Ontem, recebi uma pergunta no telegrama do Thiago (nome fictício), que achei interessante e resolvi escrever um artigo sobre ela.
Ele me perguntou: Tenho um amigo que quer começar a gerar uma renda passiva com investimentos e ele queria saber quais são os mais indicados.
Então eu perguntei, como sempre faço. Qual o perfil dele? Qual a visão dele de investimentos e o horizonte dele (prazo de investimentos)?
Thiago me respondeu que o amigo dele era completamente avesso a riscos e que queria algo de longo prazo, mas que gerasse uma renda todos os meses pra ele, ou no mínimo trimestralmente.
Eu adoraria indicar ações de empresas que pagam dividendos trimestralmente, assim como faço particularmente via Skype, em que analiso as empresas junto com os alunos. Mas como o perfil desse amigo do Thiago era bem conservador, precisei focar no Tesouro Direto.
Olhei o site do Tesouro e vi os títulos que estavam disponíveis e principalmente os que geravam renda recorrente, isto é, os que pagam cupons de juros. Veja na foto abaixo:
Olhando a foto, temos quatro títulos que pagam cupons semestrais. São três títulos atrelados à inflação (IPCA 2026; IPCA 2035 e IPCA 2050), as antigas NTNB. E ainda existe um título prefixado o NTNF 2027 que paga juros semestrais.
Aí percebi que o vencimento do título prefixado é em Janeiro de 2027, logo ele paga juros semestrais em 01/Julho e em 01/Janeiro de todos os anos. O Vencimento do IPCA 2026 e do IPCA 2050, é em 15/08/2026 e 15/08/2050, respectivamente. Logo eles pagam cupons de juros em 15/Fevereiro e 15/Agosto de todos os anos. E o Vencimento do IPCA 2035 com juros semestrais é em 15/05/2035, com pagamentos de juros em 15/Maio e 15/Novembro.
Então cheguei a uma conclusão bem interessante. O Thiago possuía 90 mil reais pra investir e ganhar uma renda recorrente. Assim se ele dividisse os 90 mil reais em 3 partes iguais, ele poderia investir 30 mil em um titulo que pagaria juros para ele em agosto e fevereiro, 30 mil reais, em um título que pagaria juros em maio e novembro e 30 mil reais em um título que pagaria juros para ele em Janeiro e Julho, tendo assim um fluxo de caixa quase bimestral.
Vamos aos valores: Se o Thiago investir 30 mil reais no IPCA 2026 ele teria de juros semestrais líquidos entre 640,00 e 815,00. Percebam na foto abaixo que como o título é reajustado pelo IPCA, o valor dos juros também são reajustados ao longo do tempo, dando uma maior segurança ao investidor. A ideia é a seguinte: Você recebe uma parte de juros (prêmio do título) e o restante rende junto com o título pra compensar a perda do poder de compra pela inflação.
De forma análoga o Thiago investe 30 mil reais no IPCA 2035 recebendo cupons de juros nos meses de fevereiro e agosto. Os rendimentos semestrais líquidos giram entre R$ 600,00 e R$ 700,00 líquidos no início do período e chegando a mais de R$ 1350,00 líquidos no ano de 2035.
Novamente como a parcela paga é apenas referente ao prêmio, o valor dos cupons e dos títulos são reajustados sempre de acordo com o IPCA, não levando o investidor a uma perda do poder de compra. O valor é um pouco menor do rendimento líquido, porque a taxa pra 2035 está em 5,14% ao ano, e a taxa do anterior para 2026 estava em 5,28% ao ano.
Veja na foto abaixo, simulações feitas com IPCA de 4,50% ao ano.
Já o título prefixado, tem uma diferença. Como ele paga o valor dos juros integralmente. Ele não é corrigido pela inflação perceba que o valor recebido líquido é maior, mas o valor não aumenta ao longo do tempo. Assim não protege o investidor da perda do poder de compra que pode ser grande em caso de uma alta abrupta da inflação. Como estamos falando de horizontes longos de prazo (maiores que 5 anos), temos que imaginar alguns imponderáveis.
É importante ter uma alocação neste título também para o Thiago manter uma renda recorrente, como ele deseja. Veja que os valores nesse caso dos rendimentos líquidos são maiores e variam na faixa de 1190,00 por semestre sempre. Depois de passados os primeiros dois anos que incide uma alíquota maior de imposto de renda, veja como os valores não aumentam mais. São sempre em torno de 1190,00
A minha ideia aqui seria sacar em torno dos 700,00 que os títulos atrelados à inflação dariam, e reinvestir os 500,00 restantes no mesmo título. Mesmo sabendo que as taxas no futuro serão diferentes das taxas atuais.
Dessa forma, aplicando essa estratégia o Thiago iria aplicar R$ 90000,00 iria receber por volta de R$ 600,00 a R$ 750,00 a cada dois meses, um rendimento de apenas 0,40% ao mês líquido, mas o seu dinheiro continuaria rendendo de acordo com a inflação. Continuaria protegido.
Essa é a forma mais segura que eu encontrei para investir, unindo tanto a rentabilidade, a geração de renda quanto à segurança de não ter o seu poder de compra corroído no futuro pela inflação (que seria o caso da caderneta de poupança, por exemplo) e me utilizando apenas dos títulos de menor risco do país, que são os próprios títulos do tesouro Nacional. Essa estratégia está cada vez mais pagando menos, porque existe um cenário e uma expectativa de queda das taxas de juros no país. Então quem quiser aproveitar essa estratégia deve fazer logo.
Uma última observação: Esta estratégia só é válida para quem pretende manter os títulos até o vencimento e sacar os rendimentos para despesas pessoais. Vocês já perceberam que estes títulos por serem longos, eles podem variar muito tanto pra cima quanto pra baixo, mas quem mantiver as aplicações até o vencimento receberá o valor pactuado, tanto de juros, quanto de correção pela inflação.
Esta estratégia não tem nenhuma relação com a minha estratégia do Tesouro IPCA 2045, para ganhar com a queda das taxas de juros e depois revender o título daqui a 1 ano, ou quando a taxa cair de 4% + IPCA.
Se você ainda tem dúvidas porque existe essa alta e essa queda tão forte dos títulos do tesouro direto, vale a pena ler este artigo aqui
Abraços
Daniel Nigri