Perguntas sobre análise de cases, análise quantitativa

“Se você é ignorante e estiver rodeado de bons conselheiros, vai continuar sendo ignorante; apenas terá mais gente ao seu redor para constatar a sua ignorância.”

Quando a mensagem é clara e objetiva, sem floreios ou sem apelo emocional (exemplos: “vou te ensinar a reestruturar uma empresa em passos”, “o segredo da reengenharia para qualquer negócio”, “4 passos para manter acuracidade de estoque 100%”, “nunca mais tenha problemas com precificação de produtos”, “você consegue investir em qualquer negócio” e “estará na Forbes”), é recebida muitas vezes como algo “sem consideração” por quem está ouvindo, ou então sem utilidade, pois não utiliza as seguintes expressões: você consegue, você pode, você é um alecrim dourado. Afinal, quando não ouvimos aquilo que queremos, a tendência de acreditar que é falta de bom senso ou que é uma forma disruptiva criada apenas para te fazer sofrer (ironia), torna-se gigante.

E qual o motivo de falar sobre isso, Patrícia? No título da conversa tu disseste que responderia algumas perguntas sobre análise de cases quantitativamente?  Quem vai responder essa é o Jim Collins:“Não são as circunstâncias que causam resultados – são as pessoas”.

A análise do processo é que te faz entender o resultado. Caso tu decidas apenas prestar atenção na conclusão, serás sempre enganado por alguém mais esperto. Enquanto isso, vais acreditar que tens muita sorte. Explicando: analisar apenas o resultado final, sem buscar compreender os motivos que levaram a ele, sem acompanhamento, medição, aprimoramento, é o típico processo:

  • “vamos levando até não dar mais”
  • “sempre foi assim”
  • “não vai dar em nada”

Até o dia em que tudo começa a dar errado. Na verdade, o acúmulo dos erros vem à tona e aquela impressão de que tudo se ajeita sozinho, porque sempre foi assim, e sempre terá alguém para comprar, alguém para pagar, alguém para assumir a culpa, desaparece e afugenta aqueles que “dão um jeito”, enquanto tudo dá “certo”, pois são aqueles que ajudam a afundar, aumentando os buracos do barco.

O que eu quero dizer é que as empresas precisam melhorar os processos e investir em formação de profissionais. Afinal, sem uma simetria na evolução dessas duas variáveis, não existe negócio que sobreviva a longo prazo. Nossa, que exagero, Patrícia! As empresas estão aí há tanto tempo!

Faça um pequeno teste e veja quais empresas estavam listadas na década de 90, ou então nos primeiros anos do novo milênio, e veja se todas continuam aí. Ou então, as mais promissoras de 5 anos atrás são as mesmas de hoje? Imagine um empreendedor que colocou todo seu dinheiro em uma vaquinha mágica, ou em um boi, ou em uma indústria que iria fornecer para uma cadeia que hoje não passa de um distrito industrial vazio e fantasma!

Negócios não são à prova de tudo; não existem negócios sem risco; provisões são apenas hipóteses de erro (tem podcast sobre isso). Agora imagine fazer o negócio acontecer sem ter investimento em tecnologia, estrutura, ou em alguns casos, sequer capex manutenção (desconfie sempre desses negócios)e sem qualificar os profissionais? Qual a chance de dar certo?

Então é preciso aliar a gestão de pessoas à gestão dos processos. Não basta termos pessoas educadas e gentis nas empresas, mas que tenham pouco conhecimento técnico, assim como não podemos ter pessoas sem educação alguma, mas que são desculpadas porque tem conhecimento, famoso “deixa quieto que ele sabe o que faz”. Admita que você conhece pelo menos um profissional de cada exemplo que citei acima!!

E quando falamos de negócios, praticidade e objetividade são importantes, porém ainda despertam algumas confusões na gestão dos negócios. Por isso vou falar sobre alguns temas que são assunto das dúvidas que recebo:

  1. Quais as aplicações e limitações de uso dos múltiplos de ebitda, patrimônio e de faturamento (receita)? Aqui vamos usar Damodaran.

Para os indicadores que usam a receita, são úteis em análise de negócios que já estejam em um ciclo maduro, com uma projeção de geração de caixa em linha com os pares/segmento, mas não esqueça que esse múltiplo não considera as diferentes relações da receita com as margens financeiras.

Para os indicadores que utilizam o patrimônio, eles são úteis também para empresas que já estejam maduras e que tenham no patrimônio a força que promove a geração de valor do processo produtivo, porém é preciso deixar claro que a utilização desse múltiplo é enviesada pelo método contábil (competência), então é preciso cuidado ao tomar uma decisão com base em um dado estático.

Para os indicadores que usam o ebitda, é preciso compreender que a geração de valor pode ser impactada por inúmeras variáveis. Assim, em empresas muito expostas a ciclos, ou em fase de crescimento e expansão, é preciso aliar a expectativa de fluxo de caixa a fatores determinantes que causariam o maior impacto no resultado. Além do que, não considera os recursos que são essenciais para a continuidade do processo que gera o valor. Aqui entram alguns casos de Impairment, que acabam influenciando resultados (falei sobre Impairment e como afeta a tributação e o lucro, na nossa conversa da semana passada).

