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Nem tudo que reluz é ouro (nem o próprio ouro).

O ouro está em alta. Só neste ano, já subiu mais de 18%. Em 12 meses, a valorização passa de 36%. Em dois anos, são 56%.

 

Com um desempenho desse tamanho, era de se esperar que o assunto voltasse a virar moda. De repente, todo mundo tem uma opinião sobre o ouro. Tem gente dizendo que é o novo “ativo de proteção”, outros falando que é a saída da vez. Mas é justamente aí que a coisa começa a ficar esquisita. Porque o ouro passou anos sendo ignorado, e agora virou protagonista? Não parece convicção de longo prazo. Parece só o famoso FOMO — o medo de ficar de fora.

Entre 2020 e 2024, o ouro basicamente não saiu do lugar. Ficou estagnado, andando de lado, e ninguém ligava muito pra ele. Não aparecia em destaque nas carteiras recomendadas, não era pauta de live nem de relatório de banco.

E, agora que disparou, todo mundo resolveu olhar com carinho? O problema é que quando um ativo só atrai atenção depois de subir forte, geralmente quem entra está se baseando mais na empolgação do momento do que em fundamentos de verdade.

Se a gente parar pra olhar a história com calma, o ouro não tem esse brilho todo que estão tentando vender agora. O professor Jeremy Siegel, da Wharton, fez um estudo famoso que analisou o retorno real de várias classes de ativos ao longo de mais de 200 anos, entre 1802 e 2012.

Os resultados são bem claros. As ações tiveram um retorno médio real de 6,6% ao ano. Os títulos de longo prazo (os bonds) renderam 3,6% ao ano. Títulos de curto prazo (bills) deram 2,7%. O ouro? Só 0,7% ao ano acima da inflação. E o dinheiro parado em dólar físico perdeu valor: -1,4% ao ano. Ou seja, em dois séculos de história, o ouro só ganhou de quem literalmente guardou o dinheiro debaixo do colchão.

Isso mostra que o ouro não é um bom gerador de valor no longo prazo. Ele tem sim o seu papel em alguns contextos — geralmente como uma proteção pontual contra momentos de crise, inflação descontrolada ou quebra de confiança no sistema. Mas a verdade é que ele passa longos períodos sem render quase nada, e às vezes até entregando prejuízo.

Um bom exemplo foi o que aconteceu entre 2011 e 2015. Depois de subir forte na esteira da crise de 2008, o ouro atingiu um pico em 2011. De lá até 2015, caiu quase 50%. Muita gente entrou quando o assunto estava em alta, acreditando que aquilo era só o começo… e acabou vendo metade do valor evaporar.

Esse tipo de movimento é típico do ouro: ele dispara em momentos específicos, geralmente por causa de medo, incerteza ou algum evento global mais grave. Mas logo depois, tende a entrar em ciclos longos de estagnação ou queda. É um ativo que atrai atenção quando todo mundo está inseguro, mas que entrega pouco resultado quando olhamos a foto mais ampla. E é isso que está acontecendo agora. Com geopolítica tensa, inflação ainda incomodando em alguns lugares e dúvidas sobre os próximos passos dos juros nos EUA, o ouro se valorizou bastante.

Mas será que esse cenário já não está todo precificado?

Muita gente está cogitando comprar ouro agora, mas não porque tenha convicção no ativo ou numa tese de longo prazo. É porque viram a alta recente e estão com medo de ter perdido a chance. Isso é FOMO, e não estratégia. E o problema de investir com base em FOMO é que você acaba comprando quando todo mundo já comprou — ou seja, quando o preço já esticou. Aí a chance de pegar uma reversão ou um período de marasmo aumenta, e o investimento vira frustração.

Nada contra o ouro. Mas entrar agora, com base no retorno passado, não tem nada a ver com proteção. Tem a ver com impulso. E o impulso costuma ser um péssimo conselheiro na hora de investir.

Se a valorização recente do ouro despertou seu interesse, tudo bem. Mas antes de decidir, vale se perguntar com sinceridade: você está comprando porque acredita no ativo… ou porque viu que subiu e não quer ficar de fora? Se for a segunda opção, talvez o risco maior nem esteja no mercado — mas no comportamento.

Grande abraço,

João Pedro Mello

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