“Tropeçamos nas pedras pequenas, porque as grandes a gente logo enxerga”
Em cada sala de aula que já entrei, ou em cada palestra/curso em que já tive o prazer de ser ouvida, uma pergunta foi constante: qual a fórmula para o sucesso de uma gestão? Por que algumas empresas faturam muito e são uma catástrofe em resultados, enquanto outras têm um mercado mais difícil para operar, maior concorrência e ainda assim conseguem gerar valor? E a ironia disso é que muitas pessoas acreditam que o assunto comunicação é: “óbvio demais, menos importante que o cálculo da TMA/TIR, insignificante. Afinal, são negócios, e não terapia. A informação é minha, só passo adiante se for vantajoso para mim (ironia)”.
Quando ouço essas declarações, já deduzo que a pessoa que as emite nunca trabalhou em uma corporação, ou no caso de ter trabalhado é provável que tenha sido gestor/colaborador que acreditava ser “diferente” e por isso as regras não se aplicavam a ele. Seja honesto: de quantos profissionais você se lembrou ao ler a descrição acima?
E existe “receita”? Sim, claro.
Duas colheres de bom senso, uma xícara de educação, um pacote de competência técnica, misture tudo e adicione um litro de capacidade de liderança.
E não só de sucesso, existe de fracasso também. Você vai precisar de um recipiente enorme. Encha-o com ego, adicione falta de capacitação técnica e não se esqueça do tempero: falta de comunicação, muita falta de comunicação.
PS: não sei se é necessário, mas lá vai: contém ironia.
Engraçado ler isso, não é? Mas na prática, no dia a dia dos negócios, presenciar sistemas falindo devido à falta de competência e de capacitação da gestão ou dos colaboradores, ou de ambos, é muito triste.
Isso porque pessoas perdem seus empregos, ou quando continuam nesses sistemas ineficientes, geralmente sofrem com as incompetências alheias, estão sujeitos a discussões inúteis com os que “mandam mais”, afinal, como dito há muito tempo por Schopenhauer: “Nada supera para o homem a satisfação de sua vaidade e nenhuma ferida dói mais do que aquela que golpeia essa vaidade”.
E quando não existem argumentos, as pessoas “levantam a voz” e aumenta a tendência de ofensas. Alguns defendem esse comportamento dizendo que é “personalidade forte, autenticidade”, mas é só falta de educação e bom senso mesmo, e quase sempre vem acompanhado do Q.I. (não o Quociente de Inteligência, capacidade cognitiva, mas o outro Q.I. – o famoso “Quem Indica”, aquele que mantém as costas quentes). Se você nunca conheceu um desses, nossa, parabéns, você é privilegiado ou então está na ponta oposta. Mas deixa pra lá.
Alguns devem estar se perguntando: mas isso impacta no resultado do negócio?
Deixe-me pensar… Brincadeira, não preciso pensar, pois é claro que afeta, afinal, processos que produzem produtos ou prestam serviços são pensados e desenvolvidos por pessoas, para pessoas, ou seja, não existe sistema eficiente sem comunicação que funcione.
Exemplo: você encomenda a ceia de natal, pois assim como eu, não é capacitada para a arte de cozinhar. Então, uma semana antes, já preventivamente, faz seu pedido, imaginando que assim estará com sua refeição garantida no dia em questão. Ótimo, não é? Seria sim, se a empresa também fosse organizada, se a comunicação funcionasse, se o sistema não apresentasse falhas com aumento de demanda, e por aí vai. Resumindo, a atendente anotou seu pedido, ele está no sistema, porém esqueceram de manter o estoque atualizado. Pois é, sinto muito, mas não teremos o produto solicitado.
Até aqui tudo bem. A empresa pode te avisar que não existe disponibilidade de produto. Mas o problema é que ninguém avisou, porque a informação não foi disponibilizada no sistema. O comando era: produz o que der, vamos fazer outro pedido ao fornecedor e “torcer” para chegar a tempo. Se eu contasse nos dedos as vezes que isso dá certo, não precisaria de dedos.
Espero que você tenha uma família compreensiva e alguém que saiba cozinhar, pois eles irão te avisar às 14:00 do dia 24/12.
