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A gestão “precifica” o negócio?

Algumas pessoas agem com a audácia de acreditar que são muito espertas (geralmente essa informação é incorreta), acreditam estar sempre “por dentro” de tudo o que acontece, mesmo sendo apenas informações parciais e geralmente com uma opinião sobre o assunto em questão. Ok, na verdade 90% opinião e 10% dados, não vamos mentir, né? Aliás, gravei um podcast que fala justamente sobre isso, separar o que é opinião e o que são dados; ouça se puder e quiser.

E aproveito o momento, que é de divulgação dos resultados das empresas referente ao 4T2020 e ano de 2020, para destacar o espaço cada vez maior que estas reservam nas divulgações para falar sobre gestão de pessoas, processos, qualidade, logística, gestão ambiental, segurança, inclusão social, etc. E isso é muito importante, afinal, os números não aparecem na DRE por mágica, pensamento positivo, ou somente devido à marca do negócio ser antiga e importante, mas sim pela soma dos conjuntos que definem o resultado final, ou seja, as melhores práticas de operação (processo que gera o valor), as melhores táticas comerciais (não deixe de ler sobre elas nos materiais das empresas nas quais investe), na precificação do produto, na estratégia logística utilizada, no modelo de contabilização, nas práticas fiscais que alteram o lucro fiscal e contábil, e assim por diante.

Mas é preciso analisar as informações com cautela, com o devido bom senso em relação ao que pode ser escrito no papel e o que de fato acontece no dia a dia dos negócios. E infelizmente sabemos que não é algo incomum reconhecer práticas ineficientes tanto por parte da gestão quanto dos profissionais, e se você vive no mundo real, não no mundo de faz de conta da internet, sabe que acontece mais do que gostaríamos de admitir.

Recebo muitas mensagens de feedback sobre as nossas conversas de segunda-feira e a maioria diz respeito exatamente a exemplos de situações vivenciadas nos negócios, que são a prova de que ainda temos um longo caminho a seguir, buscando a mudança, que inevitavelmente irá promover a evolução do conjunto.

E no intuito de compartilhar as experiências de todos, fiz um apanhado geral:

 Acreditar que as responsabilidades pela execução das atividades e pelo andamento do processo são exclusivas dos profissionais da área em questão, que não existem influências, positivas e negativas da empresa como um todo.

  1. Acreditar que o equilíbrio entre relacionamento humano e produtividade não é importante.
  2. Que a censura à criatividade, às ideias, é uma ferramenta disciplinar.
  3. Quanto mais complexo eu fizer parecer meu trabalho, mais valor terei como profissional.
  4. A culpabilidade é mais urgente que a solução, seja lá do que for.
  5. Que o desperdício de insumos é menos ou mais importante que o de tempo, pessoas, espaço, utilização, etc. (para esclarecer, todo desperdício é uma falha que na maior parte das vezes pode ser evitado).
  6. Que as crises se resolvem no grito.
  7. Que sobrecarregar é essencial para determinar o comprometimento de sua equipe.
  8. A insegurança e o medo tornam as pessoas mais disciplinadas e, com isso, não perdem tempo com bobagens.
  9. Regras criadas com o propósito de intimidar ou de fortalecer indivíduos baseados em critérios pessoais.
  10. Acreditar que sua empresa ou setor é um país e você o ditador.
  11. Acreditar somente em instintos e que pesquisas para coletar dados, formular estratégias, são perdas de tempo e coisa de quem tem pouco trabalho para fazer.
  12. As palavras e os atos de estímulos são vistos como desnecessários.

Mas e caso a empresa e o profissional quiserem continuar evoluindo?

Bom, faça o inverso de tudo o que foi dito acima, já é um baita começo, mesmo parecendo pouco.

Aproveito para deixar claro que acredito no poder da equipe, na descentralização, no comando pela confiança, pela integridade e pelo respeito, mas isso não quer dizer que o gestor não deva, não possa e não precise dar ordens, afinal existem decisões estratégicas que, embora amparadas pelas informações, dados e experiências da equipe, somente o líder pode tomar, e tomar decisões não é uma tarefa simples ou fácil, pelo menos não em relação às definições importantes que envolvam pessoas, descarte de produtos/negócio e definições das prioridades, etc. E principalmente, as decisões não agradam todos, por isso tire da cabeça essa ideia de que boas empresas são aquelas onde todos vivem felizes para sempre, até porque ser feliz é um estado passageiro, e para sempre não existe.

Mas é fato que, para um negócio ter sucesso, é necessário que o gestor seja uma pessoa íntegra, ética, consciente de sua capacidade e competência, capaz de compreender e praticar a administração voltada para os resultados, encarando os desafios, aceitando as responsabilidades pelas decisões tomadas e pela equipe, promovendo a cultura da solução e não da culpabilidade, saber que “estar certo” não é mais importante do que “fazer certo”, e que genialidade e delírio são duas coisas diferentes.

E sabemos que o mercado precifica e muito novos gestores, ou seja, uma prova que entender do assunto e ser capaz de mudar negócios vale muito dinheiro. Portanto, não subestime a importância de ler os relatórios de sustentabilidade, de responsabilidade social, de conhecer o gestor do negócio, os conselhos, afinal, estamos falando de quem decide se a empresa caminha para frente, permanece estagnada ou fica lutando contra a morte, até ceder.

Logo, quando ouvir alguém dizendo que ESG não vai “emplacar”, que CBIOS não serão significativos, que evolução de competências é apenas um custo desnecessário, que estratégias comerciais somente são válidas se forem baseadas unicamente no critério vender, e não fidelizar o cliente, fortalecer a marca, valorizar o profissional no conjunto da obra, lembre-se que até algumas décadas atrás era comum usar palavras e expressões no ambiente de trabalho que hoje sequer são imagináveis (pelo menos na maior parte das empresas), que descarte de materiais podia ser feito em qualquer lugar, que preocupação com qualquer mudança climática era coisa de gente que não queria trabalhar. E veja onde estamos hoje e principalmente quais empresas estão saindo na frente hoje, e não apenas no valor de mercado, mas no impacto positivo que estão deixando no mundo.

Afinal, não sei vocês, caros leitores e leitoras, mas eu pretendo deixar um mundo melhor do que aquele que encontrei, com palavras e atitudes, trabalhando para que as pessoas compreendam a importância de agir com maturidade, coerência, responsabilidade, empatia e principalmente reconhecendo que podemos fazer muito mais do que imaginamos. Basta que saibamos não perder tempo com tudo aquilo que nos prende ao passado, com as futilidades das redes sociais, com as discussões infinitas sobre qual opinião sobre um assunto irá vencer. As ineficiências e ofensas atrasam negócios e prejudicam pessoas, portanto, não há nada que justifique a perpetuidade desses eventos nas empresas.

Se podemos contribuir usando outros modais além do rodoviário, por qual motivo não defender a ideia?

Se podemos usar os recursos com mais responsabilidade ambiental, por qual motivo ser contra?

Se podemos reaproveitar recursos, por que combater a ideia?

Se posso ser educado e gentil no ambiente de trabalho, por que escolher ser rude e grosseiro?

Se posso ensinar quem está começando, por que tiro proveito e tento excluí-lo?

Se posso contar com as ideias do grupo, por qual motivo não as aproveito?

Se você é sensato, sabe as respostas dessas perguntas.

Até a próxima semana.

Patrícia Rossari – Especialista em Gestão & Logística.

Consultoria e Research.

 

Patrícia Rossari.

Gestão & Logística.

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