A companhia possuía aproximadamente 100,9 mil hectares em áreas de efetivo plantio no final do 1T2020, cultivadas nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Alagoas e na Colômbia. Conta atualmente com dezesseis unidades industriais no Brasil e três unidades industriais na Colômbia, através de sua controlada Duratex S.A., filiais nas principais cidades brasileiras e subsidiárias comerciais nos Estados Unidos, Bélgica, Peru e Uruguai. A Divisão Madeira opera com quatro unidades industriais no Brasil e três na Colômbia; a divisão Deca opera com oito unidades industriais no Brasil (marcas Deca, Hydra, Belize, Elizabeth e Hydra Corona); e a divisão Revestimentos Cerâmicos opera com quatro unidades industriais no Brasil (marcas Ceusa, Cecrisa e Portinari).
Tem como principal acionista a ITAÚSA, com 40% da empresa. As ações estão listadas no Novo Mercado e possui Tag-Along de 100%. Ao final do trimestre, eram 691.784.501 ações, sendo 1.642.337 ações em tesouraria e um market cap de R$ 6.452,8 milhões.
O Negócio
- Madeira: com as marcas Duratex e Durafloor;
- Deca: com as marcas Deca e Hydra;
- Revestimentos: Ceusa e Portinari;
- Florestal: através da comercialização de toras e cavaco usados na produção de energia limpa. Segundo a empresa, ela vende para serrarias, empresas do ramo de celulose, usinas de geração de energia e também para empresas do segmento alimentício.
A empresa e a COVID-19 – Impactos
A empresa informou que ESTAVA revisando e avaliando o modelo operacional e de produção, inclusive o risco de abastecimento dos fornecedores, gerenciando de acordo com o novo cenário apresentado, e sim, isso é importante, pois relacionamentos ao longo da cadeia são determinantes para uma adequação do ciclo econômico, que reflete diretamente na NCG e, por consequência, na capacidade de gerenciamento financeiro do negócio.
Ela fala também que está realizando uma gestão estratégica do estoque para garantir a melhor utilização de recurso, inclusive falei sobre isso no Instagram, a necessidade de alocação inteligente dos recursos em tempos de crise. E como medidas ela cita que ocorreu ainda no 1T2020 a suspensão temporária das unidades da Divisão Madeira, da unidade de chuveiros elétricos e da unidade de louças de Queimados (RJ), redução da capacidade produtiva das demais unidades da Divisão Deca e de Revestimentos Cerâmicos; porém, parte destas unidades já retomaram suas operações. Isso ocorreu devido ao fato de que a empresa vai adequando os processos produtivos de acordo com a demanda, logo, a adequação da produção leva em consideração o mercado consumidor, para evitar custos de estoques parados em níveis acima de um ponto saudável que venha a garantir o fornecimento de todos os seus clientes.
Mesmo assim, no trimestre ela sentiu o impacto, devido ao aumento do nível de estoques pela queda de vendas no final do mês de março, assim como as contas a receber dos clientes que foram prorrogadas, o que gerou impacto negativo no capital de giro.
Ela cita também que está trabalhando comercialmente para preservar mercado e manter o negócio com as premissas adequadas à realidade da pandemia, e em relação à liquidez financeira a companhia informou que captou R$ 1,4 bilhão, sendo R$ 635 milhões em março e R$ 760 milhões em abril, e que está trabalhando em novas captações, destacando o fato de que 100% dos vencimentos programados para 2020, o projeto de celulose solúvel e a continuidade das operações estão na conta.
Ainda sobre o negócio da companhia, é importante salientar que ela é um setor que se beneficia do crescimento do consumo das famílias no setor de construção, da evolução do PIB da construção civil, envolve a capacidade de renda e acesso a financiamentos que estão ligados às taxas de juros e sabemos que existem evoluções nesse quesito, mas que foram impactadas pela COVID-19. Então, para entender as projeções dos resultados futuros é preciso conhecer alguns indicadores e também como foi o comportamento do setor em geral, para comparar se a empresa está em linha com os pares, ou melhor, ou pior.
Na divulgação do resultado do 1T2020 a empresa informou que a Associação Brasileira da Indústria de Materiais e Construção, até o mês de fevereiro, apurou queda de 2,2% no acumulado do ano no faturamento deflacionado da indústria de materiais para construção civil em relação ao mesmo período de 2019; já o faturamento da venda e produtos base recuou 1,5%, e de acabados, de 3,4%. O mercado de revestimento cerâmico, por meio da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres, segundo a empresa, apurou, no primeiro trimestre, uma queda de 3,7%, com volume de vendas de 207,4 milhões m², sendo que 146 m² em janeiro e fevereiro. No mercado interno as vendas caíram 3,8% e as exportações recuaram 2,5%. Já o setor de painéis de madeira, segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores, recuou 1,2% no trimestre a demanda por painéis de madeira, sendo que os volumes de MDP recuaram 3% e os de MDF cresceram 0,2%; já no mercado externo, aumento de 4,8%, as exportações de MDP cresceram 11,3% e MDF 0,6%.