Obviamente, esse é um exemplo simples, para ilustrar o assunto. Mas não se engane: uma falha de comunicação dessas pode fazer empresas perderem grandes contratos, ou ainda contribuir para o aumento de risco na utilização de determinados produtos/serviços. Era uma simples limpeza de estofado, só uma peça no veículo, e assim por diante.
Ninguém é imune ao grupo onde está inserido. Os hábitos tendem a se formar através de causalidade, a fome encontra o que comer. O grupo influencia o desempenho individual em um negócio, afinal, poucas são as execuções que independem de outros. Algumas tarefas até podem ser desempenhadas individualmente, mas somente serão finalizadas se todo o sistema estiver envolvido.
Exemplo simples: um escritor cria a obra, escreve, ok? Mas e depois? Guarda na gaveta? Seu vendedor executa a venda, mas esquece de colocar no sistema, ou inclui no sistema, porém promete a entrega para o mesmo dia, sendo que sequer existe estoque do produto. Ou então a logística organiza o estoque, faz uma gestão adequada, tenta manter o máximo de acuracidade, mas o novo gestor, preocupado em impressionar, diz: pode liberar sem requisição, é só dessa vez. Ou a clássica: não precisa considerar os novos parâmetros do setor de compras, sempre vendeu bem aquele produto, compra o dobro.
Então, o que fazer na prática? O que posso fazer na minha empresa, como empreendedor ou colaborador, contribuindo assim para um sistema de comunicação mais eficiente?
- Ouça diferentes opiniões antes de tomar uma decisão importante.
- Sugestões não são uma afronta ao seu trabalho, são apenas uma ferramenta a ser usada quando se trabalha em equipe. Cuidado com o ego.
- Tenha informações suficientes para embasar a estratégia com dados confiáveis, e isso deve ser feito antes de tomar a decisão, não depois. Correr atrás do prejuízo custa sempre mais caro.
- Clareza e objetividade, sempre.
- Nunca minimize a importância do consenso em uma equipe, para ajustar os processos.
- A empatia é uma ferramenta eficaz para a compreensão dos motivos pelos quais a operação é deficitária, afinal, entender pelo ponto de vista do outro ajuda a acabar com os pedestais nas organizações.
- Ética nas relações de trabalho não é apenas um conceito que se aprende na faculdade, é uma forma de construir e destruir carreiras e empresas.
- Credibilidade vale muito dinheiro.
- O medo nunca foi um bom líder.
Não basta discurso. Equipes respeitam exemplo/prática, comprometimento da gestão com os objetivos propostos. O feedback para colaborador não é apenas formalidade, ouvir a equipe não é apenas formalidade. Uma boa equipe, produtiva e motivada, não nasce por milagre/mágica/pensamento positivo.
Agregar valor a um negócio/processo passa inevitavelmente por uma visão abrangente, reduzindo a probabilidade de erro medindo as forças em determinados setores e traçando estratégias que possam aumentar os impactos positivos e diminuir os negativos. A diferença entre o sucesso e o fracasso de um negócio está vinculado ao comportamento das forças competitivas e ao processo interno. Veja que uma estratégia ou processo, por melhor que seja, não vai gerar os resultados esperados se não atender às necessidades do ambiente competitivo. Porém, não basta saber o que o mercado necessita, ter recursos, mas ninguém capacitado para desenvolver as ótimas ideias.
Sabemos como é difícil contratar e manter os bons profissionais, mas sabemos também que os processos de muitas empresas são falhos. Logo, não se pode generalizar a “culpa”, e sim focar nas soluções. E não ajuda dizer que o “meu grupo de pensamento é melhor”, o que ajuda é contribuir para melhorar o processo. E isso, já sabemos, não se faz com exclusão ou diminuição da importância dos elos, mas com valorização.
“Nem tudo que parece é !
A análise do processo é que te faz entender o resultado. Caso tu decidas apenas prestar atenção na conclusão, serás sempre enganado por alguém mais esperto.
Enquanto isso, vais acreditar que tens muita sorte.”
Patrícia Rossari.
Gestão & Logística.
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