  1. Como é contabilizada a mais-valia e o ágio por rentabilidade futura em aquisições?

Basicamente deve-se calcular o valor justo de todos os ativos e passivos, incluindo intangíveis, identificando mais e menos-valias (diferença entre o valor justo e o valor contábil dos ativos).

O ágio por rentabilidade futura (ou goodwill) é residual, sendo a diferença entre o preço pago e o PL da empresa adquirida, ajustado pelas mais e menos-valias encontradas. A empresa não pode mais amortizar todo o ágio em cinco anos, somente o goodwill pode sofrer amortização nesse prazo. As mais-valias deverão ser amortizadas de acordo com a vida útil do ativo avaliado e o benefício fiscal está atrelado ao tempo. E todos os direitos intangíveis são avaliados pelo custo da aquisição, deduzindo a amortização, seja por prazo estabelecido, direitos ou vida útil econômica do bem.

  1. Depreciação?

A depreciação é perda de valor de um bem. Sendo assim, ela não tem efeito caixa, mas tem efeito contábil (DRE/BP). Ou seja, no Balanço é preciso atualizar valores do bem para que as contas fechem. A depreciação é calculada até a perda ou inutilização de valor do bem utilizável. Sendo assim, o ativo imobilizado altera no Balanço, mesmo sem alterar caixa, ou seja, vai alterar Patrimônio.

E não esqueça que impacta tributação também.

  1. Como ocorre o impacto do câmbio na apuração dos resultados?

No regime de competência, a variação cambial é reconhecida a cada período, independentemente da liquidação da operação. Logo,se ocorrer no período uma variação cambial de despesa ou de receita, no mesmo período, irá reduzir ou aumentar o lucro da empresa e majoração do tributo devido.

No regime de caixa, altera quando ocorrer liquidação da operação, e então será reconhecido o ganho ou a perda cambial.

  1. Diferença entre analisar o Fluxo de Caixa e Capital de Giro (necessidade)

Para esclarecer: o caixa é uma gestão de fluxos (entradas e saídas), o capital de giro é a diferença entre os fluxos, ou seja, são variáveis dependentes. Logo, qualquer decisão em relação ao capital de giro passa necessariamente pela estratégia do negócio.

Capital de Giro é uma variável que depende do tipo de negócio/modelo/sazonalidade, etc. Então a necessidade depende diretamente das medidas de gerenciamento, e o fluxo é o controle das entradas e saídas; os saldos são operacionais, mas podem ser consequência da receita financeira também.

Exemplo: ao aumentar produção, tenho que adquirir mais insumos/MP e aumentar MO; logo, preciso investir, digamos que seja porque o mercado está aquecendo (caso das sistemistas automobilísticas que geralmente antecipam o ciclo para ter produto em estoque). Para que isso ocorra, é preciso dinheiro, um dinheiro que ainda não foi recebido, afinal, não vendemos produto ainda, então vamos fazer isso com que capital? Aqui geralmente existe a necessidade de capital de giro, e não esqueçam que é muito mais barato para a empresa investir com recursos de terceiros do que próprios, ou seja, os fluxos de entrada e saída e o capital de giro são variáveis correlacionadas que fazem parte da estratégia corporativa. Então observe-a de perto e entenda se a empresa está consciente dos riscos que assume.

Informações importantes:

1- Empresa sempre repassa os custos, eles estão no valor do produto. Quando ocorre o aumento do preço dos insumos usados, o custo fica maior em toda a cadeia. Se a empresa não repassar isso ao cliente, a receita continuará a mesma e obviamente a margem vai reduzir.

2- O custo do produto vendido precisa ser analisado em duas frentes (insumos e força direta e indireta), tudo que vai compor o preço dos produtos + impostos, que também são pagos pelos clientes, repassados no preço do produto.

3- Margem operacional é a eficiência da operação do processo que gera valor. Então tudo o que for referente ao processo principal entra na conta (isso é fundamental para indústria).

4- A relação entre a diminuição ou aumento da margem pode ocorrer quando alguns fatores não estão devidamente ajustados/pleno funcionamento. Isso causa uma ruptura no cálculo.

5- Quando uma indústria aumenta um processo, produz mais e tem mais custos, nesse processo ela chega a uma margem bruta. Esse resultado vai ser ajustado por fatores indiretos e diretos, e se for um produto novo, vai precisar de mais demanda comercial; se for de implantação, mais demanda administrativa, e assim por diante. No varejo, a lógica da margem é proporcional à capacidade de manter custo de estoque mais baixo.Exemplo: quando uma empresa reduz o CPV só porque vendeu menos, mas ainda assim aumenta despesas e justifica que houve diluição do custo fixo para aumentar margem, ocorre aassimetria da relação receita/custo, e isso significa menor eficiência no processo, ou seja, menor geração de valor

Até a próxima semana! Um abraço.

 

Patrícia Rossari.

Gestão & Logística.

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