O Brasil já é conhecido por ter uma das cargas tributárias mais complexas e pesadas do mundo — e agora, o governo decidiu torná-la ainda maior. O recente aumento do IOF sobre diversas operações financeiras amplia o custo para empresas e investidores, mas quem vai sentir os efeitos reais, mais uma vez, é a população.
A medida, parte do pacote de “ajuste fiscal”, foi apresentada no dia 22 de maio, junto com o contingenciamento de R$ 31 bilhões no orçamento. Mas o que parecia uma ação técnica e necessária acabou se revelando um exemplo claro de como decisões mal calibradas podem minar a confiança no país.
Segundo o Ministério da Fazenda, o objetivo seria “corrigir distorções”, “uniformizar alíquotas” e reforçar o caixa com R$ 20,5 bilhões em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026. Mas, ao mirar na arrecadação, o governo acertou em cheio no crédito, nos investimentos e na já frágil confiança do mercado.
Pensei em colocar um quadro comparativo, mas dada as incertezas e constantes mudanças, e para não correr o risco de deixar o artigo desatualizado, achei melhor não colocar. Mas, você pode facilmente acessar na pagina do Governo Federal
O custo invisível: crédito mais caro, economia mais lenta
Vamos traduzir isso em números?
Se uma empresa tomava um empréstimo de R$ 10 mil por um ano, o IOF era de até R$ 188. Com as novas alíquotas, esse custo mais do que dobra para R$ 395. Parece pouco? Agora multiplica isso por centenas de milhares de empresas e por operações milionárias… o efeito é brutal.
Menos investimento. Menos expansão. Menos emprego. E adivinha quem paga essa conta? Nós, consumidores.
Com a nova alíquota, o custo do crédito empresarial pode facilmente ultrapassar 20% ao ano, somando juros, spreads e o novo IOF. Isso afeta toda a cadeia produtiva, o consumo e o crescimento da economia.
Menos acesso ao crédito significa menos expansão, menos empregos, menos renda circulando. É o oposto do que o Brasil precisa neste momento.
O secretário da Receita, Robinson Barreirinhas, afirmou que “as novas medidas envolvem empresas e contribuintes mais ricos” e que “para as pessoas físicas, nada muda”.
(Fonte: Exame, 24/05/2025)
Mas vamos pensar juntos: Se uma empresa tomava R$ 1 milhão em empréstimos por ano e agora vai pagar o dobro de IOF, ela absorve esse custo? Claro que não.
Ela repassa. No produto, no serviço, no frete. E quem paga a conta, no final, é você.
Dizer que não há impacto para a população é subestimar a inteligência do contribuinte.
Insegurança jurídica e o retrocesso no caminho da OCDE
Mais grave do que o aumento do imposto é como tudo foi conduzido.
Houve vai-e-volta no câmbio internacional, críticas públicas do Banco Central e um recuo parcial por pressão do mercado.
Isso só reforça a sensação de improviso e compromete nossa credibilidade internacional, justamente quando o Brasil tenta ingressar na OCDE — um grupo que exige previsibilidade, estabilidade e abertura econômica.
Como explicar para um investidor que a alíquota de IOF pode ir de 0% a 3,5% do dia para a noite?
E o VGBL? Previdência ou vilão da arrecadação?
Outro ponto polêmico foi a tributação do VGBL com alíquota de 5% sobre aportes mensais acima de R$ 50 mil. A justificativa? Evitar o uso abusivo como “investimento de baixíssima tributação” por pessoas de altíssima renda. Mas a mudança atingiu em cheio o investidor que fazia planejamento sucessório e previdenciário, muitas vezes com foco no longo prazo. Resultado: mais ruído, mais insegurança e menos incentivo ao hábito de poupar.
Relação Taxa Investimento X PIB
O que mais me preocupa é ver que o Brasil continua andando na contramão das economias desenvolvidas. Segundo dados do IBGE, a taxa de investimento em 2024 foi de apenas 17% do PIB — um número muito inferior à média global de 26%, de acordo com análise da FGV IBRE.
Isso mostra uma economia que penaliza quem quer produzir, empreender e inovar, enquanto incentiva o consumo imediato e o endividamento.
Em vez de criar um ambiente favorável ao investimento de longo prazo, o governo escolhe tapar buracos fiscais com aumento de imposto sobre crédito e capital.
Estamos empurrando o Brasil para mais longe do bloco das economias avançadas.
E o mais irônico: ao tentar arrecadar mais, desincentivamos justamente o que traria crescimento sustentável no futuro.
Minha crítica: um erro estratégico e de timing
Como planejadora financeira, acompanho com lupa tudo que pode impactar as decisões dos meus clientes. E esse aumento do IOF é, sem dúvida, um erro de estratégia e de momento.
Não se pode querer atrair capital e, ao mesmo tempo, sinalizar controle sobre o fluxo financeiro.
Não se pode falar em simplificação tributária e aumentar tributo de forma abrupta.
Não se pode falar em crescimento e tornar o crédito mais caro.
- Planejamento precisa de confiança.
- Confiança precisa de estabilidade.
- Estabilidade não se constrói com sustos fiscais.
Fica o alerta: as regras mudam — e você precisa estar preparado(a).
Revise sua estratégia, acompanhe de perto e tenha um bom planejamento para amortecer as surpresas do governo.
Até semana que vem!
Abraços,
Julia Priante
Julia Bastos Chagas Priante – @julia.priante
Engenheira de Alimentos pela Universidade Federal de Viçosa, atua no mercado financeiro desde 2006. Com ampla experiência como Officer no Itaú Unibanco/Itaú BBA nos segmentos de Empresas, Nicho Imobiliário e Multinacionais. É Especialista em Investimentos (CEA) e Pós-graduada em Planejamento Financeiro. Auxilia famílias a alcançarem seus sonhos por meio de um planejamento financeiro estruturado e personalizado.
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