A crise obriga as empresas a ter foco. A prosperidade, não.”
Jim Collins
Para entender um case de indústria precisamos compreender conceitos de produção/ logística e custos! Achou chato e pouco útil? Então pense em quantas vezes tu ouviu as seguintes frases:
- A nossa capacidade de produção não-utilizada está em um percentual elevado, ou seja, temos muito ainda pra produzir sem necessidade de capex
- Nossa eficiência produtiva compensa os custos maiores do processo, não precisamos aumentar os preços
- Nosso CPV foi menor devido à não utilização da nossa capacidade efetiva pela menor demanda do mercado, mas não nas mesmas proporções, devido à manutenção de estoque.
Mas atenção:
É preciso esclarecer que não produzir a capacidade efetiva não é garantia de resultados positivos futuros, como algumas empresas divulgam, afinal não basta apenas produzir, é preciso ter uma cadeia de fornecimento adequada, uma gestão de recursos apropriada, uma produção enxuta que minimize os custos sem comprometer a qualidade (principalmente em produtos de uso e consumo), condições de distribuição sem comprometimento da receita e do mercado consumidor.
Como entender se a capacidade produtiva não ocupada realmente faz diferença?
Primeiro, entendendo o básico sobre cálculo de capacidade, depois, verificando quanto esse aumento pode interferir no resultado da empresa. Antes do conceito propriamente dito, é importante ressaltar que a capacidade produtiva está diretamente ligada às condições da planta/equipamento e profissionais disponíveis para a produção, o processo de produção é constituído de um conjunto de elementos que devem funcionar em equilíbrio, é possível adquirir uma máquina que tem capacidade de produzir dez peças/minuto, mas esse desempenho depende da cadeia, pois é necessário ter os insumos, a matéria-prima, os colaboradores necessários e treinados adequadamente. Um ponto fundamental é entender a importância da cadeia de fornecimento para a indústria, e todos os fatores que ela engloba.
Conceito de Capacidades Produtivas
Capacidade de Projeto: é a quantidade de produtos que podem ser produzidos por planta/setor/equipamento/máquina, em determinado tempo de trabalho. Sem conhecer esse número fica inviável fazer a gestão de qualquer processo.
Capacidade nominal: ocorre quando os equipamentos trabalham a 100% de eficiência e sem paradas
Capacidade efetiva: capacidade real de produção, já consideradas as paradas programadas, e a eficiência do processo na utilização do maquinário e da força de trabalho.
Capacidade real: produção que considera as paradas não-programadas.
E onde entra a contabilidade nisso? Alguma coisa disso aparece nas DRE, BP, fluxo de caixa?
A contabilidade de custos surgiu com o aparecimento das indústrias, e o seu objetivo era calcular os custos dos produtos fabricados, entretanto ela se tornou ao longo do tempo um instrumento para acrescentar valor aos produtos, visto que antes disso só existia atividade comercial, à qual se aplicava a contabilidade financeira para avaliação do patrimônio e controle de resultados. Os sistemas de gerenciamento de custos devem sempre mensurar o valor agregado ao longo de toda a cadeia produtiva, pois, por meio dessa ferramenta, é possível tomar decisões estratégicas e operacionais de forma mais ágil e coerente, seja no custeio por absorção ou no variável.
Entendendo os Métodos:
Custeio por Absorção:
Considerando que o método de custeio é a forma pelas quais os custos são apropriados aos seus portadores finais, é preciso diferenciar que isso pode ser feito integralmente no ciclo operacional interno, ou somente os custos variáveis. No custeio por absorção é feita a absorção integral dos custos do ciclo operacional, sejam eles de fabricação, administração, vendas, diretos ou indiretos por rateio. Esse método é válido para fins de balanço patrimonial e DRE.
Os custos de fabricação mais comuns são:
- Proporção de custos diretos.
- Proporção de custos de mão de obra direta.
- Quantidades produzidas.
- Tempo de utilização das máquinas.
- Área ocupada por linha de produção.
- Custo de matéria-prima.
Já o custo dos produtos vendidos são integrados por:
- Custo de aquisição de MP e qualquer outro bem aplicado ou consumido na produção.
- Custo de pessoal aplicado na produção.
- Custos de locação, reparo, manutenção e encargos de depreciação dos bens aplicados na produção.
- Encargos de exaustão dos recursos naturais utilizados na produção.
