Sinais de recessão pós-pandemia

Já vivemos muitas crises enormes, mas que até agora não eram tão enormes assim.

O que estamos vivendo atualmente é algo que afetou todo mundo, ricos e pobres, e a capacidade que o vírus tem para se espalhar é muito grande, porém ele apresenta uma baixa letalidade.

Por um lado, o vírus ameaça quebrar o sistema de saúde, que já começa a ficar sobrecarregado. Por isso, 1/3 da população está em quarentena e a ameaça é sobre a economia, que nunca experimentou ter parado no mundo inteiro, em todos os setores.

Começamos agora, depois de mais de um mês de quarentena, a ver as pequenas empresas, que empregam cerca 70% da população brasileira, sofrendo a ameaça de não ter fluxo de caixa, e já vemos sinais de recessão pós-pandemia.

Sinais de recessão pós-pandemia

Começamos com o IPCA 15, com uma deflação de 0,1% em abril, apontado pelo IBGE, onde os alimentos subiram bem. Ou seja, a inflação deu 0, entre 16 de março a 15 de abril; no ano, abaixo de 3% e com tendência de queda. No entanto, esse é um dado extremamente heterogêneo e reflete o confinamento parcial.

Também observamos uma queda nos combustíveis, por razões um tanto quanto óbvias… tivemos a queda internacional de petróleo e o consumo interno.

Observamos quedas fortes em artigos residenciais e venda de eletrodomésticos, sendo diminuídas em até 7%. Claramente as compras despencaram, já que as compras online ainda são muito menores que as compras físicas, que ainda fazem parte do hábito de consumo do brasileiro, que gosta de ver o item pessoalmente antes de comprar.

Por outro lado, o que subiu? O consumo em supermercados subiu 2,5% e a alimentação no domicílio 3,14%.

Entre as maiores altas na alimentação, as mais comuns vêm da comida caseira, como tomate, cebola e batata, com altas entre 17% a 35%, e isso atinge principalmente as famílias mais pobres, ainda mais quando comparada com uma inflação zero citada anteriormente.

Já as carnes caíram, pois tivemos uma alta de preços significativa de novembro e dezembro.

De acordo com a FGV, o setor de serviços teve uma queda brutal quanto ao índice de confiança, como também na construção civil.

A construção civil merece destaque, já que estava se recuperando fortemente no começo desse ano. Lembrando que este setor entrou na atividade essencial na maior parte dos estados, então as obras que estavam em andamento puderam continuar, ainda que com algumas restrições.

No entanto, muitos lançamentos previstos, que já estavam até mesmo com estandes montados, acabaram sendo suspensos, pois não se pode visitá-los.

Sendo assim, os novos projetos deram uma parada, mas os andamentos podem continuar.

Houve também o aumento do seguro-desemprego. Mas estes dados ainda estão um pouco nebulosos, já que a maior parte dos escritórios de contabilidade estão parados e não estão mandando para o governo aqueles relatórios de contratações e demissões.

Logo, o governo está medindo o desemprego pelo pedido de auxílio-desemprego, só que as agências do sistema nacional de empregos estão fechadas e não há muita clareza para alguns profissionais menos instruídos para pedir o auxílio-desemprego pela internet.

Logo, o número de auxílio-desemprego está certamente represado. Basta ligarmos a televisão e acompanharmos as filas (além das filas para receber os R$ 600) – ainda temos mais filas para entrar com o pedido de auxílio-desemprego.

Além disso, cabe lembrar o projeto que está no Senado de congelamento dos salários dos funcionários públicos dos estados e municípios por 18 meses como medida de contrapartida ao suporte dado pelo governo federal.

Sendo assim, temos claramente os sinais de queda forte da atividade econômica.

Semana que vem teremos reunião do Bacen sobre a taxa básica de juros.

Particularmente, acredito que não há clima para mais cortes. No entanto, os maiores boatos são de que tal taxa irá cair, porque notamos que a perspectiva de recessão no país está aumentando.

