Fala, pessoal!
Na semana passada, falamos sobre o risco invisível de manter todos os investimentos em real. Mostrei que o viés doméstico deixa o brasileiro exposto à inflação importada, à volatilidade cambial e à perda de poder de compra no longo prazo.
Hoje, vamos falar sobre o que realmente importa: como se proteger.
Diversificar internacionalmente é mais simples – e mais necessário – do que parece
Não é novidade que diversificação traz mais equilíbrio para sua carteira. Mas quando falamos de diversificação internacional, os benefícios são ainda maiores:
- Redução de risco: países, moedas e setores diferentes reagem de forma distinta aos eventos econômicos. Quando um mercado está em crise, outro pode estar em alta.
- Acesso a setores e empresas que não existem no Brasil, como tecnologia, biotecnologia e energia limpa. Um bom exemplo são as big techs (Apple, Microsoft, Google, etc.
- Proteção contra a desvalorização do real: esse é um ponto central. A variação cambial impacta a inflação brasileira mais do que a maioria imagina.
Qual o percentual ideal para investir no exterior?
Existe uma lógica por trás dessa decisão: quanto mais sensível seu padrão de consumo é à variação cambial, maior deve ser sua proteção em moeda forte.
Além disso, o impacto da volatilidade do dólar – ou seja, suas oscilações constantes – pode ser um fator silencioso de perda de poder de compra ao longo do tempo.
Para estimar isso, alguns estudos usaram uma abordagem técnica:
- Aplicaram Análise de Estilo, como a proposta por William Sharpe, para entender o que mais influencia a inflação em cada faixa de renda; Esse estudo explica basicamente o quanto da inflação sentida pelas famílias brasileiras é influenciada por diferentes fatores — incluindo o dólar.
- “Ortogonalizaram” os dados (ou seja, isolaram o efeito puro do câmbio nos preços), para não contar o mesmo efeito duas vezes.
- Consideraram defasagens – o tempo que leva até o dólar impactar o custo de vida;
- Avaliaram também os gastos no exterior e a volatilidade cambial.
E o que se percebe é que, quanto menor a renda, maior o impacto da variação do dólar, já que os gastos essenciais – como alimentos, energia e combustíveis – são mais sensíveis ao câmbio.
Conclusão: ter parte da carteira dolarizada é essencial para manter seu padrão de vida ao longo do tempo.
Afinal, quanto investir fora do Brasil?
O estudo da FGV foi profundo ao estimar o impacto do câmbio sobre a cesta de consumo de diferentes faixas de renda.
Conclusão? Para proteger seu padrão de vida, o brasileiro deveria ter entre 16% e 18% da carteira alocada no exterior, dependendo do perfil de consumo e da renda.
Veja só os percentuais recomendados pelo estudo por algumas faixas de renda
Faixa de Renda | Percentual mínimo sugerido no exterior |
Renda Muito Baixa | 17,08% |
Renda Média | 16,06% |
Renda Média Alta | 18,00% |
Renda Alta | 16,83% |
Isso não tem a ver com tentar acertar o dólar ou buscar ganhos rápidos. É sobre proteger o seu poder de compra no longo prazo.
Como colocar isso em prática?
Aqui vão alguns caminhos simples e acessíveis para começar a dolarizar sua carteira:
- ETFs Internacionais (via BDRs ou corretoras brasileiras): Com uma conta em corretora local, você pode investir em ETFs que replicam índices como o S&P 500, Nasdaq ou MSCI World.
- Fundos Internacionais: Fundos multimercado ou de ações que têm parte ou totalidade do patrimônio alocado em ativos fora do Brasil.
- Investimentos diretos no exterior (via corretoras internacionais): Ideal para quem quer mais liberdade de escolha, independente se já possui um portfólio mais robusto ou não.
- Fundos cambiais: Eles investem em dólar e podem ser usados como uma forma de hedge (proteção).
- Receita em moeda forte: Se você trabalha com serviços digitais ou exporta conhecimento, considere gerar parte da sua receita em dólar ou euro.
“Mas Julia, e o risco de investir lá fora?”
Essa dúvida é comum. Mas aqui está a verdade: investir fora também tem risco, claro. Mas o risco de manter tudo no Brasil é muito maior.
Não se trata de abandonar o país. Trata-se de criar equilíbrio, diversificar e sobretudo, proteger aquilo que você levou anos para construir.
Como consultora financeira, o que eu recomendo?
- Comece devagar, mas comece. Começar com 5% já é melhor do que 0%.
- Use a diversificação como ferramenta de proteção, não especulação. Dolarizar a carteira não é sobre tentar prever o dólar, mas sim garantir que seu dinheiro não perca valor.
- Avalie seu padrão de consumo. Quanto mais exposto ao dólar (viagens, educação, saúde, tecnologia), maior deve ser sua proteção cambial.
Para refletir:
Você já parou para pensar que seus sonhos custam cada vez mais caro em reais?
Como você está protegendo seu padrão de vida no mundo de hoje?
A resposta começa com uma decisão: diversificar com consciência.
Até a próxima!
Abraços,
Julia Priante
**Segue link do artigo da FGV
https://eaesp.fgv.br/sites/eaesp.fgv.br/files/u784/impacto_do_cambio_no_consumo_do_brasileiro.pdf
Julia Bastos Chagas Priante – @julia.priante
Engenheira de Alimentos pela Universidade Federal de Viçosa, atua no mercado financeiro desde 2006. Com ampla experiência como Officer no Itaú Unibanco/Itaú BBA nos segmentos de Empresas, Nicho Imobiliário e Multinacionais. É Especialista em Investimentos (CEA) e Pós-graduada em Planejamento Financeiro. Auxilia famílias a alcançarem seus sonhos por meio de um planejamento financeiro estruturado e personalizado.
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