda
  • Spike: o ataque do ciclo de mercado
  • Spike Channel: o último suspiro do ciclo de mercado

A atuação dos grandes players em cada fase do mercado:

  • Absorção:momento em que os grandes players “absorvem” as agressões dos demais; eles compram ou vendem a determinado preço e os demais “caem em cima” aceitando o preço; a característica desse momento é a queda ou a alta que, no fim, se encerra com pânico ou euforia, respectivamente.
  • Acumulação/Distribuição:observa-se um range, em que o preço fica oscilando em uma faixa mais ou menos estreita; é o momento em que o grande player continua a acumular ativos a um preço atrativo antes de uma alta acentuada ou, ao contrário, em que ele está distribuindo ativos antes de os preços caírem.
  • Teste de oferta/Teste de demanda:o volume de negócios diminui; o grande player ou os grandes players tiram o time de campo só para ver se tem algum outro gigante querendo dar continuidade ao movimento.
  • Spike:com o sumiço da oferta ou da demanda, o ativo acaba fazendo um movimento forte na direção contrária ao movimento anterior.
  • Spike Channel:o mercado está empolgado com o spike e observamos uma continuidade da alta ou da queda (conforme o caso), mas se trata apenas de uma continuidade de inércia, quando os traders de menor magnitude continuam o movimento.

 

Fases

1 Absorção: o começo do ciclo de mercado

Quando essas instituições gigantescas – a que vamos nos referir por “big players”, “grandes players” ou “investidores institucionais” – precisam adquirir ativos em quantidades que, para nós, meros mortais, são inimagináveis, elas precisam fazê-lo ao custo mais baixo possível.

Mas se o fizerem de uma vez, se forem com muita sede ao pote, vão acabar fazendo o preço subir apenas pela demanda acentuada que causarão.

Ex: A tarefa de comprar dez mil contratos cheios de dólar sem aumentar o preço do ativo é parecida com colocar um elefante em uma banheira cheia tentando derramar o mínimo de água possível.

Há dois momentos em que as absorções acontecem:

  • Quando os grandes players decidem ir às compras
  • Quando os grandes players decidem vender tudo

2 Acumulação/Distribuição: preparando o bote do ciclo de mercado

Depois do processo de absorção, no ciclo de mercado, vai acontecer a acumulação (em que o grande player continua comprando depois de um período de baixa) ou distribuição (em que o grande player continua vendendo depois de um período de alta).

  • Acumulação:os grandes players estão “cozinhando” o mercado para uma grande fase de alta
  • Distribuição:os grandes players estão preparando o cenário para uma grande fase de queda

A fase anterior, de absorção, não foi suficiente para montar a posição comprada ou vendida do grande player.

3 Teste de oferta e demanda

Esta é uma fase do ciclo de mercado bem interessante.

Sabe aqueles filmes de guerra antigos? Os soldados avançaram um tanto já no terreno. Aí, estão todos abaixados e alguém resolve ver se há inimigos ainda lá na frente. O sujeito pega um pedaço de pau, coloca o capacete e levanta um pouco acima da linha, da trincheira, onde estão escondidos. Esse soltado está fazendo um teste de oferta de artilharia.

Então, depois de uma fase de alta ou de baixa em que o investidor institucional, nessa fase do ciclo de mercado, esvaziou ou encheu o carrinho, respectivamente, ele se amoita. Fica na dele. Fica entrincheirado. Tipo, só para ver como o mercado se comporta.

Daqui a pouco, é a hora de fazer o mercado subir, no caso de ter comprado um monte de papeis durante a queda e durante o desespero extremo. A ideia é ver se, nessa fase do ciclo de mercado, bem nessa hora, não vai entrar um trader institucional tão grande ou maior que ele interessado em encher o carrinho ainda mais, continuando a queda.

4 Spike: o ataque do ciclo de mercado

Traduzindo ao pé da letra, spike quer dizer espigão. Nessa fase do ciclo de mercado pode ser comum um candle ou mesmo mais candles que parecem espigões, verdadeiros edifícios apontando para o sentido que o grande player quer que o mercado ande.

Antes do spike, tivemos três fases do ciclo de mercado: absorção, distribuição/ou acumulação e teste de oferta/ou demanda. Juntas, elas podem ser consideradas uma grande fase que é a preparação para o objetivo do grande player, que é o spike, a hora de rapelar a mesa, o momento de juntar todas as fichas que estão sobre a toalha.

5 Spike Channel: o último suspiro do ciclo de mercado

É um canal de continuidade do spike. Agora, empolgados pelo forte movimento, os demais participantes do mercado tentam ir no embalo. De fato, o preço está indo na inércia. O grande player provavelmente já colheu os frutos de sua estratégia, integral ou parcialmente.

Vamos notar que o volume negociado, por isso, já é bem menor.

Como aproveitar os Ciclos do Mercado?

Aproveitar os ciclos do mercado não é uma tarefa difícil para nenhum investidor, mas requer atenção e disponibilidade para buscar – e realizar – bons investimentos ao longo do tempo, fazendo alterações na carteira periodicamente conforme forem surgindo as oportunidades no mercado.

Conclusão

A sensibilidade aos danos causados pela volatilidade é remediável, mais ainda do que a predição do evento que poderia causar o dano.

A frase inicial é uma referência ao franco-libanês Nassim Taleb, criador do conceito Antifrágil.  Na prática, a antifragilidade aplica-se muito bem à mentalidade de alguns investidores que alocam seus recursos em ações cuja volatilidade é inerente à classe.

Cenários caóticos ou muito voláteis são extremamente desafiadores para todos. Nesse sentido, tornar-se um antifrágil é a qualidade de sair ainda mais forte desses momentos.

Ao compreendê-lo, o investidor começa a desfrutar das constantes volatidades e desafios do mercado e dos ciclos econômicos. Todo mundo sabe que a economia, o câmbio, as taxas de juros e sobretudo a política são voláteis.

Para quem já investe ou para quem pretende realizar seus aportes em breve, a dica é ter sempre em mente que estes ciclos ocorrem e que se repetem ao longo dos anos.

Além disso, é importante não se esquecer que crises sempre irão acontecer em qualquer mercado – seja no Brasil ou em outros países do mundo.

Por isso, cabe ao investidor atentar-se aos ciclos e às oportunidades de investimento e não ter medo de fazer mudanças em sua carteira de investimentos – abrindo-se à possibilidade de migrar de um investimento para outro que possa estar oferecendo uma rentabilidade maior naquele momento, graças aos ciclos do mercado.

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