Logo, o Bacen se vê diante de um desafio de ter que cortar os juros que estão em 3,75% e, conforme dados já mencionados, estamos caminhando para um cenário de recessão com inflação muito baixa e juros muito baixos.

Como contrapartida, há um dado interessante, que é o aumento do crédito. De acordo com o BC, houve um aumento do pedido de crédito em março deste ano em relação a março do ano passado, sendo 15% de aumento.

Para concluir, observamos que o fluxo de crédito está andando, mas há vários sinais de recessão.

Medidas do governo

Na última quarta-feira (22/04), o governo lançou o Programa Pró-Brasil, que prevê aumento dos investimentos públicos em infraestrutura. Conforme relatado pela mídia, a elaboração do plano não teve a participação da equipe econômica.

Após rumores de enfraquecimento da equipe econômica e os acontecimentos recentes no front político, o presidente Jair Bolsonaro defendeu hoje publicamente Paulo Guedes e afirmou que “em se tratando de economia, Guedes é quem decide que caminho seguir”. A sinalização foi de que o Plano não avançará sem o consentimento do ministro da economia, embora o presidente concorde que é preciso implementar medidas para reativar a economia.

Em relação às pautas do Congresso, está prevista para esta semana a votação da PEC do Orçamento de Guerra no plenário da Câmara dos deputados, mas não se pode descartar novo adiamento em função das turbulências recentes no meio político. Se aprovada na Câmara sem alterações, a proposta será promulgada e, portanto, o Banco Central poderá iniciar a compra e venda de títulos públicos e privados no mercado secundário.

Em relação a pautas no Senado, o presidente da Casa, senador Davi Alcolumbre, apresentou nesta quarta-feira à equipe econômica a nova proposta de ajuda a estados e municípios para viabilizar um acordo para sua aprovação. Ainda não há data prevista para sua votação no Senado.

Programa Pró-Brasil e a saída de Sérgio Moro

A saída do ministro Sérgio Moro, fato extraordinário no meio político. A discussão que estava presente era para desvendar quais os caminhos que o mercado iria seguir daqui para frente e como o ambiente político vai reagir a partir deste momento.

Outras mudanças, como o novo ministro da Justiça e o chefe da Polícia Federal, significam uma grande reinvenção do governo Bolsonaro.

As reformas administrativa e tributária serão adiadas, até que se aprovem as medidas essenciais da pandemia, e aí se retomam os debates dessas reformas, juntamente com o debate das medidas de saída da crise.

O segundo ponto que é importante observar é que uma grande parte do Congresso nunca gostou de Sérgio Moro, sempre achou que ele foi um juiz ativista, que deu cobertura a medidas que esbarravam na legalidade e que foram truculentas na própria execução do momento histórico da Operação Lava Jato, então muitos parlamentares foram investigados e isso ficou evidente no debate do pacote anticorrupção.

Por outro lado, tem gente que não gosta mais do presidente Bolsonaro e que vai usar a situação da saída do Moro para atacá-lo. Sem dúvida, a saída chacoalhou a institucionalidade do país num momento muito grave, vai alimentar o debate político e de impeachment e vai aumentar o custo político de proteção do governo Bolsonaro dentro do Congresso.

O terceiro ponto é que se criou esse plano Pró-Brasil, em que a equipe econômica não ficou liderando. A justificativa é que a equipe econômica tinha que lidar com a crise e os três ministros têm que cuidar da saída da crise.

Contudo, após os acontecimentos recentes no front político, o presidente Jair Bolsonaro defendeu publicamente o ministro Paulo Guedes e afirmou que “em se tratando de economia, Guedes é quem decide que caminho seguir”.

O ministro da Economia, que estava ao lado de Bolsonaro, afirmou que o governo segue firme em sua política econômica de responsabilidade fiscal e que os gastos extraordinários em decorrência da crise do novo coronavírus são uma “exceção” na condução da política econômica.