Custeio Variável
Já no custeio variável ou marginal, os custos indiretos não são levados à análise do resultado do produto, pois são avaliados por sua margem de contribuição, a qual, por sua vez, é calculada pela diferença entre preço de venda, custos e despesas diretas. A margem de contribuição total é calculada pela diferença entre a receita de vendas brutas do produto e os custos e despesas diretas totais do produto, todos os outros gastos são transferidos para a apuração do resultado como despesas, sem apropriação aos produtos fabricados, somente os custos variáveis de manufatura devem ser atribuídos ao produto, os fixos devem ser considerados como custos do período.
Apesar de ser mais fácil entender o custo dos produtos fabricados, é preciso lembrar que esse é um método para decisões a curto prazo, porque subestimar os custos fixos, que são ligados à capacidade de produção e planejamento a longo prazo, pode resultar em problemas de produção, por conta de subavaliação de estoques e alteração de resultados no período, e isso é um problema bem grande.
E qual a relação desse controle de custos da indústria, com as contas de resultado da DRE?
Um exemplo que demonstra a importância da gestão de custos é o retrabalho, que ocorre nos processos industriais, muitas organizações não conhecem os custos dos seus processos, de seus produtos e consequentemente não sabem ou não controlam os custos de trabalhos repetidos nos diferentes níveis. Sendo assim, alguns produtos retrabalhados acabam com um custo quase equivalente ao preço de venda, quando considerados o transporte e os impostos.
Conhecer os custos da empresa é importante por inúmeras razões, como a tomada de decisão adequada para aumentar o lucro resultante das operações da empresa.
Quem domina os custos da empresa garante a manutenção da produtividade em níveis elevados, reagindo aos fatores de risco e de oportunidade em seu segmento.
Os resultados do negócio que aparecem no balanço patrimonial não estão lá por acaso, pois são o reflexo do sistema integrado contínuo de gestão, a receita é o resultado do quanto se produziu e se entregou de acordo com a qualidade, o preço e o tempo contratado, o custo do produto vendido é o reflexo do quanto a sua cadeia logística é eficiente e capaz de se adequar às variações dos mercados fornecedor e consumidor. Na produção, contam os custos do retrabalho e das perdas por falhas nos programas de produção; no transporte, os custos das falhas na roteirização, das avarias, das perdas de clientes por ineficiência no processo, e assim por diante.
Quer mais um exemplo, analise a logística de distribuição das empresas, que aliás figura entre as mais populares da área, a possibilidade de escolher como será estruturado o canal de distribuição, se a empresa a fará diretamente ou de forma terceirizada, por exemplo. O serviço precisa levar em conta os objetivos da empresa e o tipo de produto, além, obviamente, de considerar que a distribuição está conectada com a movimentação e o transporte, o qual por sua vez é o elo mais impactante quando se trata de custo logístico. Não é só a armazenagem ou o fluxo sem gargalos que elevam a eficiência em termos de tempo, mas também, a organização bem adaptada ao sistema de transporte e roteirização, para que o cliente receba a mercadoria certa, no tempo estabelecido e com a qualidade contratada.
Todos os elos do sistema precisam estar integrados, porque milagres não acontecem.
A programação de produção adequada à capacidade do processo; o layout de acordo com o produto; os insumos na quantidade correta e no local adequado (sim, isso importa e muito na eficiência e nas margens, índices de eficiência, múltiplos etc.); os processos integrados para não se criarem gargalos; as ferramentas da qualidade funcionando, para diminuir as perdas e os retrabalhos, que influenciam diretamente a eficiência do processo, em quantidade e em qualidade, pois ambos prejudicam o sistema, aumentando os custos e bagunçando a distribuição.
Ou seja, não adianta maximizar o fluxo, encarecendo os custos de distribuição, se a cadeia não funciona bem desde o início, REFLITA se a empresa na qual tu trabalha ou investe, faz isso.
Outro fator relevante é a necessidade de conhecer o serviço terceirizado, observando como está estruturada a atividade, desde pontos de acesso que facilitam a chegada e a saída, até as quantidades de docas disponíveis e seus tamanhos, visto que isso é fundamental para saber se é possível adequar o sistema de distribuição à sua produção – isso vale para cadeia de fornecimento também. A empresa precisa investir em mecanismos de controle para acompanhar a operacionalização do processo, a roteirização, a entrega, de modo que a prevenção de perdas traga resultados significativos.
“Conhecer o país onde se fará a guerra é a base de toda a estratégia.”
Frederico II
Até a próxima semana.
Patrícia Rossari
Especialista em Gestão & Logística.
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