Você já teve a sensação — ou conhece alguém — que, mesmo ganhando mais, o dinheiro parece evaporar?
Esse padrão é tão comum que, como planejadora e educadora financeira, posso afirmar com segurança: aumentar a renda é um caminho legítimo, sim. Mas não é garantia de equilíbrio financeiro.
Na verdade, sem consciência e estratégia, mais dinheiro só aumenta o tamanho do problema.
Muitas famílias entram num ciclo de “ganha mais, gasta mais”, incorporando novas receitas sem revisar o estilo de vida. E o resultado? Continuam correndo em círculos. A vida financeira não sai do lugar.
E a raiz disso raramente está nos números. Está no comportamento.
O poder das ciências comportamentais
É aqui que entra a contribuição fundamental das ciências comportamentais, uma área que nasceu do encontro entre a psicologia e a economia e que vem ganhando destaque nas últimas décadas.
Um dos marcos nessa jornada foi a obra de Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, que popularizou o tema com o livro “Rápido e Devagar: Duas formas de pensar”.
Nesse livro, Kahneman explica que tomamos decisões usando dois sistemas:
- O Sistema 1, rápido, automático e emocional (que usamos na maioria das decisões do dia a dia).
- E o Sistema 2, mais lento, analítico e racional — mas que exige mais esforço para ser ativado.
Na prática? Muitas das nossas decisões financeiras são feitas no modo automático, baseadas em emoções, hábitos ou crenças. E aí vem a pergunta:
Por que você age como age com o seu dinheiro?
Nossas decisões são influenciadas por vieses cognitivos e emocionais — atalhos mentais que ajudam a economizar energia, mas que nem sempre nos levam aos melhores resultados.
Exemplos comuns:
- Viés do presente: priorizar o prazer imediato, mesmo que isso comprometa o futuro.
- Efeito avestruz: evitar encarar a realidade financeira porque ela é desconfortável.
- Falácia do planejamento: subestimar o tempo e esforço necessários para cumprir um objetivo financeiro.
- Preceitos inconscientes: crenças formadas na infância, como “dinheiro é sujo” ou “quem tem dinheiro não é confiável”, que sabotam decisões, mesmo com boas intenções.
Essas crenças muitas vezes evoluem para verdadeiros bloqueios invisíveis — as chamadas crenças limitantes. Frases como “não sou bom com dinheiro”, “nunca vou conseguir guardar” ou “gente como eu não fica rica” parecem pequenas, mas têm um poder imenso. Elas atuam no piloto automático, guiando nossas escolhas e travando nosso potencial de crescimento. Identificá-las e questioná-las pode ser o primeiro passo para construir uma nova história com o dinheiro.
Quando esses padrões se tornam crônicos ou intensos, podem inclusive se manifestar como distúrbios comportamentais ligados ao dinheiro, como:
- Acúmulo compulsivo
- Gastos excessivos
- Dependência financeira
- Rejeição ao dinheiro
- Infidelidade financeira
Muitos desses comportamentos já foram amplamente estudados por especialistas em psicologia financeira, como os psicólogos Brad e Ted Klontz, que exploram como nossas emoções, crenças e experiências de vida moldam nossa relação com o dinheiro.
Entender essas raízes comportamentais pode ser um divisor de águas na construção de uma vida financeira mais leve e equilibrada.
E olha… esse tema é tão relevante e transformador, que em breve quero trazer conteúdos específicos sobre os principais vieses financeiros e como identificá-los na prática.
Planejamento começa com autoconhecimento
Antes de abrir a planilha, é essencial olhar para dentro.
Reconhecer o que te faz gastar, evitar, adiar ou até sabotar suas metas.
E sim, estratégias como o método 50/30/20 são ferramentas úteis para começar.
Mas sem entender o que está por trás dos seus hábitos, qualquer plano se torna frágil.
Por isso, quando converso com clientes, não começo perguntando quanto ganham.
Eu pergunto:
- O que você quer de verdade?
- Onde você quer chegar?
- E o que você acredita sobre dinheiro?
Porque só quando o orçamento se conecta ao propósito, ele deixa de ser um fardo e passa a ser uma ferramenta de realização.
Ganhar mais é ótimo. Mas gastar com consciência é libertador.
Talvez o primeiro passo para mudar sua vida financeira não seja trabalhar mais, mas se conhecer melhor.
A resposta pode estar menos na sua conta corrente e mais nos padrões que você repete sem perceber.
Vamos falar mais disso nas próximas semanas?
Até a próxima reflexão!
Abraços,
Julia Priante
Julia Bastos Chagas Priante – @julia.priante
Engenheira de Alimentos pela Universidade Federal de Viçosa, atua no mercado financeiro desde 2006. Com ampla experiência como Officer no Itaú Unibanco/Itaú BBA nos segmentos de Empresas, Nicho Imobiliário e Multinacionais. É Especialista em Investimentos (CEA) e está cursando MBA em Planejamento Financeiro. Auxilia famílias a alcançarem seus sonhos por meio de um planejamento financeiro estruturado e personalizado.
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