O debate sobre onde investir, como investir e quando investir costuma oscilar entre opiniões, ruídos e narrativas. Entretanto, quando analisamos dados de longo prazo e aqui estamos falando de 200 anos de história, cobrindo 56 economias, a discussão deixa de ser especulativa e passa a ser estatística.
Este artigo sintetiza as conclusões mais relevantes do estudo The Ultimate Guide to Long-Term Investing, publicado pelo Deutsche Bank Research Institute em 2025. O objetivo é simples: compreender quais fatores realmente importam para retornos de ações, renda fixa e carteiras diversificadas ao longo de décadas.
A premissa central do estudo é: o investidor de longo prazo não precisa adivinhar o futuro, basta entender quais condições históricas antecederam os melhores retornos.
A primeira conclusão fundamental aparece logo no início ao analisar o retorno real global acumulado desde 1824, temos:
- Ações: 4,9% ao ano acima da inflação
- 60/40 (ações+bonds): 4,2%
- Bonds (governamentais longo prazo): 2,6%
- Bills: 1,9%
- Ouro: 0,4%
- Dinheiro parado: –2%
Esses números mostram que o prêmio de risco existe e persiste, mesmo atravessando guerras, crises, períodos hiperinflacionários e recessões profundas.

O investidor que se expõe a ativos produtivos (empresas, via ações) tende a ser amplamente recompensado. Apesar de ter sido um dos piores ativos nos últimos 200 anos, o ouro teve um desempenho surpreendente desde 2000:
- +7,45% ao ano real, contra:
- Equities EUA: 5,8%
- Equities Alemanha: 3,9%
- Equities Reino Unido: 3,3%
- Bonds EUA: 0,9%
Isso é explicado no estudo como resultado:
- da perda de credibilidade das moedas fiduciárias,
- do fim do padrão-ouro,
- do ambiente pós-2008 com expansão monetária,
- e do aumento estrutural do endividamento público.
Mas, apesar do bom desempenho recente, o estudo destaca algo importante: o ouro não gera fluxo de caixa, logo, seu retorno depende exclusivamente de variação de preço, diferentemente de ações e bonds. O ouro funciona mais como proteção do que como criador de valor.
O estudo dedica grande parte da análise a demonstrar a relação entre PIB e retorno de ações (Figuras 11 e 12). A conclusão é intuitiva e suportada pelos dados:
- Retornos nominais de ações têm forte correlação com o PIB nominal.
- Retornos reais de ações têm ligação direta com o PIB real.
Países com baixo crescimento real (1% ou menos) tendem a apresentar retornos reais modestos, caso do Brasil na última década.
Já ambientes com PIB real robusto (acima de 6%) historicamente entregaram retornos reais muito superiores.

O estudo mostra que:
- Retornos nominais sobem linearmente com a inflação.
- Retornos reais caem conforme a inflação sobe (exceto em faixas moderadas).
Ou seja:
- Em ambientes inflacionários, ações sobem nominalmente, mas o ganho real diminui.
- O melhor ambiente é inflação baixa com PIB forte (caso clássico dos EUA pós-1980).
Exemplo: Argentina. O índice Merval sobe nominalmente, mas a inflação destrói o retorno real.


- A dívida/PIB global está perto dos maiores níveis da história.
- Déficits são estruturalmente negativos em quase todos os países.
E o mais importante:
- Países com altos níveis de endividamento tendem a ter piores retornos reais de bonds e equities.
O período de 2016–2019 no Brasil, quando a redução do déficit (teto de gastos) coincidiu com forte recuperação da Bolsa.
Um dos achados mais relevantes e pouco comentados no conteúdo popular:
- 32 dos 56 países analisados terão queda da população economicamente ativa até 2050.
- Crescimento populacional e de produtividade explica parte significativa do PIB real.
- Países com população estagnada tendem a apresentar:
- menor PIB real
- menor dinamismo empresarial
- menor retorno real de ações

O futuro dos retornos depende da capacidade de cada país gerar crescimento real e isso está diretamente ligado à demografia.
A Figura 31 apresenta um dado chocante:
- De 55 moedas analisadas desde 1924, apenas 3 se valorizaram contra o dólar:
- Suíça
- Singapura
- Holanda
- 25 de 55 perderam mais de 99% contra o dólar.
Entre elas: Brasil, Argentina, Turquia, Índia, França e Itália.

Isso significa que:
- Muitos retornos nominais “bons” são destruídos pelo câmbio no longo prazo.
- Portfólios globais tendem a apresentar desempenho superior aos locais.
Essa é uma das conclusões estratégicas mais importantes do estudo.
Indicadores com maior poder preditivo:
1. Valuation: P/E baixo
- Quanto menor o P/E inicial, maior o retorno real futuro.
- P/E abaixo de 8 → retornos reais acima de 9% a.a.
- P/E acima de 20 → retornos reais em torno de 4% a.a.
2. Juros, yields e inflação iniciais em níveis altos
Contraintuitivo, mas estatisticamente verdadeiro:
- Juros altos → valuations baixos → maior retorno futuro.
- Yields altos → maior retorno real nos 25 anos seguintes.
- Inflação inicial alta → melhor ponto de entrada (porque preços já caíram).
A bolsa tende a subir quando os juros começam a cair, o que normalmente acontece após um período de juros altos, quando o valuation está descontado.
3. Déficits elevados
Outro ponto contraintuitivo: Déficits altos hoje → indicação de preços deprimidos → maior retorno real futuro.
Ao integrar todos os achados, o estudo oferece um mapa confiável do que funciona:
A. Evitar previsões de curto prazo
A dispersão é enorme. Em 5 anos:
- 25,8% de chance de ações perderem da inflação.
B. Evitar excesso de concentração em países com demografia fraca e alto endividamento
Japão, Itália, Espanha e vários emergentes estão nessa situação.
C. Aproveitar valuations baixos e juros altos como oportunidades
O estudo mostra estatisticamente que: O melhor retorno futuro ocorre quando o ambiente atual parece ruim.
D. Manter portfólio global
Moedas fracas podem eliminar retornos de décadas.
E. Manter ações como núcleo do patrimônio
A evidência de 200 anos é: ações são o motor do crescimento patrimonial real.
Quando colocamos lado a lado:
- o retorno histórico dos ativos,
- os fatores macroeconômicos que realmente importam,
- as condições preditivas de longo prazo,
- e o impacto da demografia, do valuation e do câmbio,
chegamos a uma verdade simples e poderosa:
Investir no longo prazo é um exercício de disciplina, paciência e método, não de previsão.
O estudo do Deutsche Bank confirma que:
- ações recompensam o risco,
- valores baixos geram os maiores retornos futuros,
- PIB e demografia definem o potencial de cada país,
- câmbio destrói ganhos mal alocados,
- e o melhor momento para investir costuma ser quando as manchetes são negativas.
O investidor que compreende essa lógica não precisa adivinhar o amanhã. Ele apenas segue princípios que funcionam há dois séculos.
Até mais,
Karol Weber
Carteira Plena
Pra você entender o que isso significa na prática:
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