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Três assuntos que não saíram da boca do povo nas últimas semanas.

“Não basta ser ocupado. A pergunta é: está ocupado com o quê?”

 1 – Qual empresa mais sofre com a queda da demanda?

Opa, essa pergunta não está certa Patrícia, todos sofrem com a queda da demanda! O mundo vai acabar, salve-se quem puder!

Sim, a demanda é uma das variáveis mais importantes, mas veja que alguns negócios sofrem mais do que outros! Na verdade, alguns desaparecem, enquanto outros ganham mais dinheiro.

Será que eles têm sorte? (ironia)

Quem mais sofre é a empresa que está em situação financeira delicada, com dívida elevada, que precisa de empréstimos para girar e que muitas vezes continua gerando prejuízo, apresentando queda de demanda, dívida em percentual elevado para o quanto consegue gerar de caixa.

Se já está ruim quando vende, imagina então quando não vende. Inclusive esses são alguns dos famosos “micos”, que muitos insistem em chamar de turnaround.

E existem os que estão em setores que se beneficiam, mas veja que conseguem fazer isso porque estavam preparados ou então foram suficientemente ágeis para aproveitar a oportunidade do mercado. Caso mais simples a ser citado são empresas de saúde (testes de Covid, principalmente), empresas que produzem produtos essenciais, que no pânico vendem como água no deserto. Lembram do papel higiênico no início da pandemia? Pois então, ainda estamos na fila da vacinação, mas não nos falta papel higiênico.

E os supermercados? E a indústria de embalagem (vidro, alumínio, inclusive ambos os setores estão com investimentos, reconhecendo o gargalo, aproveitando a oportunidade). E o agronegócio?

Então, lembre que na crise não sofremos todos na mesma intensidade; muitos sequer sofrem. Então a generalização de que tudo está ruim, não é válida quando estamos falando de gestão, de negócios e de investimentos.

 2 – E quando a oferta de matéria-prima e insumos está comprometida? Ou existe incerteza na manutenção do abastecimento?

Nesse caso, surgem os gargalos ao longo da cadeia produtiva. Obstruções nos fluxos são causadas por falhas em setores auxiliares, ou seja, você quer produzir, mas depende de matéria-prima, e a fábrica que fornece a matéria-prima ou insumos está parada. Logo, você até pode estar funcionado, mas não vai produzir, a não ser que tenha mais do que um fornecedor, ou no caso de produtos vindos de fora e mais distantes, um ponto de estoque que seja maior e com isso dê condições à empresa de pensar em um plano B, ou tempo para a retomada do fornecimento ocorrer.

É o que está ocorrendo com alguns setores hoje – o efeito chicote na construção civil. Empresas que estão com prazo de entrega apenas para metade de 2021. Sim, isso mesmo, você não leu errado. E o que isso significa? Ela vendeu, portanto, faturou, logo está na receita – contas de resultado (DRE), independente da entrega ou não do produto. Se for um negócio que opera um processo com produtos de ciclo longo, a carteira de pedidos estará descasada com a de entregas. Se ainda não está, estará em breve, ao menos nesses setores que estão com gargalos gritantes.

Mas onde está o problema? Existe problema?

Caso ela esteja alongando a entrega pelo fato de não possuir estoque de matéria-prima para produção, ou pouca matéria-prima, significa que ela está com capacidade ociosa, e isso gera custos.

Caso ela tenha a matéria-prima, e o acúmulo de pedidos ocorre pela demanda elevada, significa que ela não possui capacidade produtiva para atender oscilações de mercado, não consegue fazer remanejamento nas plantas. Portanto, cabe à gestão analisar se existe alguma probabilidade de manutenção desse aumento de demanda, que valeria um capex de expansão, ou se é apenas pontual e não existe a possibilidade de manter esse mercado. Ok, não vejo problemas aqui!!

Mas eles podem existir, e sabe por quê?

Pois geralmente nesses cenários nascem os projetos de investimentos baseados em muito otimismo e pouca realidade. Quer um exemplo? Lembra das promessas da Copa do Mundo e da Olimpíada?

