De Olho na Gestão Nº500
““Há os que procuram fazer com que as coisas aconteçam, há os que observam tudo o que acontece e há os que nem sabem o que está acontecendo” Millôr Fernandes
Já recebeu aquele tipo de proposta? A “irrecusável?”
Imagine a seguinte hipótese: você recebe do cunhado, do irmão, do primo, do vizinho, do colega do WhatsApp, ou de quem quer que seja, a “proposta imperdível”, aquela “chance” de mudar tudo (ninguém avisa nessa parte que a mudança pode ser pra pior né?). Então você ouve a pessoa, o que ela tem a dizer sobre a tal oportunidade da vez, afinal pode ser uma boa ideia e tu pode ganhar dinheiro com isso, desde que essa parte do ouvir seja acompanhada de racionalizar sobre o assunto, calcular o risco e projetar os cenários.
Afinal nunca é demais lembrar da máxima: você pode torcer o quanto quiser, os fatos continuarão os mesmos “Ao ouvir um eco muitos acreditam que o som vem de lá”.
Claro que não existe mágica, bola de cristal, mas só é engando quem permite que isso ocorra, ninguém está te forçando a aceitar a proposta de ficar “milionário”.
Veja da seguinte forma:
Alguém lhe oferece um negócio do ramo de alimentação saudável.
Você acredita que existe futuro para esse segmento?
Quais as pesquisas de mercado que existem sobre essa demanda e sua projeção futura, o mercado é pulverizado?
Existe uma empresa que detém a maior parte do Market share?
Existe algum diferencial na sua comida saudável?
Qual o custo inicial do investimento?
E o retorno?
Qual o mercado geográfico ser atendido? Concorrência?
Qual o sistema de produção e/ou comercialização do produto? E a precificação?
Talvez você seja daqueles que acreditam que o petróleo como combustível é coisa do passado, que a forma como a energia é gerada vai mudar, que o futuro está na energia solar, eólica, na auto suficiência de geração das grandes plantas industriais e pequenas também, com impacto relevante no custo das mesmas.
Então seria justo pressupor que é um segmento que vale a pena o investimento, correto? E aqui mora o problema, e a casa é grande e tem um jardim imenso.
Segmentos podem ser ótimos e com muito valor a ser destravado, a questão é: a empresa e você (que será quem vai colocar capital nela), estão estruturados para gerar esse valor?
Boas ideias são maravilhosas, mas sem capital e gestão eficiente dos recursos, não fazem sentido. Pode ser o mais rentável dos segmentos, vender água no deserto, mas se a gestão não for eficiente pode apostar que vai faltar água pra vender, ou o recipiente para oferecer a água para o cliente, ou ele vai achar que o deserto é só dele e nem vai perceber que chegou a concorrência e que ela oferece gelo também.
Vamos usar o exemplo mais simples:
A famosa TIR (taxa interna de retorno) que te oferecem naquele power point lindão, no “dossiê” colorido, que muitas vezes apela para o uso intuitivo da nossa querida taxa. Você que acompanha o Dica de Hoje sabe que a TIR mede o retorno quando não existe geração de caixa intermediária, ou se existem e esses fluxos conseguem ser reinvestidos a mesma taxa efetiva (original).
Ok, não é?
Então, qual o problema?
Gerar uma expectativa irreal nesse super negócio, se a TIR calculada for maior que a taxa efetiva dos reinvestimentos, o que sabemos não é nada incomum. Ou seja, os projetos precisam ser atrativos o suficiente para investimento do fluxo de caixa intermediário que está sendo gerado.
E a conclusão: no seu bolso, pois pode gerar distorções nas projeções de capital do negócio.
Alocar os recursos no lugar certo é o primeiro passo para manter o retorno de acordo com o projetado. Então, quando te apresentarem o plano de negócios pergunte, analise, entenda:
- Qual é o plano para capital de giro? Ciclo econômico?
- Quanto tempo eu tenho com o caixa de hoje?
- Consigo negociar com meus fornecedores?
- Tenho novos contratos de venda que permitem uma projeção em médio prazo?
- Existem novos projetos para inovar meu negócio?
- Onde estão os maiores custos? São justificáveis? Estão organizados e atribuídos ao processo correto?
- Existe um planejamento para melhorias e redução dos custos?
- Baixa produtividade na produção?
- Conheço as rupturas do meu processo e tenho um plano de ação para corrigir?
- O mais básico no final: meu sistema está mapeado?
Resumindo:
- Não se deixe impressionar pelos “vencedores brilhantes e majestosos, que
transformam centavos em milhões em um curto prazo, só investindo nesse negócio maravilhoso”;
- Não acredite, nem por um segundo, que milagres acontecem em negócios, ou
que existe uma fórmula pronta e tudo vai ocorrer do jeito que você quer
- Seja empreendedor, mas sempre de acordo com a sua realidade e principalmente com seu conhecimento.
- Não entende nada sobre o negócio que estão te oferecendo? Estude ou agradeça, mas saia andando.
- Não acredite em tudo que ouve, principalmente se a estratégia usada for baseada em emoções, no estilo: milhares matariam por essa oportunidade.
- Seja seletivo(a), muitas boas ideias querem seu dinheiro. Nem tudo é disruptivo, nem tudo tem futuro. O segmento pode ser sensacional, mas de 100 empresas, quantas sobreviverão?
- Seja honesto(a) consigo mesmo, pense se aquilo que está ouvindo é plausível, se é possível, ou apenas um delírio altamente lucrativo e comercial (não para você obviamente). Afinal, como disse Itamar Franco “Os números não mentem, mas os mentirosos fabricam números.
Analisar um case de negócios é compreender o que faz dele diferente dos pares, e isso não é apenas questão de demanda, tem relação direta com a qualidade da gestão, com a regulação do mercado, com a parte tributária, com o poder de recursos do negócio e com as pessoas responsáveis por tudo isso.
Não é a melhor ideia no papel, a melhor estratégia contábil, apenas.
O foco precisa ser resiliência de produto/serviço e gestão adequada de recursos e de pessoas.
Por fim, não esqueça que “mil” te oferecerão a oportunidade do século, dez mil dirão que você faz parte de um grupo seletivo, mas só você pagará suas contas.
“Não confie em tudo que você vê, até sal parece açúcar”
Patrícia Rossari.
Gestão & Logística.
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