Sustentabilidade
A empresa faz parte da lista de participantes do ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3, uma carteira que é um guia de referência para o investimento responsável no país – desenvolvimento sustentável/sustentabilidade corporativa. Para conhecer melhor o ISE, CLIQUE AQUI. Ela também foi a primeira empresa da América do Sul a conseguir o selo Forest Stewardship Councila, que atesta o manejo ambientalmente adequado, socialmente benéfico e economicamente viável das florestas, e isso foi na década de 90.
Inclusive, a empresa cita as iniciativas também como forma de redução de custos, por exemplo: reaproveitamento de insumos na produção, utilização de biomassa no aquecimento de caldeiras, o sistema integrado de fornecimento de madeira, com florestas próprias renováveis, localizadas próximas às fábricas.
Imagem retirada do site da companhia
A Duratex surgiu como a maioria das empresas surge: ela viu uma oportunidade de negócio, já que chapas de fibra de madeira eram importadas da Suécia na época, e em 31 de março de 1951 é fundada a Duratex S.A. Indústria e Comércio, em São Paulo, que desde o início é uma companhia de capital aberto. Em 1957 ela iniciava a exportação dos produtos para os EUA e em 1971 incorpora a até hoje famosa DECA (que foi fundada em 1947). E falando em marcas famosas, ela fez várias aquisições ao longo dos anos, entre elas as famosas Hydra e Duchas Corona. Ainda nesse assunto de expansão, em 2018 ela anunciou uma joint venture com um grupo austríaco para a construção, no Triângulo Mineiro, da maior linha industrial de celulose solúvel do mundo.
E no último ano ela adquiriu a Cecrisa (marcas Portinari e Cecrisa), por R$ 289,1 milhões, além de R$ 304,8 milhões em dívida líquida, R$ 65,5 milhões em contingências e gastos necessários com reestruturação. E com isso, a capacidade de produção da companhia nesse segmento é de 31 milhões de metros quadrados anuais de revestimentos, e isso é bastante coisa.
Imagem retirada do ITR da companhia 1T2020
Negócios sobrevivem somente quando se adaptam à demanda, às mudanças de consumo e evoluem tecnologicamente para tornar os processos mais rentáveis e com a consciência da responsabilidade no uso dos recursos. Negócios são feitos por pessoas para pessoas; logo, entende-se que as mudanças devem estar em sintonia com a evolução de quem? Das pessoas! E aqui estamos falando de renda, acesso ao produto em locais diversos, disponibilidade geográfica, entre outras inúmeras variáveis. A capacidade de consumo está ligada à evolução da renda, e esta é fruto de evolução econômica; logo, entende-se o motivo da mudança de padrão de consumo, mudança no aspecto de responsabilidade social e ambiental, que tem uma importância gigante no mundo das grandes corporações. O consumidor do futuro presta muita atenção ao impacto da produção, e medidas como a da Duratex, de informar os indicadores de desempenho em relação a aspectos ambientais, serão cada vez mais frequentes e se tornarão aos poucos uma vantagem competitiva. Mas obviamente, mudanças levam tempo, porém estão presentes na maioria dos cases; vejam a Renner, por exemplo, a Schultz, WEGE e tantas outras companhias.
Composição Acionária da Companhia
Imagem retirada do site da companhia / RI
Números do 1T2020
- Receita líquida total de R$ 1.161,6 milhões, +8,3% em relação ao 1T2020 (devido principalmente à consolidação dos resultados da Cecrisa, mas também à melhora nos resultados de madeira e revestimentos cerâmicos e câmbio).
- Receita proveniente do mercado interno: R$ 941,3 milhões, aumento de 7% em relação ao 1T2019, e representando 81% do total da receita do trimestre.
- Receita proveniente do mercado externos: R$ 220,3 milhões, aumento de 14,4% em relação ao 1T2019, e representando 18,9% do total da receita do trimestre, +0,1 p.p., resultado da variação cambial do período.
- Volumes:
- Volume Expedido Deca: -8,8%
- Volume Expedido Revestimentos Cerâmicos: +290,5%
- Volume Expedido Painéis: -1,7%
- CPV – custo do produto vendido: R$ 715,7 milhões, +9% em relação ao 1T2019 (devido à incorporação da Cecrisa, impacto do câmbio nos insumos importados).
- Margem bruta de 33,4%, +7,2 p.p., mas aqui o aumento se deve à variação positiva do ativo biológico e recuo na depreciação e exaustão de ativos.