 

Veja mais exemplos para contextualizar que setores reagem de forma distinta ao cenário no curto prazo, mas no longo, a maioria converge para um mesmo sentido:

  • As montadoras estão concedendo férias coletivas, alegando falta de peças para produção, o que compromete os estoques, e aqui entram na roda toda a cadeia sistemistas, que não é pequena (Metal Leve, Maxxion, Tegma, etc.). Os números da ANFAVEA apontam queda dos emplacamentos em 2021, ou seja, não tem peças e não vende.
  • A construção civil viu os preços subirem em um percentual elevado, o que vai encarecer todo o processo e atrasar as entregas, e quem sabe evidenciar ainda mais a concentração de fornecedores no segmento (pensem sobre isso). Aqui considere construtoras e também empresas que comercializam materiais para tal, assim como reformas (vendas no varejo). Mas o setor está faturando e vendendo.
  • Por outro lado, podemos citar empresas que não têm problema com matéria-prima e que aproveitaram o fato da incerteza do abastecimento e venderam muito mais para o varejo, caso da Grendene, movimento observado também em Mdias no 3T2020, (claro que a questão aqui é analisar o quanto deste estoque no varejo que foi consumido de fato, e na Mdias o dólar e o preço do trigo, obviamente).
  • Podemos citar a Via Varejo, que aumentou os estoques (veja que são bilhões em estoque), justificando através da incerteza do abastecimento. Veja que são justificativas das empresas, e não minhas.
  • Quem sabe a Quero-Quero, que citou o fato de estar posicionada em setores onde o agro é forte e com isso viu a demanda aquecida, afinal, sabemos que o agro vai indo bem, obrigada.

 

3 – Então, vamos trabalhar com que ferramentas? Incertezas por todos os lados!

Muita internet e muita opinião, lembrando que nós, profissionais da área de gestão, não trabalhamos baseados em impressões da opinião alheia ou pela necessidade de validação. Logo, analisamos:

  • Quais os segmentos que estão diretamente ligados ao ativo em questão? Qual a situação deles no momento? Ex.: indústria que utiliza insumos do agronegócio, varejo possui e-commerce desenvolvido e os que possuem uma boa gestão da cadeia fornecedora (analise o ciclo econômico).
  • A variação do preço de um insumo e a queda no consumo. A empresa tem margem para sustentar rentabilidade? Veja que o setor de alimentos possui margem menor, mas que vende mais na pandemia, assim como indústria de papel ondulado, que fornece a embalagem. Setores com margem maior continuam vendendo bem?
  • O negócio possui contratos fechados com fornecedores impedindo exposição demasiada à flutuação do preço da matéria-prima? E com clientes, eles são prejudiciais? Veja a questão dos contratos do Take or pay do agro: quando a safra é ruim, são péssimos, mas quando ela é boa, ajudam.
  • Inflação: como ela interfere no segmento? A empresa possui condições de repasses/reajustes?
  • Taxas de Juro? As dívidas, quanto menor a taxa de exposição, menor o custo. Logo, a análise de projeção é alterada. Quando as dívidas são em moeda estrangeira, assim como parte dos resultados, é preciso ainda mais atenção. Nesse caso específico, nos percentuais de dívida x lucro na moeda em questão (câmbio). Veja que muitas empresas, durante as incertezas da pandemia em 2020, preservaram a liquidez, captaram dinheiro no mercado, porém nem todas conseguiram boas taxas, o que reflete no resultado financeiro do negócio.
  • E então a questão lógica: Qual a situação de caixa do negócio?
  • E a concorrência? Nessa análise é preciso levar em consideração a estratégia. Ou seja, se uma precisa manter altos estoques e a outra não, e vendem o mesmo produto?

 Até a próxima semana.

Daniel Nigri – Analista CNPI 1810                       Patrícia Rossari – Especialista em Gestão & Logística.

Sócio e Fundador do Dica de Hoje

Consultoria e Research.

 

Patrícia Rossari.

Gestão & Logística.

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