Assim, a sinalização foi de que o Plano não avançará sem o consentimento do ministro da Economia, embora o presidente concorde com outros ministros que é preciso implementar medidas para reativar a economia.

Estamos a uma semana da reunião do Copom, mercado agitado, muita aversão ao risco, muita incerteza e juros futuros subindo.

Não sabemos o que ainda vai sair em termos da crise Moro, mas agora não há dúvidas de que a equipe econômica está firme e que a linha será seguida.

Paulo Guedes afirma que continuará no comando e isso deve acalmar os mercados. Nesse sentido, prevalecendo a harmonia na equipe econômica haverá espaço para o Copom cortar juros e o compartimento do dólar e bolsas deve seguir a mesma toada.

Como fica o investidor

Meu objetivo com esse artigo não é só falar do cenário para pensarmos nas oportunidades, mas também das armadilhas que os nossos instintos e os fatos do mercado nos impõem e como podemos melhorar a nossa relação com isso.

O grande desafio é fazer um prognóstico de como será daqui para frente. Já temos a certeza que a pandemia vai trazer um impacto bastante negativo, mas por quanto tempo e quão negativo isso vai ser, nós ainda não sabemos responder. No cenário atual as pessoas têm duas principais aversões: uma é aversão a risco e a outra é uma aversão ao arrependimento.

Um viés que as pessoas têm que tentar evitar é buscar apenas informações que confirmem aquilo que a gente acredita. Encarar o contraditório é algo muito saudável, é um exercício de compreensão e pode ser uma reflexão bastante importante.

Temos que ficar preparados para isso. Quando a pessoa vai investir em ações, ela tem que se acostumar com duas coisas: uma delas é a volatilidade e o segundo ponto é o horizonte de investimentos. Por ter volatilidade, investir em ações precisa ser um horizonte de investimentos mais longo.

Como venho falando com vocês nos artigos anteriores, uma das minhas recomendações é que você não fique olhando as informações direto, acompanhando minuto a minuto como é que está caindo a bolsa aqui no Brasil e em outros países.

Se você fez um investimento para longo prazo, não vai fazer tão bem você ficar olhando. Respire e entenda que é uma volatilidade. Por isso é importante você ter e fazer uma reserva de emergência.

O sentimento do investidor funciona com um pêndulo: nos extremos temos o pânico de um lado e a euforia de outro, ou o pêndulo está na posição vertical, que fica bem distante dos extremos. O que sabemos é que nos extremos, seja de pânico ou euforia, somos mais fortemente empurrados a decidir com bases nos vieses e é aí que vem os equívocos, as decisões erradas.

O que devemos fazer é seguir o que nosso analista Daniel Nigri e John Templeton (Investidor) fazem em suas análises: definem o preço de compra que eles acham atrativos e já deixam ordens pré-aprovadas de compra em diversas corretoras, de forma que se viesse uma correção eles não teriam tempo de cancelar, ou seja, temos que nos blindar contra os vieses. Por exemplo, John não acreditava nem nele mesmo.

Atualmente, no Brasil e no mundo, não existe um consenso. Nós tendemos a decidir investir relativamente rápido uma ou duas semanas de boas notícias e parece que os “problemas deixaram de existir”, porque a oportunidade está “naquele momento e naquele preço”.

Mas o importante é pensar que Mesmo que o preço caia mais, o que importa é que no longo prazo a perspectiva de retorno é clara.

Para finalizar, recomendo que as pessoas tentem não tomar decisões totalmente movidas pela emoção, pois podem ser muito ruins. Tenham planejamento e horizonte bastante claros.

Pensando na lógica dos investimentos, o investidor consciente deveria encontrar uma maneira de passar anos comprando algo muito barato para que lá na frente possa realizar seus sonhos com uma boa rentabilidade. É o conceito de investimento de longo prazo. Quando acontecem crises, perdas de valor, nós temos o aumento da oportunidade.

Debora Toledo

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