- Despesas com vendas aumentaram 12,3% e representaram 15,6% da receita líquida, foram R$ 181,6 milhões (sem considerar a consolidação da Cecrisa, seria uma queda de 4,3%).
- Ebitda ajustado de R$ 200,1 milhões, aumento de 11,6% em relação ao 1T2019. Aqui, segundo a empresa, os impactos são referentes, além da consolidação da Cecrisa, também aos resultados da unidade de madeiras e de revestimentos cerâmicos. A margem ebitda foi de 17,2%.
- Despesas Gerais e Administrativas aumentaram 14% (sem considerar a consolidação da Cecrisa, seria um aumento de 2,7%).
Imagem retirada do ITR da companhia 1T2020
Por unidade de negócio
- Receita advinda da madeira representa 55,7% da receita total; foram R$ 647,9 milhões, sendo R$ 468 milhões no mercado interno; o ebitda ajustado desse segmento foi de R$ 145,7 milhões, com margem de 22,5% (excluindo Variação do Valor Justo do Ativo Biológico), isso significa 66,4% do ebitda total. Aqui a empresa cita que foram expedidos 588 mil m³ no 1T2020, recuo de 1,7% em relação ao 1T2019, e nas exportações, redução dos custos com frete e desvalorização cambial resultaram em um aumento de 25% no volume exportado em relação ao tri anterior.
- 47% das vendas é destinada ao setor de construção civil, 49% à indústria moveleira e 4% revenda.
Imagem retirada do site da companhia
Imagem retirada do ITR da companhia 1T2020
- Deca: receita líquida de R$ 333,1 milhões, sendo R$ 312,7 milhões no mercado interno, ebitda ajustado de R$ 37,8 milhões e margem ebitda de 11,4%, e isso significa 17,3% do ebitda total. Aumento de 5% na receita unitária em relação ao 1T2019, o que compensou em parte a queda de 8,8% dos volumes.
- 62,1% das vendas foram para home centers, 22,7% para construtoras, 10,2% para atacado e 5% outros.
Imagem retirada do ITR da companhia 1T2020
- Revestimento cerâmico: receita líquida de R$ 180,4 milhões, sendo R$ 160,5 milhões no mercado interno, ebitda ajustado de R$ 35,7 milhões e margem de 19,8%, e isso significa 16,3% do ebitda total. O volume expedido foi de 4,851 milhões de m², aumento de 290,5% em relação ao 1T2019, quando a empresa ainda não contava com os resultados da Cecrisa. Com essa aquisição, a capacidade anual, como dito acima, aumentou em 20 milhões de m².
- 51,4% das vendas foram para revenda, 23,3% para engenharia, 13,7% home center, 11,6% outros.
Imagem retirada do site da companhia
Resultado Financeiro
- R$ 43,3 milhões negativos, contra R$ 28,5 milhões negativos no 1T2019, ou seja, piorou.
Justificativas da companhia:
- As receitas financeiras aumentaram 154%, pois a empresa tinha maior posição de caixa, além da variação cambial, que impactou positivamente.
- Mas as despesas financeiras aumentaram 99,8% devido ao crescimento do endividamento bruto (consolidação da dívida da Cecrisa e aumento da sua liquidez financeira – COVID-19).
Lucro Líquido
Imagem retirada do release da companhia 1T2020
Dívida
Dívida liquida ebitda de 2,21x no encerramento do período, no valor de R$ 2.058,8 milhões, aumento de R$ 48 milhões em relação ao 1T2019. A dívida bruta da companhia é de R$ 3.387,6 milhões, aumento de R$ 742,2 milhões em relação ao 1T2019, sendo 74,1% para longo prazo e 99% em moeda nacional. As disponibilidades da empresa são de R$ 1.329 milhões.
A dívida Líquida/Patrimônio Líquido é de 43,1% e ela havia fechado 2019 com 34,6%.
Concluindo
Sob a óptica de análise de negócios, as empresas com controle de qualidade tendem (embora algumas fiquem só no “deveriam”) gerenciar os custos com maior eficiência, e a empresa de hoje possui a ISO 9001 na maioria das plantas, a 14001, que é ambiental, além da OHSAS 18001, que se refere à Segurança e Saúde Ocupacional. É fato que esses negócios acompanham a evolução do mercado imobiliário e, com ele, as questões atreladas – renda e taxas de juros. Sendo assim, apesar do processo produtivo ser viável em termos de análise de case e de mercado, para considerá-la opção de investimento é necessário considerar essas sazonalidades e perspectivas de crescimento, que podem ou não acontecer.
Daniel Nigri com apoio de Patricia Rossari
O analista Daniel Nigri CNPI1810 é o responsável pelas informações perante a ICVM 598
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